O dilema de um deus pequeno

Já reparou como tudo depende de uma perspectiva?

Com o advento do Instagram e outras redes afins, é comum encontrarmos aquelas fotos com pessoas segurando nas mãos a Torre de Pisa, ou tendo o sol na palma das mãos. Trata-se de um efeito interessante de ótica, quando a distância do objeto faz com que sua magnitude, ou tamanho, fiquem ínfimos.

Partindo desse pressuposto, podemos olhar para os desafios diários que a vida nos impõe. A educação dos filhos, as metas no trabalho, entre outros. Interessante pensar que, diante de uma mesma situação, uns sentem-se encorajados, enquanto outros amedrontados. O motivo? Perspectivas.

De fato, muito de nossas atitudes dependem de termos, ou não, a perspectiva correta. Por exemplo, enquanto uns reclamam do trabalho chato e entediante, outros anseiam por apenas estarem com a carteira assinada. Uns reclamam dos filhos barulhentos, enquanto outros sonham com a paternidade. Uns preferem o inverno, outros o verão.

Tudo depende de uma perspectiva.

Obviamente, nosso ponto de vista nunca é isento. Sofremos influência do meio em que vivemos, da cultura local, das inclinações naturais. Portanto, de algum modo, nossa visão de Deus vai depender da perspectiva que temos dele.

Entenda uma coisa: qualquer visão parcial de Deus, fruto do desconhecimento bíblico, irá gerar ídolos no coração humano.

Pense nos israelitas, logo após sua saída do Egito. Foram cerca de 430 anos de escravidão – essa era, portanto, a “perspectiva” deles em relação a qualquer coisa. Ao chegarem no Sinai, enquanto Moisés estava com Deus recebendo a revelação dos dez mandamentos, o povo foi tomado por certa ansiedade e fizeram para si um bezerro de outro. Para eles, a única forma de relação com a divindade era através de um ídolo.

Aquela gente via o modo como os egípcios se relacionavam com seus deuses – eram deuses de pedra, manufaturados pelas mãos de sacerdotes. Assim, esta era a maneira como eles percebiam a relação entre o homem e seu “Deus”. Uma troca de favores do tipo “faça-isso-e-receba-aquilo”. E isso pavimentou o caminho para a confecção do bezerro de ouro.
Idolatria. Aquele momento quando o homem tenta ser maior do que Deus. É relacionar-se com a divindade sem a necessidade de prestar contas de seus atos. Algo parecido como as estórias de gênios da lâmpada, que obedecem a seu amo.

Quando nossas relações são tomadas por ídolos (e não falo apenas de imagens, mas do ídolo da beleza, da fama, etc..) desenvolve-se então um diálogo “eu-coisa”, e não “eu-tu”. O foco dos relacionamentos baseados em “eu-coisa” estão fundamentados nos benefícios obtidos a partir desta relação para o “eu”, e não ao que se relaciona comigo. São diálogos egoístas que trazem consigo uma percepção distorcida da realidade e do próximo, tratando-o e dando valor ao outro na medida que somos beneficiados. Quando então o outro não tem mais utilidade, é prontamente descartado.

Pense um pouco na sua relação com Deus. Ela se encaixa nesse padrão? Se temos problemas com Deus, isso está relacionado com o fato da revelação de Deus nas Escrituras, ou com o pensamento de que podemos dar ordens ao Senhor?

Muitas pessoas têm dificuldade em sua relação com Deus exatamente por isso: idolatria. Esse é o dilema de um deus pequeno: ele é menor do que a gente.

E não fomos criados para vivermos no centro de tudo. No mundo egoísta de hoje, isso é escandaloso. Por isso Paulo afirma a respeito do Evangelho:

“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos” (1 Coríntios 1:23).

Fuja da idolatria. Fuja de obter respostas em si mesmo. A verdadeira vida, a liberdade só é encontrada aos pés da Cruz.

Eis o escândalo do Evangelho.