sexta-feira, 26 abril , 2024
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MITOS E CONCEPÇÕES DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

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Prof. Dra. Luciana Flor Correa Felipe

Cada vez mais e, principalmente no século XX, a ciência incorporou-se ao funcionamento cotidiano e a cultura científica passou a dominar a matriz simbólica da sociedade. Assim como a tecnologia. No último dia 8 de julho, comemoramos o dia da Ciência e do Pesquisador e, por isso, consideramos oportuno discorrer sobre esse assunto; por vezes tão permeado de mitos de ilusões.

Inegavelmente, vivemos dias de intensa interferência de inovações científico-tecnológicas no contexto social. As relações humanas são fortemente (re)significadas pela influência desses aparatos e nosso cotidiano é totalmente permeado por eles. Nosso futuro se apresenta como fruto daquilo que a C&T nos oferece. E devemos reconhecer que a vida humana, tal qual admitimos, dificilmente poderia ser imaginada sem considerar a presença e o significado social da C&T.

Mas, normalmente, a primeira dificuldade enfrentada por quem se propõe a discutir ciência e tecnologia, é a exata compreensão dos conceitos e trajetórias destes termos, muitas vezes banalizados e utilizados na perspectiva do senso comum.

A palavra ciência, por exemplo, é empregada com vários sentidos, alguns mais completos outros mais restritos, provocando sérios enganos mesmo em pessoas diretamente ligadas ao seu uso, geração ou política. Talvez isso se dê porque o perfeito conhecimento da problemática científica e tecnológica não faz parte da cultura da maioria da nossa população.

Neste sentido, a concepção mais popular de ciência, diz respeito a conhecimento provado, que não reflete opiniões ou preferências pessoais e suposições especulativas. Ainda nesta lógica, a ciência é vista como totalmente objetiva e confiável, um empreendimento autônomo, neutro e baseado na aplicação de um código de racionalidade alheio a qualquer interferência externa.

Não é nosso propósito desqualificar a ciência ou a atividade científica, muito pelo contrário, queremos apenas mostrar o quão humana ela é, haja vista que a própria história da ciência mostra que numerosas ideias científicas surgiram por causas vinculadas à inspiração e aos condicionamentos socioeconômicos de uma sociedade.

Sob essa lógica é possível entender que a Ciência não está alheia a sociedade e, nem “trancafiada” em laboratórios ou nas mentes dos cientistas e pesquisadores. Ela está a serviço da sociedade e por isso, deve estar sintonizada com a dimensão humana e social.

A tecnologia é outro tema que merece nossa atenção conceitual, já que sua definição é especialmente difícil, por ser indissociável da própria definição do ser humano. Hoje, no senso comum, o termo tecnologia normalmente é empregado como um sinônimo para artefato, representando algo concreto; em especial quando se está diante de novidades, de complexidade não compreendida, de algo que remeta a científico. Ou ainda como um conhecimento que nos permite controlar e modificar o mundo.

Comumente a principal diferença atribuída entre tecnologia e técnica refere-se ao fato de que, na primeira há aplicação de conhecimentos científicos na produção do bem ou artefato, enquanto na segunda não. E, essa disseminação da indissociabilidade da tecnologia e do conhecimento científico, tem gerado uma confusão comum que é reduzir a tecnologia à dimensão de ciência aplicada.

Outra leitura corriqueira da tecnologia é julgá-la impessoal, desumana e porque não dizer, fora de controle. Ou ainda, dar-lhe uma conotação de neutralidade, propriedade que ela também não sustenta; afinal, a tecnologia está associada a contextos sócio-políticos, valores e ideologias da cultura em que se insere. Portanto, o melhor conceito está atrelado a artefato técnico, “entendido no seu modo mais amplo, como construção humana”.

Neste sentido, é importante desmistificar a ciência e a tecnologia, situando-as no contexto social em que se desenvolvem, mostrando que elas são influenciadas e influenciam os valores, interesses e impactos sociais, o que faz delas atividades humanas.

Assim, cabe ao cientista e ao pesquisador, conhecer, discutir e ponderar sobre as implicações que tem o desenvolvimento científico e tecnológico na vida em sociedade; mas cabe também ao engenheiro, ao advogado, ao médico, ao professor, a dona de casa, enfim, ao cidadão comum fazer essas reflexões. E para isso, é necessário interesse, proatividade, participação. Busca por fontes confiáveis e avaliação, principalmente sobre a informação fácil, rápida, fluida e anônima (muitas vezes falsa) divulgada sobretudo nas redes sociais.

Palmas à Ciência e aos Pesquisadores e um Viva à sociedade consciente e comprometida com o seu futuro e com o futuro científico e tecnológico do país!

 

Você sabia?

Unisul está entre as 38 universidades brasileiras que tiveram seus projetos aprovados pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -, em edital emergencial do COVID – 19, de combate a surtos, endemias e pandemias. A Unisul foi a única universidade comunitária contemplada. Os projetos são sobre fármacos e imunologia de diferentes universidades brasileiras e ao todo serão 482 pesquisadores no Brasil e no exterior. Na Unisul, quem está coordenando o projeto é a professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Anna Paula Piovezan, juntamente com os professores Jefferson Traebert, Eliane Traebert e a Pós-Doutoranda Verônica Horewicz.

 

Fique atento!

A Unisul, em parceria com o PRAVALER, a maior fintech de soluções financeiras para a educação, irá promover o ‘Ressignificando Carreiras’, no dia 17 de julho, a partir das 15 horas, por meio do site: www.ressignificandocarreiras.com.br. O evento, 100% digital e gratuito, tem como objetivo mostrar o atual cenário, sem perder a visão do futuro, traçando um panorama de como os impactos causados pela crise influenciarão os próximos anos, além de ajudar candidatos a se prepararem para esta nova era.

A EXPERIÊNCIA DE ENSINAR UM ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO CURSO DE CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO – UNISUL

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Prof. Dr. Clavison Martinelli Zapelini
clavison.zapelini@unisul.br

Vivemos em um tempo caracterizado por uma imensa produção de informações e, principalmente por uma superabundância de imagens; sendo inclusive, uma tarefa difícil selecionar aquilo que queremos ou devemos ver. Mais do que pela grande variedade de opções isso acontece porque, enxergar é ver com profundidade; é abrir-se à contemplação, dando vazão ao que está oculto, é ir além do que os olhos físicos podem ver.

