Futebol, histeria, derrota, realidade

Não acredito nos que exaltam os benefícios das práticas desportivas e declaram o futebol como a sua escolha de atividade física. A grande parte dos brasileiros não têm o futebol como uma hipótese de exercício.

A verdade é que, “o número de pessoas que faz do futebol uma atividade física de lazer caiu. De 2006 a 2012, o percentual foi de 9,1% para 7,2%, uma redução de 20% em sete anos (Hérika Dias, https://bit.ly/2NBcHPE).

Essa alegria toda diante do campeonato mundial de futebol parece-me puro efeito de mídia. A participação da TV no investimento publicitário é conta que se calcula em bilhões de reais e é “democraticamente” distribuída.

“Mercado movimentou R$ 134 bilhões ano passado, ante R$ 129 bilhões em 2016; fatia aportada na televisão oscila negativamente, mas deve se recuperar neste ano por conta da Copa do Mundo” (https://bit.ly/2J51ymT).

Não, o brasileiro não gosta exatamente de futebol. Não apenas não o joga; não gosta, mesmo, como parece. O brasileiro, todavia, responde bem ao investimento que máquinas de propaganda fazem de jogos e de jogadores.

Se não gostássemos apenas do fartamente propagandeado e posto por intermédio de televisão nas nossas salas domésticas, certamente apreciaríamos, tanto quanto apreciamos os jogos “oficiais”, os campeonatos femininos.

Homens ou mulheres jogando, o esporte deveria ser o mesmo. Para os investimentos, não, contudo. Alguém poderia falar que isso não decorre do gosto ou desgosto pelo esporte, mas da boa dedicação brasileira ao machismo.

Os números: Tomem-se dois campões, Marta e Neymar. Salário anual: 1,9 milhões contra 137 milhões; gols pela seleção 103 contra 55; ganho por gol, 18 mil contra 2,5 milhões. Claro, há machismo. Mas, claro, há investimento.

O Brasil tem se destacado em outras modalidades desportivas. Homens e mulheres têm obtido através dos tempos boas colocações no vôlei, basquete, jiu-jtsu, natação, judô, tênis, boxe. Há notícias a respeito? Poucas.

Os jornais brasileiros têm cadernos especiais para futebol. Que outro esporte mereceu meia página? As demais mídias não dispensam melhor tratamento às várias modalidades desportivas em que o Brasil se destaca.

Li há tempo, creio que no Jornal do Brasil, que lá por 1950 havia no estado do Rio de Janeiro 25 mil campos de futebol. O jogo era exercitado. Em 1980 o número reduzia-se a 450. Hoje o esporte é “praticado” diante de telas.

Se houver interesse em compreender o tanto que o futebol se afastou do significado de competição esportiva, basta por em um buscador de internet futebol, mídia e corrupção no Brasil. Quem supõe que política é coisa suja…

Felizmente há vários dados estatísticos a nos dizer que grande parte dos brasileiros se está afastando da violenta histeria coletiva que o futebol provoca. Estamos bem longe da unanimidade nacional que um dia talvez tenhamos sido.

Levantamento abrangente: “Quantos brasileiros são apaixonados pelo futebol? Uma pesquisa da Ispsos, empresa independente global na área de pesquisa de mercado presente em 88 países, buscou responder esta pergunta.

De acordo com um estudo da companhia, que entrevistou 42,8 milhões de brasileiros, 40% das pessoas têm interesse ou grande interesse por futebol. Quanto a esportes em geral, o número é 74%” (https://bit.ly/2J2YVSy).

Os 74% deveriam merecer o devido respeito dos governos, sobretudo nas escolas, mas não menos da mídia em geral. O futebol, afinal, é apenas o terceiro esporte que mais praticamos (Hérika Dias, https://bit.ly/2NBcHPE).

Circula uma frase que encerra a concepção de muita gente: “Derrotados na Copa, caímos na real”. Uma imagem excessiva, mas é apropriada. Mesmo o futebol não sendo o sentido da vida de todos, praticamos absurdos.

Nem transar nós transamos. Amantes ficam para depois das partidas: “Jogos do Brasil derrubam acesso em app de relacionamento extraconjugal”. A Ashley Madison é o maior site de relacionamentos extraconjugais do mundo.

Pesquisa que o sítio de amor paralelo realizou constata que “o número de acessos, no Brasil, caiu entre 40% e 53% durante o torneio mundial”, ainda que 59% prefiram estar com a amante na hora da partida (https://abr.ai/2m6kdG5).

Saímos da realidade. Encerramos o expediente público, empresas liberam seus empregados. Tudo para. Gritamos, corneteamos, bebemos. E não jogamos futebol, só o vemos pela televisão. Não bastasse, perdemos.