SAÚDE MENTAL COMO PRIORIDADE DE VIDA

O meu amigo pesquisador, Rafael Mariano de Bitencourt é graduado em farmácia (Unesc/2004), possui mestrado (UFSC/2008) e doutorado em farmacologia (UFSC e Universidade de Coimbra, Portugal/2012) e, conforme o próprio professor o define, diz ser “alguém que prefere se perder dentro de si – a fim de se encontrar – do que se perder fora, sem saber o que procurar”. Através desta procura, tem se (re)conhecido de diferentes maneiras e, nestes encontros consigo mesmo, há o Rafael professor, apaixonado pela arte de lecionar e pela possibilidade que esta atividade oferece no sentido de tocar e mudar a vida dos seus alunos através do conhecimento; há também o Rafael neurocientista, comprometido com a arte do perguntar e, através das buscas pelas respostas, poder contribuir para que as pessoas tenham uma vida mais saudável; há ainda o Rafael aluno, que encontrou no Curso de Psicologia um novo desafio para a construção do seu ser; e, por fim, o Rafael artista/poeta, aquela parte que não cabe no Currículo Lattes, mas sem a qual não é possível viver, pois, segundo o professor, lhe ensina a ver a poesia que há em todas as formas do Ser e do Fazer.

Como professor da Unisul, leciona nos cursos de graduação ligados à área da saúde disciplinas voltadas à neurociência e farmacologia. Como neurocientista, é pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, onde orienta projetos de iniciação científica, mestrado e doutorado. Como aluno, é quase um calouro de Psicologia, ainda nas fases iniciais do curso. E como artista/poeta, é “destacador de poemas” (autor do livro “Poemas Destacáveis) e “faz tudo” na Editora Juriti, um projeto de editora artesanal sem fins lucrativos que tem por objetivo “poetizar” o processo de publicação. Por fim, o professor ainda ressalta que nenhuma das partes o limita e que a junção de tudo isso é o que o identifica. “O todo é maior do que a soma das partes”, lembra Rafael, que assina, abaixo, um texto que fala sobre saúde mental, um tema cada vez mais necessário em tempos de vida agitada e buscas sem muito sentido. Boa leitura, divirtam-se!

SAÚDE MENTAL COMO PRIORIDADE DE VIDA

Rafael Mariano de Bitencourt, Professor/Pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde – PPGCS – UNISUL

bitencourtrm@gmail.com  

Antes de colocar a saúde mental como prioridade de vida, um dos primeiros questionamentos que devemos fazer é: o que é saúde mental? O que significa para você, leitor e leitora que me acompanham neste momento, essas duas palavrinhas que têm se falado tanto ultimamente? Pois bem, a resposta não é tão simples quanto parece.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe uma definição oficial de saúde mental, sendo este um termo usado para descrever qualidade de vida cognitiva ou emocional. Tal definição pode incluir, por exemplo, a capacidade de um indivíduo apreciar a vida através de um equilíbrio entre o que eu chamo de parte poética e prosaica do viver, ou seja, aquela parte onde você faz o que faz pelo simples prazer do fazer e aquela que você faz porquê é preciso fazer, respectivamente. Portanto, trata-se de um conceito que vai muito além da ideia simplista da ausência de transtornos mentais.

Para este que vos escreve, buscar este equilíbrio é quase que uma filosofia de vida, uma das prioridades no meu projeto de ser. Não abro mão dos momentos que me trazem paz de espirito (a parte poética) e não me permito viver por muito tempo um projeto de vida que esteja custando minha saúde mental. Como diz o ditado, se custa sua saúde mental, então é caro demais!

Contudo, este equilíbrio não é matemática simples e, cada vez mais, infelizmente, as pessoas têm se perdido no “modus operandi” e pouco saudável ao qual temos sido submetidos diariamente. Não à toa que hoje, só no Brasil, segundo a OMS, estima-se que 9,3% da população tem algum transtorno de ansiedade (maior taxa do mundo) enquanto que a depressão afeta 5,8% dos brasileiros (quinta maior taxa do mundo). Ainda segundo a OMS, a prevalência estimada de transtornos mentais e de comportamento é de 12% na população mundial, sendo que mais de 450 milhões de pessoas sofrem de algum problema de saúde mental, gerando uma perda, a cada ano, de aproximadamente US$ 1 trilhão em todo o mundo. 

