Você sabia que um vírus pode causar obesidade?

Esta semana teremos na coluna uma matéria surpreendente que, como não poderia deixar de ser, confirma o quanto a pesquisa e a busca pela inovação, pode contribuir para o progresso da ciência e do bem-estar da sociedade. 

A autoria é da Professora Doutora Fabiana Schuelter Trevisol, a qual vamos conhecer um pouquinho agora. Com seu sorriso fácil e doce, a mulher determinada e, indubitavelmente curiosa, nos revela pontos de sua trajetória profissional e pessoal. “Sou egressa da 1ª Turma de Farmácia e Bioquímica da UNISUL. 

Além de fazer minha especialização em Farmácia Clínica e Farmacoterapia e o Mestrado em Saúde Coletiva na Instituição, também sou colaboradora desde o ano 2000. Foi justamente na graduação que conheci meu esposo, Daisson José Trevisol, com o qual tenho duas filhas: Beatriz e Letícia. Foi a partir do Mestrado que descobri a vocação para a carreira acadêmica, principalmente na área de pesquisa. 

O Doutorado foi concluído na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2010. E no ano seguinte fui aprovada no processo seletivo docente para o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UNISUL, onde atualmente estou como coordenadora adjunta. Atuo, também, como professora dos Cursos de Medicina e Enfermagem. 

Há 10 anos, montamos, Daisson e eu, o Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital Nossa Senhora da Conceição/UNISUL, ligado à Rede Nacional de Pesquisa Clínica do Ministério da Saúde. Na nova gestão do hospital, nossas funções foram ampliadas para além da pesquisa, sendo também responsável pela parte de ensino e estágios. A vida profissional me ocupa bastante, pois o professor/pesquisador também leva muito trabalho para casa. Mas procuro balancear a vida profissional e pessoal, pois como profissional de saúde, sabemos a importância do tempo para a família, o lazer, a prática de atividade física e, até mesmo, o descanso. Quando não estou me dedicando ao trabalho, gosto de viajar, cozinhar, assistir séries e filmes, sair com os amigos e ler um bom livro”. 

VOCÊ SABIA QUE UM VÍRUS PODE CAUSAR OBESIDADE?

Professora Fabiana Schuelter Trevisol
E-mail: fabiana.trevisol@unisul.br

Desde 1980, a obesidade tem aumentado significativamente, sendo considerada como a epidemia do novo milênio, afetando diferentes estratos populacionais. Hoje a obesidade mata mais pessoas que a desnutrição. Apesar de se saber que, em geral, a obesidade está relacionada a um desequilíbrio entre a ingestão excessiva de alimentos e o baixo gasto energético (sedentarismo), ela é uma doença complexa e multifatorial, podendo ser explicada também por pré-disposição genética, processos inflamatórios, meio ambiente, e até mesmo, infecções virais.

Considerando as mudanças dietéticas e de estilo de vida dos seres humanos nas últimas décadas, há um consumo excessivo de alimentos ultra processados e pouca adesão à prática de exercícios físicos de intensidade e em quantidade suficiente. Mesmo assim, cientistas evidenciaram que até animais silvestres têm apresentado maior ganho de peso com o passar dos anos.

Por esse motivo, estudos iniciados em 1990 demonstraram que alguns vírus causam a obesidade e a adiposidade em diversas espécies animais, como em ratos, camundongos, frangos, símios e hamsters. Baseado nesta hipótese, pesquisadores americanos, em colaboração com cientistas de outros países, verificaram que o adenovírus 36 humano (Adv36) estava relacionado à obesidade em seres humanos. Diversos estudos foram feitos nos Estados Unidos, Coreia do Sul, Suécia, República Tcheca, Itália, Eslováquia, Turquia, México, entre outros, tanto com adultos, quanto com crianças. A maioria encontrou a presença do Adv36, sendo mais frequente em indivíduos obesos do que não obesos, mostrando uma possível relação causal.

O Adv36, assim como outros adenovírus, é transmitido de pessoa a pessoa e costuma causar conjuntivite e infecção intestinal. Contudo, ele pode modificar as células de gordura do corpo (adipócitos), fazendo com que acumulem mais gordura e, consequentemente, causando excesso de peso ou obesidade nas pessoas afetadas. A forma como o Adv36 provoca obesidade se dá pelo aumento da ingestão alimentar (pois suprime os hormônios da saciedade), acúmulo de lipídios no interior das células de gordura, inflamação e maior captação da glicose sanguínea.

Em 2015, iniciamos uma parceria com Dr. Richard Atkinson e Dr. Nikhil Dhurandhar e realizamos testes em três diferentes amostras de pessoas que vivem em Tubarão: crianças de 9 a 12 anos de idade, pessoas que vivem com HIV e adultos hospitalizados para realização de cirurgia. Com exceção do último grupo, houve associação entre excesso de peso e infecção pelo Adv36 nas pessoas investigadas. Esses são os primeiros estudos realizados no Brasil, o segundo da América Latina, e originaram duas teses de Doutorado de Ana Carolina Lobor Cancelier e Helena Caetano Gonçalves e Silva, e uma dissertação de Mestrado de Jaime Fernandes, alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unisul.

Foram coletadas amostras de sangue e biópsia de tecido adiposo para se identificar a presença de anticorpos contra o Adv36 ou do próprio vírus. Essas amostras foram enviadas aos Estados Unidos, pois somente lá eles possuem os kits para realizar o diagnóstico.

Assim, concluímos que a infecção pelo Adv36 pode ocasionar obesidade ou excesso de peso nas pessoas acometidas. Não existe até o momento um tratamento adequado para este problema, mas recomenda-se dieta equilibrada e prática de atividade física para toda a população, pois são medidas preventivas contra outras doenças. Ressalta-se que há estudos iniciais que visam o desenvolvimento de vacinas contra os adenovírus, especialmente o subtipo 36.

Outro ponto que merece destaque é o desenvolvimento de projetos de pesquisa em rede, em parceria com outros pesquisadores do Brasil e do mundo, procurando resolver os problemas de saúde que impactam nosso dia a dia, em prol da qualidade de vida da população.

Você sabia?

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