Importação de leite abre crise no setor e provoca abandono da atividade

Diz o ditado popular que o Inverno é a época de vacas magras. O frio, a baixa umidade, geadas e pastagens em dormência, reduzem a alimentação a campo dos animais e consequentemente cai a produção de leite em todo o país. Este período é a chamada entressafra da produção leiteira. E pela redução da produção, os preços ao produtor deveriam estar em alta. Deveriam, mas o governo tem realizado sucessivas importações de leite em pó da Argentina, Uruguai, Austrália e Nova Zelândia. Só neste ano, as importações já superaram 1,2 milhão de litros. A crise afastou mais de 55 mil produtores do segmento, só em Santa Catarina.

 

Mesmo que o produto seja comercializado entre 5 e 6 reais nos mercados, os produtores estão recebendo pouco mais de 2 reais por litro de leite produzido e entregue à indústria. Com isso, milhares de produtores de leite de Santa Catarina estão abandonando a atividade. A remuneração ao produtor cai a cada mês. O quadro é gravíssimo, e a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (FAESC) alerta para o fim da produção leiteira na agricultura familiar em todas as regiões.

 

Entre janeiro e maio deste ano, as importações de leite em pó tiveram acréscimo de 212% em relação ao mesmo período de 2022. Os preços internacionais do leite caíram no mercado internacional e a moeda brasileira, o Real, experimentou uma ligeira valorização frente ao Dólar americano. Estes dois ingredientes estimularam as importações e os preços no mercado interno despencaram. O cenário, que poderia ser interessante ao consumidor, que ainda não observou uma melhora significativa nos preços nas gondolas de supermercados, pode se tornar catastrófico no futuro, com milhares de produtores abandonando a atividade.

Crise do leite faz 73,4% dos produtores abandonarem setor em SC

A cadeia produtiva leva tempo para ser formada, com seleção de matrizes, melhoramento genético, treinamento de mão de obra e compras de equipamentos, entre outros fatores. Com esta crise, animais caros são vendidos a preço de carne para açougues e frigoríficos. A crise do leite, provocada pela importação, provocou queda de preços, prejudicando a rentabilidade dos criadores de gado leiteiro e das indústrias de captação, processamento e industrialização de leite. Segundo a FAESC, na década de 1990, Santa Catarina registrava a existência de 75 mil produtores de leite. O mesmo relatório aponta para uma redução de mais de 70%, e hoje estando em atividade, cerca de pouco mais de 20 mil produtores de leite.

 

Um dos indicadores para comprovar essa crise é a queda de mais de 30% na captação de leite refrigerado, só neste ano. A indústria catarinense tem capacidade instalada para processar 13 milhões de litros de leite por dia, mas a captação não passa da metade, ou seja, de 7,5 milhões de litros/dia.

 

Solução para a crise do leite em SC

Lideranças ligadas ao setor produtivo, em defesa dos produtores, pedem que os governos regulem as importações, com taxação e imposição de limites. As barreiras devem ter o objetivo de evitar a destruição da cadeia produtiva organizada existente no Brasil. Outra medida seria a implementação de políticas de apoio ao setor que inclua medidas dos governos da União e dos Estados para estimular a produção e o consumo, com redução de tributos, criação de linhas de créditos subsidiadas, combate às fraudes, criação de mercado futuro para as principais commodities lácteas, manutenção de medidas antidumping e consolidação da tarifa externa comum em 35% para leite em pó e queijo além de uso obrigatório de leite e derivados de origem nacional em programas sociais.

Segundo reportagem do Globo Rural, o governo federal deve destinar R$ 200 milhões para as compras públicas de leite em pó, apurou a reportagem da Globo Rural. Anteriormente, o orçamento previsto para a medida, já confirmado pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e pelo presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edgar Pretto, era de R$ 100 milhões.

Após os alertas das entidades, o governo federal aprovou, na última terça-feira (15), a alteração da alíquota de imposto para a importação de produtos lácteos, passando de 12% para 18%, e revogou a resolução de 2022 que tornava mais vantajosa a compra de países como Argentina e Uruguai. O objetivo é proteger os produtores brasileiros e reduzir a crise que afeta milhares de famílias do campo.