Caso Ricardo: Processo é arquivado. “Não há crime”

Rafael Andrade
Tubarão

Os familiares do eletricista Ricardo Cypriano Diomar foram às lágrimas nesta sexta-feira. O Ministério Público (MP) manifestou-se sobre o inquérito que avaliava a conduta de 11 policiais militares de Tubarão, após uma operação no Beco do Quilinho, no bairro Morrotes, há um ano, que culminou na morte do jovem de 27 anos.

O MP sugeriu o arquivamento do processo, acatando a decisão de um outro inquérito do mesmo caso, avaliado na justiça militar. O promotor Fábio Fernandes de Oliveira Lyrio reconheceu a “inexistência de infração penal praticada pelos policiais militares indiciados, afirmando ainda não ser possível imputar qualquer responsabilidade criminal aos policiais em face da morte do agente (Ricardo)”, descreve o relatório.

O juiz Elleston Canali acatou o manifesto e arquivou por definitivo a ação. No entanto, a família do eletricista ainda tentará a ‘última cartada’ em Florianópolis. ”Vou sugerir aos familiares que contatem o procurador geral do MP, na capital, para que possa reavaliar a decisão e, talvez, reabrir o processo”, explica Luana Vieira, advogada da família.
O rapaz morreu no dia 7 de setembro do ano passado, após ficar dez dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Tubarão.

Segundo os moradores da localidade, os militares abusaram do poder e agrediram o jovem mesmo após estar algemado. Ricardo não tinha passagens pela polícia e, segundo os policiais, ele foi detido por desacato à autoridade e supostas agressões a policiais militares.

“Agimos conformeo procedimento
padrão em abordagens”

O major Giovani Livramento, comandante da 2ª Companhia do 5º Batalhão da PM de Tubarão, declara que os policias agem conforme o procedimento ministrado na academia após aprovação em concurso público. Existe uma padronização em abordagens e operações. Sempre trabalhar em mais de um militar e tentar controlar a situação sem a necessidade do uso progressivo da força, da utilização de armas não letais e, por último, o uso da arma letal.

“A justiça não é para todos”
“É lamentável”, resume a advogada Luana Vieira. Ela trabalhou no caso da morte do eletricista Ricardo Cypriano Diomar. “Durante um ano, juntamos vários testemunhos sobre a conduta dos policiais. No mínimo, eles deveriam ser indiciados por lesão corporal seguida de morte se não homicídio”, lembra Luana. Ela ainda destaca que o laudo da morte do jovem aponta politraumatismo craniano, supostamente provocado por agressões, e não por uma queda.

“É preconceito”
A comunidade do Beco do Quilinho e das proximidades, no bairro Morrotes, é conhecida pelo comércio de drogas. “Meu marido nunca foi traficante, pelo contrário, ele trabalhava como eletricista e ajudava vários familiares. Agora arquivam o processo. Que justiça é essa? É preconceito porque moramos aqui no beco”, lamenta a viúva do eletricista, Simone da Rosa.

“A corda arrebenta
no ponto mais fraco”

A citação acima é da mãe do eletricista Ricardo Cypriano Diomar, a dona de casa Derli Cypriano Diomar. “Existem culpados e são os nossos policiais militares, que pagamos para nos defenderem, e não para saírem por aí agredindo e matando pessoas. Vou até o fim com isso”, lamenta Derli.