Essa não é uma tarefa fácil quando dispomos do sentido da visão, e pode parecer impossível para quem possui deficiência visual, mas a experiência que relatarei na sequência mostra, o quanto a inclusão e a acessibilidade de pessoas com deficiência pode revelar talentos e confirmar que acreditar no potencial das pessoas é um requisito fundamental para qualquer docente.

A Unidade de Aprendizagem de Processamento Digital de Imagens, no Curso de Ciência da Computação, utiliza determinados filtros com o objetivo de preparar uma imagem para ser processada por sistemas computacionais. No planejamento das aulas, já sabendo que eu teria um aluno com deficiência visual na turma e, mesmo já conhecendo o Ruhan de outras Unidades de Aprendizagem e sabendo do potencial que ele tem, a preocupação foi inevitável.

Como ensinar Processamento Digital de Imagens para um aluno que não conseguirá enxergar os resultados? Em outras Unidades de Aprendizagem diversas adaptações foram planejadas e executadas para facilitar a aprendizagem dos conteúdos pelo Ruhan, mas numa UA extremamente visual, como seria?

No primeiro dia de aula (ainda presencial – antes da pandemia) me sentei com o Ruhan e fizemos um planejamento. O desafio seria ele “enxergar” a imagem da mesma forma que o computador enxerga, ou seja, uma sequência gigantesca de bits (0 e 1). Quando eu propus esse desafio, confesso que nem eu mesmo acreditava que seria possível. Com o decorrer do tempo ele foi me ensinado a ensiná-lo.

Ser colaborativo, é uma característica muito presente nele. O conteúdo foi se desenvolvendo de tal forma que o trabalho final da Unidade de Aprendizagem, que ele escolheu fazer sozinho mesmo com a possibilidade de ser em grupo, teve um dos maiores níveis de complexidade (também escolhido por ele) e um enorme índice de sucesso.

“Fazer processamento digital de imagens sem poder visualizar as imagens parecia um grande desafio, mas acreditava que o professor dessa disciplina, Clavison, conseguiria dar um jeito para passar os conceitos para mim. Com o andar da matéria e os estudos sobre a área, percebi que poderia inclusive desenvolver trabalhos satisfatoriamente usando as técnicas para processamento de imagens, como foi o caso de um projeto onde desenvolvi um programa que visa preparar as imagens para receber um OCR, podendo assim ajudar outras pessoas com deficiência visual, e porque não, me ajudar também. Muitas pessoas pensam que não dá de fazer muita coisa sendo pessoa com deficiência visual, mas eu acredito que esse é um pensamento totalmente equivocado, que não compreende como a maioria das atividades podem ser adaptadas. Além disso o que não é acessível agora, talvez poderá ser graças a tecnologia no futuro. Para ajudar as pessoas a entenderem isso criei um canal no youtube, https://www.youtube.com/eunaoviisso, onde mostro um pouco mais como é minha vida de pessoa cega”, Ruhan Gonçalves

Segundo a legislação brasileira, a acessibilidade é a “condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida” (Brasil, Decreto nº 5.296/2004).

Já a inclusão, está associada a integração de todas as pessoas, sem exceção, independentemente de cor, classe social e condições físicas e psicológicas. No âmbito escolar está relacionada mais comumente, à inclusão educacional de pessoas com deficiência. Contudo, para que esses direitos sejam plenamente assegurados – seja no ambiente escolar, familiar ou social – várias ações ainda são necessárias.

Ações que vão desde a regulamentação da legislação até o desenvolvimento e otimização de produtos, processos, ambientes, metodologias, etc. que favoreçam a inclusão e a acessibilidade. Na experiência relatada acima, podemos dizer que tanto o Ruhan como eu vivemos um processo de acessibilidade e inclusão. Eu aprendendo que não há limites na docência e o Ruhan mostrando todo o seu potencial.

 

Você sabia?

O curso de Ciência da Computação da Unisul desenvolve pesquisas em diversas áreas de conhecimento, envolvendo tecnologias das mais diversas: Inteligência Artificial, Processamento de Imagens, Desenvolvimento de Jogos entre tantas outras. Mais informações: http://www.unisul.br/presencial/graduacao/ciencia-da-computacao-tubarao/

 

Fique atento!

A Unisul possui uma equipe de profissionais prontos para fazer adaptações e inclusão do aluno com qualquer necessidade especial. Informe-se no Programa de Acessibilidade Unisul: http://www.unisul.br/wps/portal/home/meus-servicos/sou-aluno/programas-institucionais/programa-promocao-da-acessibilidade

LOVE IS IN THE AIR

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Professora Dra. Josiane Somariva Prophiro
Pesquisadora e docente do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde e Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Universidade do Sul de Santa Catarina.

 

Ah…o Amor! Opa! Vamos falar do amor entre os mosquitos.

Sabe aquele som que nos acorda na melhor hora de sono, aquele “zuumm”? Pois então, esse zunido é produzido pelo movimento das asas dos mosquitos durante o voo. E esse som é produzido tanto pelo mosquito fêmea, que está nos sobrevoando atraída pelo perfume humano (sim, mosquitos usam o olfato!) para saborear uma deliciosa refeição sanguínea cheia de nutrientes, quanto pelo mosquito macho que está à espera de uma possibilidade de acasalamento.

E esse “zuumm”, efeito do movimento das asas, também é um sinal de comunicação durante o namoro entre os mosquitos. Logo, a audição é essencial para o namoro deste importante animal capaz de transmitir patógenos (microrganismos que podem causar doenças). Os machos localizam as fêmeas através do reconhecimento do tom de voo e ambos os sexos se envolvem em comunicações acústicas no ar, que podem ocorrer em enxames contendo vários indivíduos.

Os tons são mais bem detectados pelas antenas do macho, que são mais plumosas que as da fêmea, possuem um órgão sensorial maior e são mais sensíveis à vibração. Mas a fêmea também ouve e responde aos tons de voo do macho e, ambos os sexos, durante o namoro, alteram seus tons de voo para uma frequência comum. Após isso, o par permanece junto em voo durante o acasalamento. E então, love is in the air!

