Você já leu as contra-indicações do seu medicamento?

É por isso que sou rigorosamente favorável que todos os medicamentos, todos (sem exceção), sejam ingeridos sob orientação médica.

Dito isso, sinto-me mais tranquilo para entrar no assunto de hoje. Talvez você esteja pensando que eu vou receitar algum medicamento mágico que vai fazer você conseguir um emprego! Não, não tenho esta pretensão. Não sou médico, sou engenheiro. Então me deixa seguir com o tema. Talvez você curta a leitura.

Há alguns meses, conheci Michele e Rafael, um casal que vive a vida de um modo diferente da maioria das pessoas. No dia que conheci o casal, eu estava ocupadíssimo, tentando concluir um artigo. A pia transbordava de louça suja, e a poeira sobre os móveis era tanta que se podia desenhar neles. E eu ainda tinha uma lista de e-mails para responder, porém resolvi lagar tudo e sair para caminhar.

Calcei meus tênis, coloquei um moletom, ajustei o boné, retoquei o protetor solar e fui. A fim de caminhar e conversar, parei na praça em frente ao apartamento e resolvi fazer novas amizades com um casal que tinha se instalado ali. Não eram mendigos, mas era evidente que vivem na rua.

Antes de continuar a história eu preciso dizer que a autora Nina Wise escreveu que existe uma teoria que diz que a linguagem foi inventada porque as pessoas precisavam reclamar. Temos vontade de reclamar da dor nas costas, da infidelidade conjugal, dos pais idosos, do preço das coisas, da violência, do trânsito, dos filhos adolescentes, e vai por aí a fora… uma lista infindável… E por que não usamos a linguagem para fazer novas amizades? Pense por alguns minutos…

Voltando ao casal, Michele e Rafael, muito atenciosos e respeitosos, relataram que vivem cada dia em um lugar diferente. São do mundo. Somente com um carrinho de duas rodas que serve de transporte para suas pouquíssimas coisas e uma família de cachorros que os acompanham.

HIV positivos e ex-dependentes químicos, são muito francos em falar de suas vidas. Aqui é o ponto do tema de hoje que eu queria chegar. Drogas!
Eu me pergunto: Por que acreditamos piamente que somente quem usa drogas ilícitas são drogados? Pense um pouco!

Precisamos compreender que a nossa espécie está doente, já escreveu o médico psiquiatra, professor e escritor brasileiro Augusto Cury. “Somos todos doentes e drogados. Ou você acredita que a cerveja, o cigarro, o seu medicamento, o café, o álcool e uma lista infindável de produtos que consumimos não são drogas?”.

Em química orgânica experimental no laboratório com os meus alunos eu faço a extração de uma das drogas mais letais que existe: a cafeína. Ou você acredita que o seu cafezinho é vitamina? Claro que para se obter uma dose letal de cafeína, o indivíduo deverá ingerir dezenas de quilos de café em um curto período de tempo.

E mais uma coisa: Por que toda semana inaugura uma farmácia nova? É porque somos todos saudáveis? Pense nisso.

Bom, lembra do título do texto de hoje? Pois é. Toda droga causa algum efeito danoso ao nosso organismo. Então, já é hora de pararmos de chamar aquele ou outro de drogado.

Como bem me relatou Rafael, quando eu disse que era professor de química, ele abriu um sorriso e disse: ‘bem, professor, química é bom aprender, e não usar’.

Porém, é de conhecimento geral que a química melhorou e muito a nossa qualidade de vida. Inclusive as das pessoas com HIV positivo. A química não é o problema. É o mau uso que fizemos dela.

No livro “Uma vida plena, livre, feliz e fora do comum”, a autora Nina Wise, alerta-nos para que evitemos ver a vida somente sob o nosso próprio ponto de vista.

E nos coloquemos no lugar do outro para saber como ele sentiu aquela mesma experiência e, sobretudo, o que determinou suas ações. Enfim, a história do casal é longa e muito interessante, porém, preciso terminar o texto. Finalizo afirmando tristemente que a nossa sociedade está doente, não apenas pelo estresse, individualismo, egocentrismo, competição predatória, mas também pela falta de amor.