Décimo terceiro salário – gratificação ou pagamento atrasado

Na coluna em vídeo dessa semana, falei sobre décimo terceiro salário e suas implicações. Conforme busquei demonstrar, 13º é a maquiagem para um pagamento atrasado. (Quem quiser conferir, o vídeo está no Facebook e no site do Notisul e também nas minhas mídias sociais).

Recebemos o mesmo valor mensal em meses com carga horária diferente. Um mês não tem quatro semanas, pois quatro semanas são 28 dias, e um mês tem 30 ou 31 dias. Essa diferença, de 29 dias ao ano, é paga no décimo terceiro, sem juros pelo atraso, já que ele é chamado de “gratificação”.
 
Se o décimo terceiro fosse eliminado e o pagamento passasse a ser semanal (ganho salário de x reais por 44 horas semanais de trabalho), a remuneração anual seria a mesma, porém distribuída igualmente ao longo do ano, sem uma concentração maior no fim dos 12 meses.

Para pessoas com mais educação financeira, isso seria positivo porque elas poderiam poupar e investir um pouquinho mais a cada mês. Para as que têm menor educação financeira, a consistência no valor recebido facilitaria a manutenção do controle financeiro.

Essa ilusão de que o 13º é um benefício natalino, estimula as pessoas a gastarem com compras para o natal. No mês de dezembro, as coisas estão mais caras, pois o custo para o lojista é maior, em decorrência de horário estendido, contratações temporárias, estoques maiores, etc..

O orçamento familiar reduzido e a ausência de reservas tornam bastante comum as pessoas adquirirem dívidas esperando quitá-las quando recebido o 13º. Porém, o tal “benefício” chega em uma época do ano em que somos bombardeados com anúncios de ofertas de todos os tipos. É muito fácil perdermos o controle e abrimos mão dos planos de quitar as dívidas, ou quitamos e já fazermos outras.

A psicologia econômica explica que, quanto maior a restrição orçamentária de determinada pessoa ou família, maior o desejo de abundância que a mente entende como uma compensação ao sacrifício.
Semanas atrás, falei sobre mesada para crianças, expliquei que um dos pontos principais para educação financeira de crianças é a frequência dos pagamentos, semanada invés de mesada, pois, para uma criança que ainda não sabe lidar com dinheiro, receber um valor alto (ou que ao menos para ela pareça alto…) propiciaria mais facilmente que ela perdesse o controle e comprasse tudo em balas no mesmo dia.

Infelizmente, há adultos que se comportam feito crianças quando veem uma quantidade maior de dinheiro do que aquela que normalmente têm. Simplesmente esquecem que dentro de poucos dias as mensalidades serão reajustadas, o IPTU terá de ser pago. Não se trata de baixa instrução. Isso ocorre inclusive com pessoas bem qualificadas. Isso é falta de educação financeira.

Aos empregadores, essa concentração no fim do ano, de um pagamento que deveria ser feito ao longo da temporada, é igualmente prejudicial, já que logo em seguida funcionários costumam gozar férias, há os reajustes do início do ano nas folhas de pagamento, aluguel, mensalidade, as comemorações natalinas nas empresas, os brindes oferecidos, etc..

Não sou a favor da extinção do valor do 13º na remuneração anual dos funcionários (classe a qual faço parte, inclusive). Sou a favor da remuneração semanal, um pagamento a cada uma das 52 semanas do ano em que trabalhamos 20, 30, 40 ou 44 horas. Forma de remuneração que considero mais justa e verdadeira que tratar por “gratificação” um pagamento atrasado.

E você? Já tinha analisado o tema por essa ótica? Sendo o mesmo valor anual recebido, prefere o 13º ou gostaria de receber remuneração semanalmente? Você pode ter uma opinião diferente da minha, e gosto de ouvir diferentes pontos de vista. Escreva-me para contar!

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