Após o acasalamento a fêmea continuará nos sobrevoando atrás de sangue para a produção e desenvolvimento de seus ovos. Durante o sobrevoo a fêmea selecionará quem será o humano a ser picado! Sim, algumas pessoas são mais atrativas à picada das fêmeas de mosquitos. Diversos fatores contribuem para a atratividade diferencial, alguns exemplos são pessoas com maior produção de CO2 ou mulheres que estão gestantes.

Quer ficar protegido deste “zuumm” ou da picada e consequentemente possível transmissão de patógenos que causam doenças? Aproveite para escolher um bom produto repelente e fazer aquela limpeza que o quintal e/ou jardim estão precisando para retirar os possíveis criadouros de mosquito. Ah, e não se esqueça de lembrar o seu vizinho de fazer o mesmo, afinal de contas, mosquitos se deslocam por centenas de metros.

 

Você sabia?

Os mosquitos existem desde antes do surgimento dos seres humanos, e os mosquitos que evoluíram para se alimentar de sangue humano adaptaram seu incrível olfato para procurar e distinguir os seres humanos de outros animais.

 

Fique atento!

O Programa de Pós-Graduação em Ciência da Saúde está com inscrições abertas para mestrado e doutorado. Interessados acessar o link: http://www.unisul.br/presencial/mestrado/mestrado-em-ciencias-da-saude/ e http://www.unisul.br/presencial/doutorado/doutorado-em-ciencias-da-saude/.
O Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais está com inscrições abertas para mestrado. Interessados acessar o link: http://www.unisul.br/presencial/mestrado/mestrado-em-ciencias-ambientais/

A QUÍMICA EXPLICA TUDO

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Prof. Dr. Marcos Marcelino Mazzucco,
Coordenador dos cursos de Engenharia Química, Química bacharelado, Química licenciatura, Engenharia de Controle e Automação e Engenharia do Petróleo na Unisul

Quando estudei química pela primeira vez fiquei absolutamente fascinado com capacidade daquilo em explicar como as coisas aconteciam. Uma das primeiras frases foi: a água é composta por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio.

Depois vieram as explicações de átomos, moléculas, ligações e aquilo parecia que tinha tanto sentindo que, levou-me, na universidade, a cursar, química industrial e depois engenharia química. Em todas as coisas tentei inseri o olhar da química: na física dos elétrons, na biologia dos neurônios, na teoria dos sistemas, nos fundamentos da matemática das coisas e muito mais; enfim o universo é um mistério difícil de entender sem um pouco de particionamento. E quanto mais se aprende mais parece que falta aprender.

Em 2018 na Semana de formação empreendedora dos cursos de química da Unisul foi proposto um desafio em etapas e um das etapas foi denominada “O empreendedor desafiado; as necessidades são um desafio; a mente empreendedora motiva-se com uma oportunidade”. Para vencer esta etapa os acadêmicos dos cursos deveriam responder uma pergunta “A que pretensiosa lauda se clama a explicação da saudade?” Com base nesta questão, elaborei e intitulei:

 

A matéria do nada

Em tudo: reflexão, refração, difração, polarização;
Ecos em dissonância, o poder da ressonância;
Realidade ou ilusão, os sentidos por interferência;
Consonância no que se crê, fé e ficção;
Acreditar no que se toca, viver o intocável;
Fenômenos de tudo a entender;
Pensar, analisar, sonhar, o que viver?
Em toda a matéria, o incrível;
Tanto para conhecer e tanto mais desconhecido;
O nada era tanto que em si não se conteve;
Genialidade de um sonho, criatividade;
Da humanidade um orgulho enternecido;
Uma lauda pretensiosa que a tudo descreve;
Em qual quadra desta lauda está a explicação da saudade?
Ciência, Religião, o Nada em Tudo, codinome;
Encontra-me, explica-me, batiza-me.

 

Na entrega da etapa, num auditório da universidade, apresentei a seguinte resposta: “A humanidade, em toda sua história de produção de conhecimento, ainda não conseguiu, numa única página de papel, reunir tantas informações como na Tabela Periódica dos Elementos Químicos”. Para esta lauda pretensiosa, que a tudo descreve, não coube a explicação da saudade e de tantos outros sentimentos que tentamos explicar.

Toda esta introdução, é apenas para que eu apresente meu sentimento angustioso de tristeza, ao ver que, num momento tão delicado para humanidade, muitas pessoas encontram lugar, para propagar o ódio, matar, roubar nos governos, roubar de pessoas que estão recebendo ajuda do governo (que vem de todos nós), prestar um trabalho ruim para a sociedade (aumentando ainda mais as dificuldades e a dor de muitos). Algo tão opressor que traz dor para quem reflete sobre “por que na humanidade há isso?” Só há uma coisa que pode fazer contraponto a isso, o amor.

Nesta semana há dois dias para reforçar este sentimento: a celebração de Corpus Christi, que é parte do maior relato de amor de alguém pela humanidade, a história de Jesus Cristo, e o dia dos namorados. Pensar no amor produz mudanças: junte o amor que sintas por seus filhos, como tenho por minha filha Isabela, por sua companheira(o), como tenho por minha esposa e namorada Marina, por seus pais, seus irmãos, seus parentes, seus amigos, seus colegas e o amor fraternal necessário a todos e pense na humanidade que desejas, assim, encontrarás algumas explicações para o sentido de viver em sociedade, a “química” dos relacionamentos, afinal, a química explica quase tudo.

 

Você sabia?

A Tabela Periódica é, sem dúvida, a maior base de conhecimento que se conseguiu reunir numa única página de conhecimento na humanidade. Em 2019, o mundo celebrou 150 anos da Tabela Periódica dos Elementos Químicos, instituído pela Assembleia Geral da ONU e pela UNESCO: “A celebração é uma forma de reconhecer a tabela como uma das conquistas mais influentes da ciência moderna, que reflete a essência não apenas da química, mas também da física, biologia e outras áreas das ciências puras” (https://nacoesunidas.org/onu-comemora-ano-internacional-da-tabela-periodica-em-2019)

 

Fique atento!

