O mesmo braço… Um novo norte

A ilegalidade, principalmente quando condenada e transitada em julgado, não merece louros, mas vaias e desprezo. Eis que um povo, coberto pelo manto sagrado da vergonha na cara, nos dá uma lição de dignidade. Ninguém mais ousará dizer que, por aqueles pagos, a hipocrisia escancarada foi negligenciada; ou que a má utilização do erário não consta no rol das faltas graves também da moral coletiva.
Democraticamente – como se fosse pouco – ainda puseram fim ao arquétipo do “pai dos pobres”: aquele que distribui beijos, abraços e populismo com dinheiro público. Pois lá políticos aprenderam que não cabe esconder-se sob o manto – nada sagrado – da vitimização do culpado; que não são absolutos tampouco imponentes ou eternos, porque efêmeros.

Aprenderam ainda que um jornal, quando noticia, exerce sua função social; traz a propósito os fatos, respeitando seus leitores; cumpre direito legal seu numa sociedade democrática, livre. Perdem-se dois ou três ledores ora ou outra, por motivos vários, mas nunca a credibilidade, pois, politiqueiros não podem jamais atirar a imprensa sã na mesma pocilga na qual chafurdam. E é politicagem também tentar manipular os fatos ou culpar outrem por suas próprias mazelas, erros e condenações, querendo fazer crer que são perseguidos quando, na verdade, são perseguidores: de poder, de cargos, de dinheiro e de consciências.

Meus conselhos são: desconfie quando a palavra “povo” sair deliciosa da boca de algum político, tal qual o beijo de Judas na face de Jesus, que, por fim, corrompeu-lhe o destino. Observe seus gestos e preocupa-te com os que muito beijam, muito abraçam e buscam afagar-te em demasia, pois os que gracejam a toa sempre querem algo em troca. Não permitas, jamais, ter com políticos intimidade exagerada, porque aos íntimos raramente se lhes cobra retidão; e perdoam-se, facilmente, suas improbidades. Quando adjetivos como inocência, caráter, seriedade e lisura são freneticamente destacados – por eles próprios – como qualidades suas, cuidado: por detrás da cortina de tule, escondem-se na verdade os antônimos dessas palavras; basta uma mirada austera. Ademais, tudo que é belo nos salta aos olhos e não carece que movimentemos os lábios senão para nos pasmar.

Concluo que a ninguém é dado prever o futuro daquela terra, daquela gente comprovadamente honesta. Logo, não sabemos ainda se melhor, igual ou até mesmo pior será seu fado. Mas que a decência a acuda, mantendo-a coberta com seu manto protetor. Importante é que hoje, mais do que nunca, foi erguido seu braço apontando para um novo norte.