O povo poderia, mas não vai renovar os políticos

Declara-se desejo de renovação no mundo político. É possível; não é provável. A “política” não se vai renovar por mote próprio. Desejo significar: nenhum político instalado no poder renunciará à condição em que se encontra.

Um político com mandato, regra geral, detém parcela significativa de controle sobre a “máquina” partidária, e fora dessas instituições burocráticas nem mesmo há condições legais para que o “novo” político pleiteie votos e eleição.

Partidos políticos são ferramentas jurídico-políticas de mediação entre a Sociedade e o Estado, estando presentes em todas as democracias contemporâneas, apesar das insuficiências crescentes dessas instituições para gerir esses vínculos.

Não apreciamos, nem os Partidos, nem os políticos. Não obstante, “Brasileiro desconfia de políticos, mas vê eleição como saída para crise – Descrédito do eleitor brasileiro abre espaço para renovação, diz pesquisa da FGV-DAAP”.

Edito a matéria: “Considerando o pleito de 2018, têm intenção de apoiar um candidato novo fora da política tradicional, 29,8%; pretendem votar em branco ou nulo, 29,3%; votariam em candidato independentemente de partido, 16,1%.

O coordenador da pesquisa (O dilema brasileiro: entre a descrença no presente e a esperança no futuro), Marco Aurélio Ruediger, crê que a combinação entre descrédito e esperança poderá resultar em um processo de renovação eleitoral.

Entre os entrevistados, 83% não confiam no presidente da República; 79% desconfiam dos políticos eleitos; 78% não confiam nos partidos; 47% creem que o país estaria melhor sem legendas” (Gabriel Cariello/Marco Grillo, https://goo.gl/bRWHbx).

O nível agregado de confiança no mundo político desabou. Felizmente, da oitiva dos pesquisados dessume-se que as contrariedades poderiam ser sanadas no próximo pleito. Ou seja: a solução para a “crise brasileira” viria com as eleições.

Contudo, dadas as “regras do jogo” a “crise” perdurará, pois perdurarão os políticos: “De acordo com a proposta aprovada na reforma política, caberá à cúpula de cada partido definir como será a distribuição dos recursos do fundo eleitoral.

Líderes dos dez maiores partidos ouvidos pelo Estadão/Broadcast pretendem direcionar os recursos eleitorais em 2018 para campanhas de candidatos que já tenham mandato político.
Além disso, também devem priorizar o espaço da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV para caciques partidários e candidatos conhecidos em seus redutos” (Isadora Peron e Renan Truff, Estadão, 16dez17).

Quanto à “renovação”, igualmente, é improvável. As siglas que ocupam o poder permanecerão, se depender de propaganda. Terão, por ordem, mais tempo em rádio e TV: MDB, PT, PSDB, PP, PSB, PR, PTB, PRB, DEM, Outros, 1min24s.

Então, quanto às práticas, sendo as mesmas siglas e a mesma gente, persistirão: “A cúpula do MDB resolveu enquadrar os candidatos do partido em 2018: quem não defender o legado do governo Temer ficará sem apoio.

Para bom entendedor, isso significa que quem se fizer de desentendido vai ficar em último lugar na distribuição dos recursos do fundo eleitoral” (Carolina Bahia, DC, 19dez17. Essas práticas, por menos, contribuem para a crise.

Há “esperança” na Lava-Jato. Bem, “estudos sobre o impacto de escândalos de corrupção sobre a reeleição de deputados federais nas eleições anteriores a 2014 podem ser informativos sobre o que vai acontecer em 2018.

A taxa de reeleição média é de 70%. Envolver-se em escândalo reduz a probabilidade de reeleição, na média, em 18%. Esse efeito se anula quando o gasto do incumbente se aproxima de R$ 2 milhões, valor só atingido por 10% das candidaturas.

Em outras palavras, os custos reputacionais podem ser mitigados por gasto expressivo de campanha” (Marcus André Melo, FSP, 18dez17). No nosso “sistema”, dinheiro é uma lubrificação das relações entre candidato e eleitor.

Os políticos no poder têm meios de lubrificar as mãos “limpas” de boa parte do povo que despreza política e político. Votos, sem ilusão, serão comprados, mas, sem ilusão, votos serão vendidos. O povo compõe o sistema que declara odiar.

Minha apreensão: “bancada BBBs (boi, Bíblia, bala) já soma 347 dos 513 deputados e ‘revela a faceta ultraconservadora da sociedade escondida pela prosperidade e os avanços sociais dos anos 2000’” (Le Monde, FSP, 22dez17).