Boa parcela deste gasto é destinada à compra de psicofármacos, que são os medicamentos utilizados para tratar tais transtornos. O consumo desta classe de medicamentos mais que dobrou na última década, tornando-se o “soma” nosso de cada dia e nos aproximando assustadoramente do “Admirável mundo novo” escrito por Huxley lá nos anos 30, o qual de admirável não tinha nada (fica aqui a dica de leitura de um clássico da literatura mundial). Isso tudo sem falar do número de pessoas que não possui nenhum diagnóstico de transtorno mental, mas também não usufruem de boa qualidade de saúde no seu aspecto mais amplo, pois, como descrito anteriormente, uma mente saudável não se determina apenas pela ausência de transtornos. Ou seja, o número de pessoas que não gozam de boa saúde mental deve ser ainda maior do que os números apresentados em relação às pessoas que possuem algum diagnóstico de transtorno, seja de ansiedade ou depressão.

Mas, se hoje você consegue levar uma vida sem muito estresse, de forma leve, onde é possível equilibrar de uma maneira saudável aquilo que você precisa e o que você gosta de fazer; se você não toma nenhum medicamento para acordar e/ou para dormir, então arrisco a dizer que você tem boas chances de ter uma vida mentalmente saudável, que, para os dias atuais, já é bastante coisa, pode acreditar. Agora, se você não pertence a este seleto grupo, não se desespere, pois é possível mudar este cenário. Mas, é claro, como muitas coisas na vida, requer um pouco de dedicação. Para isso, a neurociência nos mostra o caminho que, provavelmente, não será nenhuma novidade, mesmo para quem não usufrui de uma boa saúde mental. 

Anota aí: (i) a atividade física regular ajuda a oxigenar o cérebro e aumenta a liberação de substâncias químicas que melhoram o seu funcionamento; (ii) já uma alimentação equilibrada e saudável fornece os nutrientes necessários para que a química do cérebro se mantenha equilibrada; (iii) ainda, a meditação, que não apenas ajuda a silenciar o turbilhão de pensamentos da nossa mente, como também promove o crescimento de neurônios em áreas do cérebro responsáveis por “bons pensamentos” e diminui os neurônios em áreas responsáveis por “maus pensamentos”, mostra-se também como um caminho cada vez mais reconhecido;  (iv) por fim, já está mais do que comprovado que a psicoterapia é uma ferramenta de autoconhecimento incrível, a qual nos ajuda a lidar melhor com nossas emoções e, assim, também contribuir para um estado mentalmente saudável. 

Basta juntar estes ingredientes, dar um jeitinho para encaixá-los no seu dia a dia e pronto, você terá a resposta por você mesmo, um cérebro mais saudável e, consequentemente, mais saúde mental. A receita é simples, já a prática, nem sempre, sabemos disso. No fim, é tudo uma questão de prioridades. O que você me diz, sua saúde mental já é uma prioridade na sua vida ou precisará perde-la para que seja? Pense nisso!

 

Você sabia?

A meditação pode mudar seu cérebro para melhor, favorecendo a saúde mental, foi o que descobriu um estudo feito da prestigiada Universidade de Harward. Neste estudo, os pesquisadores mostraram que meditadores de longa data com cinquenta anos de idade tinham a mesma quantidade de massa cinzenta que pessoas com 25 anos de idade, isto é, a meditação pode desacelerar o envelhecimento natural do cérebro. Já um estudo subsequente na mesma Universidade mostrou que mesmo pessoas que nunca meditaram podem ter benefícios rápidos através da prática meditativa. Bastou apenas 8 semanas com uma média de 27 minutos por dia de prática meditativa para que o cérebro destas pessoas aumentasse em quatro regiões relacionadas às lembranças e à autoestima, ao aprendizado, à memória e à regulação emocional, e também à tomada de decisões, empatia e compaixão, além de diminuir o estresse. Então, está esperando o quê para tirar uns minutinhos do seu dia e praticar o silêncio? Não perca tempo, sua saúde mental agradecerá!

Fique atento!

O Laboratório de Neurociência Comportamental (LabNeC), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (PPGCS) da UNISUL, desenvolve pesquisas, da iniciação científica à pós-graduação, voltadas à temática da saúde mental. Se você já é um aluno de graduação da instituição e tem interesse em tais pesquisas, ou então se você se interessa em cursar um mestrado ou doutorado no PPGCS com projetos semelhantes, fique atento aos editais oferecidos frequentemente para as respectivas situações (www.unisul.br). Há várias oportunidades esperando por você!