A sensibilidade e a ciência, aliadas, nos tornam mais aptas a tomar decisões e a aprender em todos os contextos. Notícias entristecedoras, situações desmotivadoras e a crença de que podem nascer mudanças movem os empreendedores sociais. Podemos fazer parte destes movimentos, ao menos com apoio intelectual, afinal a força está em cada um de nós.

LIÇÕES DA PANDEMIA PARA OS NEGÓCIOS

Prof. Dra. Luciana Flor Correa Felipe

Não é recente a constatação de que a inserção de inovações tecnológicas na economia mundial tem sido determinante para o desenvolvimento e transformações econômicas e sociais. Não à toa, a Agenda 2030 entre os seus Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), recomenda: “fortalecer a pesquisa cientifica e melhorar as capacidades tecnológicas de setores industriais em todos os países”, para se atingir o desenvolvimento cada vez mais sustentável e sem prejuízo a qualidade de vida da população. Isto porque, a tecnologia é capaz de resolver problemas de produção, divulgação e comercialização, permitindo que o produto, serviço ou processo tenham aceitação comercial.

Outrossim, mundialmente, o conhecimento assume o papel de ativo intangível cada vez mais valorizado pois é o elo entre a ciência e o mercado. Consequentemente, numa era altamente competitiva como a que estamos vivendo, o fato de uma empresa desenvolver, adquirir e/ou utilizar inovações tecnológicas pode fazer toda a diferença.

No entanto, dados do Sebrae (2019), revelam que 52% dos empresários brasileiros, donos de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte admitiram que “necessitam de uma maior capacitação na área de controle e gestão financeira”, enquanto 47% afirmam que “precisam de qualificação na área de propaganda e marketing” e 44% enfrentam ainda dificuldade com a “gestão das redes sociais da empresa”. Percentual este que é igual ao de empresários que precisam de “treinamento para melhorar a qualidade de seus produtos ou serviços”. Além disso, “saber atender melhor o cliente” e “buscar orientação para a obtenção de crédito ou empréstimo” foi a carência apontada por 42% dos entrevistados.

Vejam… esses dados são de 2019, ou seja, antes da pandemia essas já eram carências evidenciadas pelos empresários. Mas claro, o sufoco e a pressão da estagnação as otimizaram sobremaneira. Agregada a isso, há ainda uma outra realidade fatídica: o despreparo do setor para a utilização das tecnologias como alternativa ao atendimento presencial e/ou diversificação de receitas; transformação digital e integração de serviços on line, ainda são grandes desafios, principalmente, para os micro e pequenos empresários.

Neste sentido, além de encontrar formas de atenuar os impactos decorrentes do momento extremamente delicado para a economia, empresários e empreendedores devem tirar lições da pandemia. Um bom planejamento e uma gestão voltada para o futuro, evitando surpresas em momentos financeiros difíceis nas empresas, são algumas delas. Mas reconhecer que a educação e a inovação não são “eventos” isolados, mas sim processos permanentes que devem ocorrer ao longo da vida e que, por isso merecem atenção e investimentos, talvez seja a maior lição.

 

Você sabia?

A Unisul obteve a segunda melhor nota entre os 250 projetos aprovados no edital PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), da Capes, e também se destacou entre os selecionados para a Residência Pedagógica e para a qualificação de professores da rede de ensino básica. A Unisul mantém a sua performance como uma das instituições que investem na formação e aprimoramento do corpo docente de escolas de educação básica.

 

Fique atento!

O projeto Conexões de Valor no Mundo em Transformação terá como tema da próxima live ‘De microempreendedor a empresário: transformando os desafios do covid-19 em oportunidades’ nesta quinta-feira, dia 04 de junho, das 18h às 19 horas, com transmissão pelo canal do You Tube. Para este debate foram convidados Diego Marconatto (professor na Unisinos e pesquisador na Orkestra-Basque Institute of Competitiveness) e Júlio César C. Burigo (diretor executivo da CREDISOL), com mediação de Fabrício da Silva Attanásio (Head de Desenvolvimento & Inovação na Unisul, professor de MBA) e Carolina Bithencourt Rubin (doutora em Ciências da Linguagem e professora da Unisul).

O APRENDIZADO POSSÍVEL COM UMA PANDEMIA

Rennan Medeiros
Coordenador do Curso de especialização em Patologia das Construção
Professor do Curso de Engenharia Civil e UNISUL

A cada 100 anos aproximadamente, a humanidade enfrenta problemas relacionados à saúde com proporções mundiais. Cada vez mais temos facilidade em estar em um país ou outro de forma ágil, seja por motivos profissionais ou pessoais. Esta facilidade de locomoção, logicamente, teve sua parcela de contribuição na situação atual do corona vírus, facilitando o espalhamento do vírus catalisado por fatores específicos da doença, como seu período de latência.

Isto levou as autoridades de gestão pública a tomarem medidas de isolamento social, o que pegou a população totalmente despreparada, levando cada um a buscar se adaptar à nova realidade. Os setores da sociedade e da indústria se adequaram como puderam. A construção não ficou de fora dessa adequação. Nas obras, por exemplo, cuidados com higiene sanitária que antes não eram necessários, passaram a ter tanta relevância quanto o uso de um cinto em trabalhos em altura.

Este gatilho para novas regras pode ser avaliado da seguinte perspectiva: coisas que antes considerávamos inexequíveis, por razão das mais variadas, hoje se tornaram atividades de rotina em pouco mais de dois meses e, ainda, de uma hora para outra. Isso mostra a capacidade que temos de nos adequar a novas realidades, habilidade que poderia, e escrevo aqui de forma provocativa, ser explorado de maneira mais intensa para boas ações, e não apenas para aquelas atividades de rotina que antes considerávamos impossíveis de serem executadas de outra forma.

Analisando a formação continuada dos profissionais da construção civil, pelo menos uma vez por mês temos cursos, palestras e seminários sobre os mais diversos temas relacionados à construção civil. Entretanto, uma parcela dos profissionais se queixa de não ter tempo de se deslocar até a cidade onde esses eventos ocorrem.

Neste período de quarentena, temos profissionais renomados do mercado adotando práticas, quase que diariamente, de realizar lives sobre os mais variados temas. Situações que antes ocorriam em cidades específicas, por motivos lógicos, não poderiam contar com a participação de todos os interessados.

