Dia Nacional da Consciência Negra

Nas manifestações anteriores, sobre o Dia Nacional da Consciência Negra – reverência a Zumbi dos Palmares, assassinado em 20 de novembro de 1695, por resistir à escravidão através dos Quilombos -, abordei o histórico, os efeitos sociais e as ferramentas anti-preconceito.

Neste ano, lamento outro fato, igualmente vergonhoso: a abolição da escravatura no Brasil, em 1888, não eliminou o trabalho escravo e seus efeitos perversos. Foi apontada pelo jornal DC (10/11/10): “uma situação de trabalho similar ao de escravos foi flagrada, ontem, no interior de Xanxerê. Quinze trabalhadores, entre eles duas mulheres, tomavam banho no rio e dormiam amontoados em beliches, em duas peças de uma casa velha com apenas 30m²”. E, ainda em maio deste ano, a mídia catarinense registrou “a libertação de trabalhadores de uma ervateira em Ipumirim, onde se encontravam alojados num antigo Chiqueiro” .

Se esta barbárie acontece em Santa Catarina, cujos indicadores sociais estão bem acima da média brasileira, pressupõe-se que, nos longínquos rincões, ocorram coisa piores. Não foi por acaso que a ONU, no relatório apresentado em setembro deste, no Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, criticou o Brasil pelo “uso continuado do trabalho escravo”.

Note-se que, nestes casos, os escravos não têm pele negra. Não são homens e mulheres que vieram forçados da África para serem escravizados na América, como se aprendeu nos livros didáticos. São pessoas exploradas pelos seus semelhantes, remontando-se à antiguidade clássica, quando eram feitos escravos os derrotados nas guerras, independente da cor da pele. Significa que a escravidão, nos primórdios da humanidade ou nos dias atuais, aqui ou alhures, mais ou menos cruel, perpassa cor e raça, para justificar-se, embora não admitido, na busca do lucro, valendo-se do subjugo de seu suposto semelhante, com poder e força inferior.

Será que se não forem adotadas medidas enérgicas os escravos de hoje também serão vendidos e comprados como se fossem animais, como o foram os escravos negros? Sofrerão cruéis castigos físicos em praça pública? Serão violentados sexualmente? Separados das famílias, proibidos de praticarem as suas religiões, trocados os seus nomes, para perderem as suas identidades e as suas referências como gente e como pertencentes a uma família e a uma nação? Talvez por isto, a ONU, ainda no citado relatório, pede pressa na aprovação e execução da Emenda Constitucional que preconiza a expropriação das propriedades de quem pratica o trabalho escravo.

Por isto, é preciso que neste 20 de novembro, em que se lembra os 305 anos da morte de Zumbi, todos aqueles que se indignam com a iniquidade humana, adicione esforços pelo 1) combate ao preconceito originado na escravidão negra, oficialmente abolida há 122 anos, e que se constitui em grande obstáculo para que ocorra mobilidade social de parcela significativa da população; 2) pela reparação daqueles que foram ou são vítimas da descriminação; 3) pelo fim definitivo da escravidão; e 4) pelo respeito aos diferentes (étnicos, estéticos, religiosos, e outros…). Condição fundamental para a exaltação da dignidade humana, para que o Brasil desenvolva-se e a civilização avance.