O risco dos terraplanistas

Não se sabe exatamente quando e por quem, mas foi por volta dos séculos que antecederam a nossa “era cristã” que se concebeu a esfericidade da terra pela primeira vez, e assim passa a ser aceita. O que se tem registrado é que no século 6 a.C., o paradigma da Terra esférica apareceu na filosofia com Pitágoras, e por volta de 330 a.C., Aristóteles já aceitava esta teoria com bases empíricas, além de outros filósofos. 

Já no início do século 16, o astrônomo e matemático polonês Nicolau Copérnico começa a divulgar sua teoria do modelo heliocêntrico, no qual a terra é apenas um planeta que, como os demais corpos cósmicos, circula ao redor do Sol, e não o contrário. O resultado foi que teve problemas com o que igreja acreditava até então e foi obrigado a se retratar. Mais tarde, Galileu Galilei com o uso de telescópios conseguiu fazer a comprovação do modelo heliocêntrico, porém, sob ameaça de excomunhão e morte pela Santa Inquisição, em 1633 teve que negar formalmente suas descobertas. Somente quase um século e meio depois o físico Isaac Newton traz a comprovação definitiva que o sol é o centro do nosso sistema solar por meio da base física da gravitação dos planetas criado por ele. 

Soma-se a estas, tantas outras experiências e evidências com bases científicas, além de observações possíveis, como por exemplo, a viagem de Fernão de Magalhães que circunvagou a Terra entre 1519 e 1522, linhas aéreas que circulam o planeta, e ainda as viagens espaciais e satélites colocados em órbita a partir dos anos de 1960. 

Com todas estas evidências, há ainda quem acredite, e o pior, que defenda e divulgue como se tivesse fundamentos “científicos” não só que o homem nunca foi a lua, mas que a terra é plana, e pasmem, há inclusive milhares de seguidores que dão ouvido a estas “baboseiras”, além de  inúmeros sites e canais de vídeos que se propõem a comprovar tal teoria. Há inclusive sociedades organizadas como a Flat Earth Society, fundada em 1956, que é uma organização pseudocientífica que defende tal teoria. 

A princípio, além de umas boas “gargalhadas” em relação ao que esta turma dissemina, não haveria maiores problemas, pois se caso a terra realmente fosse plana para eles, então quando chegassem a “beirada” do planeta encontrariam um precipício e nele cairiam para o “espaço infinito”. Quanto a nós que acreditamos na ciência podemos continuar fazendo nossas viagens de avião e de navio sem medo, pois a terra é realmente esférica (ou quase). 

Mas acontece que, muitas vezes estes defensores começam suas dissertações afirmando que se “você entender e aceitar você é sábio, caso contrário, é soberbo e ignorante”, e ainda, fazem uso de afirmações e argumentações supostamente científicas para comprovar suas teorias (facilmente refutável por qualquer organização científica), porém, como a maioria absoluta da população não tem embasamento teórico sobre todos os assuntos, muitos acabam sendo convencidos por eles. Isso chama-se de pseudociência.
  
A pseudociência é frequentemente caracterizada pelo uso de afirmações exageradas, vagas e ditas com uma confiança excessiva, sempre colocando em “cheque” quem os questionar, e sempre tendo respostas para tudo, nem que para isso tenha que negar inclusive a existência da gravidade. Mesmo que se defina como baseada em fatos científicos, na verdade dificilmente podem ser provados através de métodos confiavelmente aprovados e reconhecidos. 

Até então acreditar que a terra é plana não teria maiores problemas, mas o risco inicia-se quando milhões de pessoas ao redor do mundo começam a acreditar neles e duvidar da ciência real, ficando esta massa populacional suscetível a serem facilmente manipulados, seja como for.
Além de que o homem nunca foi a lua, que a terra é plana, que o sol gira ao redor da terra, que Elvis não morreu, e até mesmo que os aviões deixam as “Chemtrails” (trilhas químicas) que é a pulverização de veneno a mando do governo norte americano, além de inúmeros outros exemplos de afirmações esdrúxulas baseadas em pseudociência, temos uma que talvez seja a mais grave de todas no momento e que inclusive tem gerado mortes, o “movimento antivacinas”.

Seus argumentos se assemelham muito aos dos terraplanistas, em que afirma que o governo mente para nós e que as vacinas não passam de uma forma de controlar as populações, e assim recomendam que ninguém as tome. Qual a consequência disso? O retorno de doenças que já haviam sido erradicadas em quase todos os países, e que acabam causando mortes e sofrimento para muitas famílias. 

Para os que acham que só os “ignorantes” acreditam nestas afirmações, a resposta é que infelizmente não, pois eu pessoalmente conheço pessoas formadas e esclarecidas que acreditam e até mesmo disseminam algum tipo de informação baseada em pseudociência. Isso acontece inclusive no meio político, recentemente aqui mesmo em Santa Catarina dois deputados estaduais propuseram um projeto de lei que proíbe o teste e implantação da rede de telefonia celular “5G” baseados em uns vídeos da internet considerado “Fake News” e recheado de argumentos fundamentados na pseudociência. 

Tome muito cuidado com o que você consome na internet, os aplicativos que temos hoje facilitam muito nossa vida e comunicação, mas também a disseminação destas falsas verdades. Fique atento!  

Pais/Educadores
Vamos levar para as salas de casa e salas de aula o tema? Será que nós também acreditamos em alguma afirmação baseada em pseudociência? Educadores: que tal discutir com seus alunos as bases cientificas e culturais das vacinas, e quais males poderiam voltar se não houver uma imunização maciça da população? E qual a consequência disso? E que tal discutir com seus alunos e criar argumentos que refutem a teoria dos terraplanistas?  
Leia outros textos desta coluna em http://bit.ly/fernandopitt.