Contudo, a obrigação de nos adequarmos à quarentena motivou esses profissionais a fazerem suas contribuições para incentivar a população a ficar em casa da forma que tinham condições, e com o que eles têm de melhor a compartilhar, seu conhecimento com os demais colegas do setor.

Essas atitudes devem levar o mercado a repensar a forma como a construção civil desenvolve suas práticas, uma vez que esses eventos digitais levaram conhecimentos aplicados em situações reais que certamente contribuirão para a atualização do setor.

Essa prática digital provou ser uma ferramenta pouco explorada, considerando o potencial extraordinário que possui para facilitar a difusão de conhecimento.

Tão importante quanto se adaptar a novas situações é a capacidade de prevê-las e estar preparados para elas. Portanto, o ideal não é esperar que ocorra uma nova pandemia para tomar atitudes que facilitam o trabalho de todos, que tornam a convivência mais segura – como as práticas sanitárias adotadas, ou mesmo para buscar meios de melhorar e aumentar o conhecimento dos profissionais de todas as categorias. Tais ações podem nos preparar para as mais diversas situações, seja no enfrentamento de uma doença altamente contagiosa, ou na prevenção de problemas.

Vamos acreditar que, quando tudo isso passar, possamos aprender com a situação, e dar continuidade às práticas adotadas de última hora como um caminho para adequação a novas regras de segurança nos setores da indústria, assim como a atualização dos profissionais do setor da construção e outros.

 

Você sabia?

O curso de Engenharia Civil da UNISUL prepara seus alunos para analisarem os problemas e proporem soluções para as mais diversas situações.

 

Fique atento!

Unisul Soluções é uma estratégia de negócios concebida pela Unisul, para solucionar demandas da sociedade, resolvendo problemas do setor privado, público e organizações sociais, desenvolvendo soluções inovadoras e escaláveis. Também oferecemos produtos customizados ao mercado, soluções simples ou complexas, disponibilizados por provedores de soluções da Universidade, laboratórios, centros de pesquisa e parceiros estratégicos.
Para saber mais, consulte: http://solucoes.unisul.br/

ADOLESCENTES, PANDEMIA E DISTANCIAMENTO SOCIAL: O QUE ELES TÊM A NOS DIZER?

Prof. Dra. Luciana Flor Correa Felipe
Rafaela de Figueiredo

Em tempos de pandemia, pessoas de todas as faixas etárias precisam estar atentas aos cuidados de higiene e proteção, bem como as regras de distanciamento social para controlar a covid-19. Se essa não é uma tarefa fácil para os adultos, imaginem para os que estão sob o efeito de um turbilhão hormonal e emocional próprio da faixa etária, ou seja, os adolescentes…

Além de todas as dúvidas e preocupações naturais da idade, eles tiveram que mudar bruscamente as formas de interação e sociabilidade com seus familiares, amigos, amores, professores… Com o fechamento das escolas e cancelamento dos eventos, os adolescentes passaram a não ter a possibilidade de participar de encontros presenciais, conversar pessoalmente com amigos, praticar esportes coletivos, assistir à aulas presenciais, entre outras atividades fundamentais para o seu desenvolvimento e bem-estar.

Mas será que o isolamento tem interferido nas amizades e relacionamentos dos adolescentes? Como tem sido para eles a experiência de estudar a partir da mediação de tecnologias? O que eles pensam sobre a covid-19: é real, uma invenção da TV ou uma estratégia de alguns grupos com interesses específicos? Bem, nada melhor fazer essas perguntas diretamente para uma adolescente. Nossa convidada é Rafaela de Figueiredo, de 15 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Dehon.

Segundo Rafaela, como toda mudança, “a pandemia inicialmente me deixou confusa, temerosa e sem saber o que vem pela frente. Mas com o tempo, percebi que mais do que nunca, o caminho que desejo trilhar depende de minhas próprias escolhas e força de vontade. Pois, mesmo nesta situação, os estudos devem continuar, afinal, essa pode ser a primeira de muitas outras transformações que vamos passar ao longo da vida e adaptar-nos as circunstâncias, por piores que sejam, é o melhor a se fazer”.

Quanto ao distanciamento dos amigos, Rafaela nos conta que perdeu um pouco o contato com colegas que antes via todos dias na sala de aula. Agora acaba conversando apenas com os mais próximos. Segundo ela, “as vídeo-chamadas, ajudam um pouco a matar a saudade, mas a falta de uma conversa “olho no olho”, percebendo e sentindo as emoções e expressões ao vivo, é imensa”.

Referente a reconstrução da rotina, Rafaela revela que é de fato desafiador. “É muito tenso ter que criar a nossa própria rotina, lidar com barulhos que nem sabíamos que existiam (há uma construção ao lado do prédio que moro e muito barulho durante o dia), quedas da internet… Apesar da oportunidade de ter material, equipamentos e espaço para meus estudos, vejo que o dia é menos produtivo, pois o cansaço de ficar o tempo todo nos mesmos ambientes, as vezes nos esgota e a procrastinação vem, naturalmente”.

Com relação a veracidade e gravidade da pandemia, a convidada afirma com ênfase que “é algo real. Nenhum país acreditava que ia passar por isso. Crer que é uma conspiração ou que há algum interesse específico, além de ser algo que beira a estupidez, não tem coerência nenhuma com os fatos da atualidade. Nenhum país está obtendo vantagem com essa pandemia”.

Quanto ao futuro a adolescente acredita que pode ser visto com “normalidade, uma nova normalidade, inclusive com a possibilidade de outras pandemias. Porém, não será uma situação totalmente nova e estaremos de alguma forma, mais preparados e aptos para enfrenta-la a partir dos erros e acertos do que estamos vivendo hoje”.

A jovem que está no 2º ano do Ensino Médio ainda revela que a pandemia só veio fortalecer sua admiração pelos profissionais da área da saúde, principalmente da Medicina. “Percebo cada vez mais, o quanto os médicos atualmente estão arriscando suas vidas e de seus familiares em prol da saúde de outras pessoas. É uma verdadeira entrega de amor à profissão”, finaliza.

