Saudades

 

Na manha do dia 16 de abril de 1954, no interior do estado de Santa Catarina, nascia o menino Francisco Marcelino.
 
De família humilde e de poucos recursos, veio ao mundo desprovido do auxílio da medicina atual, contando apenas com a coragem de sua mãe e a proteção divina.
 
Primeiro filho de Irene e Angelino, desde muito cedo teve que se ausentar dos sonhos e fantasias da infância para contribuir para amenizar as despesas financeiras da família.
 
Menino franzino, porém muito dedicado ao trabalho, não media esforços em abraçar qualquer tipo de atividade que pudesse render o sustento. Depois de muita insistência e dificuldade para vender frutas realizando todo o caminho a pé, conseguiu reunir algumas sobras e adquiriu uma bicicleta, a fim de facilitar e dinamizar um pouco o seu trabalho.
 
Em suas incontáveis viagens de bicicleta, conheceu um senhor muito simpático, que se chamava Valdecir. A afinidade foi imediata, vindo a firmarem fortes laços de amizade.
O tempo foi passando e logo o sr. Valdecir percebeu o grande potencial daquele jovem, vindo a convidá-lo para trabalhar em sua panificadora.
 
Francisco não imaginava que aquele convite transformaria toda a sua vida. A profissão de padeiro estava no seu olhar, na sua vontade e no seu coração.
Com apenas 18 anos, o jovem Francisco já era mestre de padeiro, disseminando essa nobre profissão para todos os irmãos e transformando-a numa espécie de marca registrada de toda a família.
Passou por dois casamentos que o contemplaram com cinco filhos. 
 
A profissão de padeiro tornou-se uma paixão, nascendo o sonho de montar uma padaria própria, chegando ao ponto de comprar uniformes e guarda-pós, imaginando utilizá-los na padaria que tanto almejava em montar.
Mas o sonho não estava longe. Em 4 de outubro de 1994, com muito esforço e persistência, inaugurou o Panifício e Lanchonete Real, estabelecimento esse que, até hoje, é referência em qualidade e produção no ramo de panificadoras na região de Tubarão.
 
Sempre prestativo e sorridente, o “Chiquinho”, como era carinhosamente conhecido, não se furtava em oferecer e doar o produto que fabricava a pessoas menos favorecidas, já que manipulava o pão e sabia que o objeto do seu trabalho alimentava as pessoas.
 
Também desenvolveu um importante trabalho social na Combemtu, onde atuava ensinando a profissão de padeiro a outras pessoas, de forma voluntária e gratuita.
 
Apesar de se tratar de um ser humano de notável bondade, sofria de várias enfermidades que lhe obrigavam a ter uma vida controlada por medicamentos e hábitos diferenciados.
 
No dia 21 de outubro de 2008, o “Chiquinho” já havia terminado sua tarefa nesse plano terrestre e retornou para a pátria espiritual de origem, deixando uma saudade natural e extremamente passageira, pois sabemos que ele continua vivo e que o reencontro é uma certeza tão real quanto a presença que ainda sentimos dele.