Especialista analisa segurança energética do Brasil

Especialistas alertam, já há algum tempo, que o Brasil precisa solucionar a questão do abastecimento de energia elétrica, especialmente nas regiões mais industrializadas e de maior densidade populacional. Hoje, por exemplo, para uma indústria ser projetada e instalada na região da Amurel, Sul de Santa Catarina, é preciso avaliar a oferta de energia em quantidade e qualidade necessárias. No último dia 15 de agosto, novamente o sistema elétrico do país foi posto à prova com um apagão em todo o território nacional, que só não foi pior por conta das ações imediatas de separação de determinadas regiões do sistema nacional.

Para o presidente da Diamante Geração de Energia, de Capivari de Baixo (SC), Pedro Litsek, ouvido pela reportagem do Notisul, “quando se fala em segurança energética está claro que um país como o Brasil não pode depender 100% da geração de energias renováveis. Precisamos ter geração térmica, geração síncrona, para que possamos fazer frente às intermitências do sistema renovável. Para se ter uma ideia, quando houve o apagão (falava sobre o dia 15.08), as máquinas da Usina Jorge Lacerda forneceram quase 20% a mais de carga para manter o sistema. Também por isso não foi registrado um apagão aqui na região Sul. Esta geração que fazemos é muito importante e vai continuar sendo muito importante”, ensina.

Ainda segundo o presidente da Diamante, “o Brasil já efetivou a transição energética, que agora precisa ser feita no restante das nações do mundo. No país, cerca de 94% ou 95% da geração de energia é oriunda das usinas de fontes renováveis.” Segundo ele, é preciso manter um determinado percentual de fontes tradicionais como carvão e gás, a fim de dar estabilidade ao sistema, como ocorreu no dia 15. “Atualmente a Diamante oferece 25% da necessidade de energia do Estado. Toda a produção é colocada no grid nacional, para ser entregue onde houver demanda”.

A Diamante projeta ampliar a geração de energia com novas unidades e usinas termelétricas acionadas com gás. Há uma unidade projetada para Garuva, no Norte catarinense e estudos para a Jorge Lacerda também, em Capivari de Baixo. Para o presidente, a queima do carvão, como é feita atualmente, vai sofrer mudanças. “A gente entende que a geração a carvão convencional, da forma como é feita, realmente não vai ter espaço mas a geração a carvão com captura de carbono, é ambientalmente adequada e faz todo o sentido”, analisa. O presidente da Diamante retornou da China na semana passada, onde visitou e analisou experiências com a coleta de CO2.

“Hoje a China é o motor da economia mundial. Visitei algumas instalações onde já existe a captura de carbono. Temos que ver o que há de mais modernos no mundo, e continuar olhando o que que eles estão fazendo, e aprender com eles quais são as soluções que estão implementando lá e que a gente pode implementar aqui”, considera Pedro Litsk. Segundo o presidente da Diamante, o Brasil precisa reduzir linhas de transmissão, gerando energia onde houver consumo. Temos que observar é a necessidade regional de energia. Hoje, por exemplo, a região Sul é importadora de energia, então, isso é não é saudável para a região. O correto, na minha visão, é que você tenha a geração onde a carga está, para evitar a necessidade de trazer energia de tão longe. Esse apagão, de novo, é o resultado disso. Nossa energia vem do Nordeste.  As linhas de transmissão geram perda de energia, aumentam o custo e deixam a paisagem feia. O Brasil precisa começar a pensar a incentivar projetos de geração onde está a zona de consumo”, sentencia.

Avaliação do apagão

No último dia 15, um apagão do sistema elétrico nacional provocou um blackout em 25 estados e no Distrito Federal. Imediatamente, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) reduziu o carregamento das linhas de transmissão e adiou manutenções programadas como forma de garantir o fornecimento de energia.

Segundo o ONS, o relatório que irá detalhar as causas da interrupção de energia será concluído em 45 dias úteis. No dia 25 de agosto, está marcada a primeira reunião, com participação do Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e agentes do setor, para avaliar as informações apuradas até o momento e o início da confecção do relatório. O segundo encontro ocorrerá em 1º de setembro.

A interrupção começou às 8h30 do dia 15 de agosto, com queda no fornecimento de 19 mil megawatts, cerca de 27% da carga total (73 mil MW) naquele horário. O ponto de partida foi desligamento da linha de transmissão 500 kV Quixadá-Fortaleza II, pertencente à Eletrobras Chesf, com uma atuação incorreta no sistema de proteção da linha, que operava dentro dos limites, ocasionou o seu desligamento.