Bom, para finalizar só nos resta manifestar imensa gratidão à Rafaela e a todos os adolescentes que como ela, acreditam no futuro e em dias melhores. Como temos dito reiteradamente “não podemos passar por tudo isso sem aprender nada”. Que cada um observe e busque os ensinamentos.

 

Você sabia?

A 6ª sessão on line do curso de Cinema da Unisul ocorre neste sábado, dia 16, às 20 horas, e irá exibir o filme Mulheres da Terra (2010), dirigido por Márcia Paraíso. O curso de Cinema da Unisul é o único do Brasil a realizar sessões de Cinema online com produções próprias. Os filmes ficam disponíveis até segunda-feira às 14h. Para acompanhar as sessões de Cinema da Unisul, acesse o canal do curso no Youtube.

 

Fique atento!

A Equipe de Desenvolvimento & Inovação, sob a liderança da Incubadora de Empresas (CRIE) e do Laboratório de Inovação e Empreendedorismo (iLAB) da Unisul, com a participação de estudantes, professores e parceiros externos, criaram o Projeto Conexões de Valor no Mundo em Transformação. Todas as quintas-feiras, das 18 às 19 horas, no canal do YouTube são discutidos temas relevantes que geram experiências transformadoras na vida das pessoas e das organizações.

TRADIÇÃO E INOVAÇÃO: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ON LINE EM TEMPOS DE PANDEMIA.

Prof. Me. Bruna Cataneo Zamparetti e Prof. Dr. Geovan Martins Guimaraes
Pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia – Grupep e Professores da Unisul.

O Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia (Grupep) da Unisul desenvolve há 20 anos pesquisas arqueológicas acerca das populações humanas pré-históricas e históricas, tendo como um dos seus princípios a difusão desse conhecimento através de ações educativas. O grupo desenvolve o projeto de extensão Patrimônio Arqueológico: conhecer para preservar que atende anualmente uma média de quatro mil estudantes de Tubarão e região.

Dentre as ações do projeto estão: visitas monitoradas ao laboratório de pesquisa em Arqueologia e aos sítios arqueológicos da região, oficinas pedagógicas, eventos educativos, formação de professores, produção de material didático, entre outras atividades. Todas as ações são previamente agendadas pelas instituições escolares e desenvolvidas de forma gratuita.

Contudo, diante das medidas de distanciamento social, essenciais para o combate a pandemia da Covid19, os atendimentos e eventos educativos presenciais foram suspensos, mas eles não acabaram não! Frente aos desafios atuais buscamos inovar em nossas ações educativas através do uso de plataformas de ensino-aprendizagem em ambientes virtuais. Nesses espaços o Grupep está desenvolvendo suas atividades de Educação Patrimonial junto a instituições de ensino que também estão lecionando remotamente.

A atividade é agendada previamente por instituições de ensino e tem como tema a Arqueologia e pré-história da região sul de Santa Catarina. O assunto é apresentado aos estudantes de forma a proporcionar um espaço de diálogo e construção do conhecimento com os mesmos, contando sempre com a moderação dos professores da disciplina, tendo duração entre 1h e 1h30min de aula.

Os conteúdos abordados são: Arqueologia; Populações pré-coloniais: caçadores-coletores, sambaquieiros, ceramistas Jê e ceramistas Guaranis; Populações indígenas contemporâneas em Santa Catarina.

O uso de tecnologias para o ensino à distância nos permitiu dar continuidade em nossas ações, um trabalho relevante de educação para com o patrimônio arqueológico regional, consequentemente, ainda nos trouxe uma vantagem, possibilitou-nos atender um número maior de estudantes simultaneamente.

Um professor participante fica responsável por registrar os questionamentos que são feitos pelos estudantes, embora ocorra também perguntas, de forma organiza, que são feitas no processo de fala do pesquisador. Outra contribuição é a presença de mais arqueólogos pesquisadores dialogando com os estudantes, elemento que na modalidade presencial não era tão recorrente por conflito de agendas.

A proposta de educação patrimonial a distancia do Grupep foi iniciada esta semana, na qual foram atendidas quatro turmas de instituições de ensino públicas e particulares de Tubarão e Laguna. As experiências nos demostraram que, neste contexto, mesmo que a distância, a atividade constituiu em um interessante espaço de diálogo, difusão e construção do conhecimento nesse momento que passamos, contribuindo ainda para dinamizar o processo de ensino-aprendizagem à distância.

 

Você sabia?

No sul de Santa Catarina foram registrados centenas de sítios arqueológicos, muitos desses são antigos, com datas anteriores ha 7 mil anos. Na parte litorânea os sítios registrados em maior quantidade são conhecidos como Sambaquis. Pensando no uso da tecnologia e a difusão do patrimônio arqueológico regional, pesquisadores do Grupo de Pesquisa Arqueologia Interativa e Simulações Eletrônicas – Arise da USP em parceria com o Grupep criaram o jogo eletrônico Sambaquis – Uma História Antes do Brasil, inspirado na paisagem da região e na pré-história dos grupos sambaquieiros. Para conhecer mais o jogo acesse: Sambaquis – Uma História Antes do Brasil no link http://www.arise.mae.usp.br/sambaquis/.

 

Fique atento!

A ação educativa por meio virtual, desenvolvida pelo Grupep e apresentada nessa matéria foi idealizada para grupos, principalmente de instituições de ensino. Para saber mais sobre a atividade e agendar um horário entre em contato pelo e-mail: epatrimonial.bra@gmail.com ou no nosso Instagram @grupep.arqueologia.

COVID-19 E A ARTE COMO CRIAÇÃO DE MUNDOS EM COMUM

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Prof. Ana Carolina Cernicchiaro
Doutora em Literatura, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem e do curso de Cinema e Audiovisual da Unisul, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Estética e Política na Contemporaneidade (Epoca).

“Poesia, uma coisa pra nada”, sentenciou o poeta Paulo Leminski. O filósofo Jacques Derrida foi menos incisivo, mas, por fim, concluiu que o poema “se deixa fazer, sem atividade, sem trabalho, no mais sóbrio pathos, estranho a toda produção”. Também Georges Bataille afirmava que “a literatura rechaça de maneira fundamental a utilidade”. Antes deles, no prefácio de O Retrato de Dorian Gray, o esteta Oscar Wilde ampliara a assertiva para além da escritura ao dizer que “toda a arte é absolutamente inútil”.

