Vai uma gripezinha aí?

A vida em Tubarão realmente mudou após a suspensão do decreto? Será? Prefiro pensar assim, que mudou, a pensar que a propagação deste novo vírus é, também, devido à má formação de alguns profissionais de saúde. Profissionais estes que são os principais hospedeiros de doenças, quando não dispostos a seguir normas de higiene em sua conduta. Sem generalizar, é claro. Recentemente, me submeti a um exame de retinografia em uma clínica, em Tubarão. Remarcado pela terceira vez, com o intuito de evitar participar da ”aglomeração clínico-hospitalar”, que poderia, e ainda pode, complicar a vida de uma pessoa, em meio ao surto epidêmico que vive a cidade.

Porém, ao invés de remarcá-lo pela quarta vez, optei por “correr o risco”. Ao chegar, não me debrucei ao balcão de atendimento. Quando algumas pessoas tossiam, prendia a respiração, evitando respirar, me precavendo de uma possível contaminação pelo ar. Exagero? Não, medo. Para não cair em displicência própria, pois depois não adianta reclamar. Fiz todo o procedimento que fui orientado a fazer,. Evitei todo o contato manual possível. Não precisei assinar a ficha, o que me deixou um pouco mais feliz, mesmo triste, por estar ali, quase sem respirar, assustado, desconfiado de tudo e de todos. Olhares se cruzavam. Quem estaria contaminado? Venci as batalhas, passei por todos os obstáculos até ali. Faltava então a última batalha, para vencer a primeira guerra: o exame. Confesso que para a batalha final estava preparado, confiante, pois já havia vencido todos os monstros pelo caminho.

E sabia que esta última seria a mais fácil de todas, afinal, os simples mortais, infectados, dignos da minha desconfiança, despreparados, displicentes, pessoas comuns, populares, cidadãos de bem, mal ou simplesmente pessoas, aqueles que mais poderiam me levar para a terra da influenza, eu já havia vencido. Nada me impediria de sair dali neutro, nem mais forte, nem mais fraco, apenas com a mesma saúde que tinha ao entrar por aquela porta. Sim, era o que eu queria, e ainda assim eu tinha um sábio aliado, vestido de branco, que lembrava a paz, trazia tranquilidade, e estava mais do que ninguém preparado para tudo aquilo. Entrei então na arena, a última etapa. Eram somente algumas gotinhas de colírio e um simples exame que me separavam daquela situação e minha vida saudável. Foi quando então toda essa tranquilidade que estava bem à frente de meus olhos começou a desmoronar. Na mesma sala, colocaram mais oito pessoas. Os monstros que eu havia vencido estavam ali novamente, mais vivos ainda. Então pensei: perdi a última batalha. Respirei fundo, mas lembrei que não devia respirar, prendi a respiração, soltei, me entreguei.

Chegou o meu aliado, todo de branco, me animei novamente. Ah, ele vai me tirar dali. Não, não vai. Aquele que deveria me proteger, me salvar, voltou-se contra tudo e contra todos, começou a pingar colírio em nossos olhos, manipulando, olho por olho, de todas aquelas pessoas, nas quais eu me incluía, sem nenhum tipo de higienização, transferindo secreções oculares possivelmente perigosas, decorrentes da manipulação da pálpebra, para abrir os olhos de todos, para pingar o colírio. E isso se repetiu uma, duas, três vezes. Não era possível que aquilo estava acontecendo.

Enfim, como podemos combater um vírus como esse, agindo dessa forma? Como foi o comportamento da classe médica de Tubarão desde o começo? Não acho justo colocar a culpa apenas na população em geral. Minha culpa é me sentir um fracassado, de não ter me levantado e ido embora. Fiquei sem ação. E agora estou aqui, esperando que tenha mais sorte do que azar. Afinal, quem tem azar é azarado, e quem conta com a sorte é bobo, de não fazer nada e enquanto pode.