Dever do político, direito do cidadão

Eles estão voltando. Como ocorre de período em período, ou seja, de dois em dois anos, eleições no Brasil em níveis diferentes, 2010 está chegando e o país prepara-se para mais um embate eleitoral. Em Santa Catarina, embora com nomes previstos, mas ainda sem nenhuma definição oficial dos partidos, muitos pretendentes a cargos eletivos já iniciaram caminhada por todos os cantos do estado buscando apoio na base para futura candidatura ou possível coligação. Para formalizar alianças, as agremiações partidárias, em sua grande maioria, curvam-se a ataques pessoais sem jamais se preocupar com o que há de vir.

Incrível como os chamados profissionais do jogo eleitoreiro passam a borracha em tudo para tentar persuadir o eleitorado e alcançar o cobiçado cargo. As visitas acontecem com frequência em praticamente todas as microrregiões, numa demonstração até patética de que eles sempre estiveram e estarão comprometidos com as reivindicações, necessidades básicas e macro da coletividade. Na Amurel, por exemplo, os paraquedistas, termo específico para aqueles que desembarcam apenas nesta época, já podem ser vistos em grande escala na área.

Os que estão com mandato aproveitam tal ocasião para visitar locais onde passam apenas em oportunidades incomuns, cumprimentam, abraçam pessoas, pegam crianças no colo, falam sobre convênios e verbas para entidades, associações entre outros, caracterizando extremamente gesto de puro cinismo e oportunismo. Por outro lado, sem ter o principal trunfo na mão, o poder, os que estão na oposição tentam desestruturar e desvirtuar a estratégia de seus adversários. Isto não é novidade para ninguém, mas quem possui eloquência, talento de convencer, exaltar ou comover falando, fatalmente consegue manter o ludíbrio e transformar o espetáculo a seu favor. Já que para político promessa jamais foi dívida, não é difícil escutar, nestes encontros, a verdadeira solução para tudo e para todos os problemas. Como nenhum deles possui a famosa varinha de condão, tampouco nutre real interesse pelas maiores causas popular, a gloriosa classe vai ofuscando cada vez mais sua própria imagem e credibilidade perante a nação.

A inércia do gestor público, invariavelmente, alija as possibilidades coletivas. Por isso, mudança radical no processo poderá, em parte, regularizar este complicado e arcaico sistema político em vigência. A reforma política, que por ensejo já esteve em pauta para análise no congresso nacional, tem de sair urgentemente da gaveta e voltar à discussão e apreciação de toda sociedade. Três questões principais devem fazer parte do novo texto: o financiamento público de campanha, fidelidade partidária e o mais polêmico de todos, o voto em lista. Enquanto nada acontece, situações ilegais e constrangedoras, desrespeito ao cidadão e muito dinheiro público e privado (grande parte escusa) fazem a diferença durante a batalha eleitoral.

Para minimizar um pouco o impacto, através de denúncia e de processo, alguns acabam sendo punidos com o rigor da lei. Perdem o espaço, momentaneamente, mas não a condição de continuar exercendo a vida pública. Votar é cidadania e conquista do povo, escolher errado pode ocasionar consequências irreversíveis em detrimento de todos. Diante de fatos, não há alternativa para o eleitor a não ser fazer valer seus legítimos direitos punindo-os rigorosamente nas urnas.