Em um mundo utilitarista, mercadológico, produtivista, essa gratuidade, esse dom, legou a arte à parte do fogo, ou seja, ela é “aquilo que uma cultura reduz à destruição e às cinzas, aquilo com o que ela não pode conviver, aquilo que ela faz um incêndio eterno”, diz Maurice Blanchot. O incêndio pode até ser eterno, mas quanto mais o Estado flerta com o fascismo, mais as chamas se avivam. Lembremos da famosa fogueira de livros promovida pelo Terceiro Reich ou, para não irmos muito longe, da muito recente onda obscurantista que tomou de assalto o Brasil e censurou artistas e exposições em nome da moral, da família e dos bons costumes. Nos últimos anos, vimos editais, investimentos, fundações, agências de fomento e o próprio Ministério da Cultura serem extintos – afinal, a arte não serve para nada mesmo.

Mas se ela não serve para nada, por que incomoda tanto? Talvez porque esteja justamente neste “não servir para nada” que se encontra sua potência, uma potência de não, segundo a expressão de Giorgio Agamben, que é o contrário da impotência. A potência de não da arte é um agenciamento social e político, ela age no mundo nos desviando de sua lógica da produtividade, da atividade, do lucro, colocando em questão nossas dicotomias classificatórias e mercadológicas, através das quais reduzimos ao útil tudo o que nos cerca, de coisas a pessoas, passando, é claro, pela natureza. Daí o xamã Yanomami Davi Kopenawa nos apelidar de “povo da mercadoria”, por nosso desejo desmedido por mercadorias a ponto de não enxergarmos nada além delas. “Seu pensamento se esfumaçou e foi invadido pela noite. Fechou-se para todas as outras coisas. Foi com essas palavras da mercadoria que os brancos se puseram a cortar todas as árvores, a maltratar a terra e a sujar os rios”, afirma ele.

A arte nos faz enxergar para além da mercadoria, resgata nossa sensibilidade, nos desvia do automatismo, nos faz perceber o mundo, experienciá-lo verdadeiramente. Em O tempo e o cão, a psicanalista Maria Rita Kehl conclui, a partir de Walter Benjamin, que o tempo mecanizado do capitalismo é sobrecarregado de impulsos. Esse tempo comprimido nos escapa, a vida passa em altíssima velocidade sem percebermos, a sensação de cansaço é constante (Byung-Chul Han nos chama de “sociedade do cansaço”), não há lugar para a fantasia, o devaneio, a imaginação. Essa série de vivências automáticas não produzem modificações duradoras no psiquismo, deixando uma sensação de vida vazia, não vivida, nos incapacitando de experienciar o que vivemos. Como diria Leon Tolstoi, “se toda a vida complexa de muita gente se desenrola inconscientemente, então é como se esta vida não tivesse sido”.

E é para libertar nossa percepção desse automatismo que existe arte, defende o formalista russo Vítor Chklóvski em um famoso texto de 1917, intitulado “A arte como procedimento”: “E eis que para devolver a sensação de vida, para sentir os objetos, para provar que pedra é pedra, existe o que se chama arte. O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objetos e o procedimento que consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O ato de percepção em arte é um fim em si mesmo”.

Assim, se a lógica da mercadoria busca transformar tudo em objeto padrão, que pode ser medido segundo um axioma comum – o dinheiro, inclusive outros seres vivos, humanos ou não, a arte faria o contrário, singularizaria tudo, inclusive as coisas, os acontecimentos de nossa vida, a linguagem, o pensamento, os afetos, aumentando nossa percepção deles (como a criança que se deslumbra com o mundo a todo instante).

Não sabemos ainda quais serão as consequências desse isolamento social a que fomos forçados para nos proteger do Covid-19, mas, queiramos ou não, para o bem ou para o mal, o mundo não será mais o mesmo. Fomos obrigados a desacelerar, a reduzir o passo, a consumir menos; e a arte saiu do seu lugar de coisa menor, ganhou status de serviço de utilidade pública diante do tédio, da solidão, do medo, do trauma. Podemos pensar essa conjunção entre a necessidade do isolamento e a revalorização da arte como uma espécie de linha de fuga de nossa temporalidade acelerada, sufocante, de nosso automatismo vazio, de nossa insensibilidade mercadológica, uma possibilidade de criação de mundos comuns, ali onde os corpos não podem se tocar, não a falsa universalidade do como-um fascista (que reduz a alteridade à mesmidade, o outro ao eu), mas a criação de mundos com-uns, onde os seres se percebem como seres-uns-com-os-outros, singularmente plurais, segundo a bela expressão de Jean-Luc Nancy. Uma abertura ao outro, ao mundo, ao mundo do outro, a outros mundos possíveis.

 

Você sabia?

Pesquisadores de Santa Catarina poderão participar do Edital de Chamada Pública lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), com o objetivo de incentivar estudos sobre o coronavírus de impacto imediato sendo na área da saúde ou de retomada econômica. Serão R$ 500 mil destinados ao apoio das propostas selecionadas e a submissão precisa ser realizada até 5 de maio no site www.fapesc.sc.gov.br.

 

Fique atento!

O curso de Cinema e Audiovisual da Unisul, exibe sessões de filmes todas os sábados às 20 h. Para assistir basta clicar em https://www.youtube.com/user/CinemaUnisul. As produções ficam disponíveis até segunda-feira, às 14h.

Sobre ciência, coronavírus e tudo que a situação pode nos ensinar

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Rafael Mariano de Bitencourt,
Neurocientista, Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – PPGCS – UNISUL

Uma nota a você que começa a leitura agora: neste texto vou escrever em primeira pessoa, pois se trata de uma visão pessoal e, é claro, como toda visão pessoal, está embasada em minhas percepções de vida. Contudo, é importante salientar que as minhas percepções de vida incluem uma visão cientifica, de alguém que trabalha com ciência há 15 anos, portanto, não se trata de uma visão leiga. E, o mais importante, não é por ser uma visão pessoal que ela não possa ter utilidade na vida de outras pessoas, na sua vida quem sabe. Pois, como costumo dizer, os versos de um poeta estão sempre prontos para se encaixarem na poesia da vida daqueles que, de coração aberto, os leem.

