Série Drogas: Incidência ontem, hoje e amanhã

Liliane Dias
Tubarão

 

Falar em drogas pode não ser novidade, mas dependendo da abordagem várias dúvidas podem surgir. Por este motivo, a equipe do Portal Notisul apresenta uma série de reportagens sobre o assunto. Seja para ajudar a identificar um usuário, – ou adicto, como é conhecido entre os profissionais, que atuam nesta área – , para saber como ajudar um amigo ou apenas por curiosidade.

Nos próximos meses você acompanhará conosco várias matérias sobre o tema e se tiver alguma dúvida, poderá entrar em contato por meio de nossas redes sociais ou por telefone, quem sabe sua dúvida não vira notícia!

Desde que o ‘mundo é mundo’, as drogas fazem parte da vida do homem. Ele sempre procurou recursos para o alívio. Com a revolução industrial, iniciaram os primeiros casos registrados de alcoolismo provenientes da longa jornada de trabalho e problemas de relacionamento.

O psicólogo Marcelo Ghizzo explica que nas épocas mais antigas utilizava-se a orientação de um ‘guru ou líder religioso’, ambos eram mais velho e experientes, que tinham como objetivo ajudar os mais jovens no autoconhecimento. Posterior a isso, a tentativa da ciência em utilizar medicamentos. “Antigamente as drogas eram vendidas em farmácias como balas de opio para dor de dentes em crianças, coca cola – estes itens tinham cocaína em sua composição. Porém, não se tinha conhecimento das consequências”, detalha.

Engana-se quem acredita que as drogas dos anos 80 estão ‘fora de moda’, a busca dos usuários tem mais a ver com perfil para consumo do que por ‘novidades’. Falando em características, pode-se dizer que as psicotrópicas alteram o humor e o ânimo. Entre os exemplos mais comuns de drogas lícitas são cigarros, álcool e medicamentos controlados e prescritos com orientação médica.

Para o administrador e responsável técnico da Comunidade Terapêutica Renascer Yury Sidney Mendes, pelo que observa estando em contato diário com dependentes, as drogas mais procuradas ainda são o álcool, a maconha, a cocaína e o crack. “O crack se alastrou na década de 1980 e fez o grande ‘bum’ na questão da dependência química, hoje a maior busca por recuperação em comunidades terapêuticas é em função do crack”, afirma.

“Nos anos 80 o que prevaleceu foram as drogas injetáveis devido à sua rápida absorção. Na época também havia o movimento da cultura que além disso ditou o movimento das drogas. Hoje em dia, o adicto quem dita o ritmo das drogas. Como uma das características do adicto é o imediatismo, as drogas que mais se destacam são as que proporcionam o prazer imediato mais rápido e buscando maior potência das drogas como as disponíveis na sociedade de hoje”, pontua Ghizzo.

O psicólogo acrescenta que as drogas se diferenciam nos tipos e na absorção. “Quanto mais rápida a via de absorção maior o efeito da droga e maior a dependência. Como exemplos das sedativas podemos citar o álcool e maconha; estimulantes: cocaína e ectasy; já alucinantes encontramos LSD”, detalha. Já as sintéticas vem ao encontro dessa busca, com efeito mais rápido e atendendo ao público jovem de hoje com a cultura e política de hoje. “Então quanto mais imediatista a sociedade mais rápida tem que ser a absorção da droga”, alega.

Yury explica que existe um grupo mais elitizado que é o da cocaína. Com relação a busca, a mais usada é o álcool, uma constante desde o ingresso nessa vida. “Das pessoas que buscam ajuda na comunidade terapêutica, 80% são em função do crack e apenas 20% se divide entre o álcool e a cocaína”. Porém, a maconha e o álcool são as portas de acesso às demais. “A maconha não é mais originalmente uma droga natural, já é uma droga sintética. Hoje estão inclusive, diluindo o crack na própria maconha para que o indivíduo se torne mais rapidamente um dependente”, alerta.

Atualmente, não há uma idade média em que as pessoas iniciam o vício. O responsável técnico relata que por volta dos 14 anos, os jovens iniciam uma caminhada sem volta, que pode se estender até uma média de 50 anos, principalmente porque alguns demoram mais para pedir ajuda.

Vale ressaltar que não é apenas para o alívio que um indivíduo busca as drogas, muitas vezes é influenciado por amigos e/ou grupos. Na sequência da série, você acompanhará formas de reabilitação, seja por grupos de apoio ou instituições, a importância da família nesse processo e do cuidado constante. Além disso, os adictos apresentam comportamentos diferenciados, mas estes já são temas para as próximas reportagens.

 

* Marcelo Ghizzo é psicólogo, terapeuta naturista (acupuntura), com experiência no tratamento de dependentes químicos e em comunidade terapêutica. Atuou no CAPSAD e hoje atua no NASF.

 

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