O momento que vivemos é delicado, único na nossa história recente e, portanto, requer muito cuidado, muito mesmo! Há quem subestime a situação, há quem se aproveite dela, mas não há uma única pessoa nesse mundo que não vá aprender com ela. De alguma forma, reclusos em nossas casas, todos e todas estamos forçados a algum tipo de aprendizado. E é justamente esse fato que tem sido a luz no fim do meu túnel. Não sairemos os mesmos desta experiência… e que bom(!), pois estávamos mesmo precisando de algumas mudanças.

Vivemos em uma época que, para mim, em muitos aspectos, beira o inacreditável. Em pleno século XXI, voltamos a viver situações que eu conhecia apenas nos livros de história, as quais achei que não teriam a mínima chance de se repetir novamente em nossa sociedade. Nesse ponto já começa parte do meu aprendizado, que é não subestimar a capacidade de surpresas que o universo constantemente nos oferece, tampouco subestimar a ignorância humana. Há, hoje, um movimento de negação da ciência que é extremamente perigoso. Esse movimento nega descobertas científicas bastante relevantes, como, por exemplo, a importância das vacinas para a nossa saúde, o problema cada vez mais real do aquecimento global e até mesmo a forma esférica do nosso planeta. Esse último questionamento, por exemplo, não me parece muito absurdo quando feito lá na idade média. Mas hoje, no ano de 2020, mais de quinhentos anos depois da expedição de Fernão Magalhães comprovar que a terra era redonda, aí sim me assusta bastante. Assim como me assusta, também, que as pessoas ainda subestimem e não acreditem na gravidade do momento pelo qual estamos passando. É muito importante que essa situação nos ensine, de uma vez por todas, que fatos científicos não são questão de opinião. Eu achar a cor azul bonita e você não, isso sim é uma questão de opinião. Já a importância das vacinas, a realidade do aquecimento global, a esfericidade da terra e a realidade a respeito da pandemia que vivemos hoje, isso não é uma questão de opinião, são fatos científicos e há uma diferença enorme entre uma coisa e outra.

Outra coisa que espero que aprendamos com essa situação toda é sobre a importância da pesquisa científica, e das instituições que a fazem (ex.: universidades), na nossa sociedade. Todas as medidas com alguma eficácia que estão sendo tomadas hoje e todas as possíveis soluções futuras para este grande problema são, via de regra, aguardadas das ações de cientistas que vêm trabalhando incessantemente ao redor do mundo e aqui mesmo, no Brasil. É importante que se saiba que esses cientistas são, em sua grande maioria, alunos de iniciação científica, de mestrado e doutorado, professores e pesquisadores de universidades públicas e privadas. Que possamos aprender com este vírus que o investimento nessa área não é questão de ideologia, e sim de sobrevivência. Os cientistas, hoje, assim como os profissionais da coleta de lixo, da saúde, da segurança, do transporte de cargas e tantos outros, são eles quem têm exercido papel de verdadeiros heróis nessa guerra que travamos contra um inimigo invisível. Valorize-os!

Que possamos aprender ainda, dessa vez reclusos em nós mesmos, qual o verdadeiro sentido da nossa existência, o que faz nossos corações pulsarem e que, de forma mais consciente e sensibilizada, possamos estar mais imunes, não só ao vírus, mas àquela forma automática e sem sentido que, muitas vezes, levamos nossas vidas. Que possamos lembrar do valor de um abraço sincero e demorado muito mais do que do valor do dólar; do calor que sentimos em nossos corações em uma conversa olho no olho, presente, muito mais do que as tecladas frias que damos em nossos smartphones. Que possamos lidar melhor com nossos medos e valorizar mais nossa saúde mental, que é o lugar em nós mesmos onde, de fato, vivemos. Que possamos aprender, por fim, aquilo que o dia a dia nas ruas de nossas rotinas nos fez esquecer e, assim, possamos voltar às nossas casas, mas, desta vez, com um olhar diferente. Eu tenho aprendido tudo isso e um bocado mais nesse período de reclusão, medos e turbulências. E, como comentado lá no início do texto, é justamente esta a minha luz no fim do túnel, a esperança de que mais pessoas estejam aprendendo o que é preciso ser aprendido. Vamos sair dessa situação, não tenho dúvidas, mas espero que os aprendizados dela nunca saiam das nossas vidas. Ah! E já estava esquecendo: por hora, aprendam a ficar em casa, por favor!

Você sabia?

Um estudo conduzido por pesquisadores do Reino Unido, EUA e Austrália, sugere que o novo coronavírus tenha surgido a partir de seleção natural, possivelmente vindo de algum animal selvagem, como o morcego. Esse estudo, publicado na renomada revista científica Nature Medicine (2020), descarta completamente que o novo vírus tenha sido criado em laboratório, como insistem em acreditar alguns adeptos de teorias conspiratórias que beiram um delírio psicótico (tudo que a gente não precisa neste momento). O mercado de animais selvagens como o de Wuhan, cidade chinesa berço do novo coronavírus, surgiu a partir de uma necessidade de pequenos produtores que não tinham como competir com as grandes empresas produtoras de alimentos. Com a regularização da prática, a criação de animais selvagens em cativeiro aumentou exponencialmente e hoje atende ao “paladar exótico” (e também irresponsável) de uma minoria de pessoas com alto poder aquisitivo. A transmissão do vírus entre o morcego e o ser humano, por vias naturais, seria muito pouco provável. A ciência achará uma solução para a pandemia do novo coronavírus, não há dúvidas. Contudo, infelizmente, não há a mesma garantia em relação à ignorância humana.

Fique atento!

Os Programas de Pós-Graduação da UNISUL, responsáveis por boa parte das pesquisas desenvolvidas nesta Universidade, estão frequentemente com editais abertos para seleção de alunos (pesquisadores) em ambos os níveis, mestrado e doutorado. Há possibilidade de pesquisas nas áreas de Ciências da Saúde, Ambientais e Linguagem, além de Administração e Educação. Entre no site da Unisul (www.unisul.br), no link “Mestrado e Doutorado”, e confira as possibilidades. Seja você também um cientista e contribua com a pesquisa em nosso país.

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