Amnésia social

Na história da humanidade, existem fatos históricos que, por mais que o tempo passe, não esquecemos, ficam marcados em nossas mentes e, com certeza, serão fatos marcantes na vida de nossos descendentes. As histórias mais lembradas, por exemplo, são as de traições. Quem lembra de Sansão e Dalila? Um Homem de grande força física apaixonou-se por uma sacerdotisa filisteia de nome Dalila, no entanto, impedida de se casar com seu amor, por seu pai, a moça acolhe o pedido de líderes filisteus, queriam descobrir qual a fonte da força descomunal de Sansão.

Por três vezes, perguntou de onde vinha sua grande força e ele por três vezes mentiu. Primeiro, disse-lhe que, se o amarassem a sete fibras novas de arco, que não tivessem sido postas para secar, perderia sua força; depois, se o prendessem a cordas novas, não teria como soltá-las; e, por último, se tecessem as sete madeixas da sua cabeça com uma rede e a apertassem com um grampo, seria seu fim. Nada disso funcionou. Porém, depois de algum tempo apaixonado, Sansão revelou seu segredo a Dalila:
“Uma lâmina jamais passou na minha cabeça, se os cabelos forem cortados, a minha força abandonar-me-á e então ficarei fraco como qualquer homem”. Após adormecer, Dalila o traiu cortando seu cabelo e sansão foi preso pelos filisteus.

Alguns séculos mais tarde, nasceu em Belém um homem chamado Jesus, filho de Deus, que entregou sua vida para livrar os nossos pecados. Sabemos também que ele foi traído por Judas Escariotes (apóstolo). Judas foi infiel em troca de trinta moedas de prata, e identificou Jesus para os seus assassinos com um beijo, conhecido como o “beijo da traição”. (Já profetizava o Salmista:) “Se a ofensa viesse de um inimigo, eu a teria suportado, se a agressão partisse de quem me odeia, dele teria me escondido. Mas tu, meu companheiro, meu amigo íntimo, que te sentavas à minha mesa e comias comigo doces e manjares!” (Sl54, 13-15). Mas tu!

Já no século 18, no Brasil, a figura inesquecível é a de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes). Um idealista que se envolveu de corpo e alma na inconfidência mineira (movimento revoltoso ocorrido em 1789, na cidade de Vila Rica, hoje Ouro Preto, a favor da emancipação do Brasil da corte portuguesa). Naquela época, os portugueses obrigavam os brasileiros a pagar muitos e altos impostos. Dentre os mais pesados, estava os dos mineradores, que tinham que dar a quinta parte de todo o ouro encontrado à corte portuguesa. O não pagamento dos impostos obrigatórios gerava a “derrama”, ou seja, a cobrança à força de impostos extras. Fato que alavancou o idealismo de libertação de Tiradentes e seus aliados. Porém, não fugindo à regra, Tiradentes também tinha seu amigo “traíra” (traidor), de nome Joaquim Silvério dos Reis, que entregou os revoltosos para os portugueses. Por fim, o único que se manteve fiel ao ideal foi Tiradentes, sendo enforcado no dia 21 de abril de 1792, no Rio de Janeiro. Seu corpo foi esquartejado e espalhado por pontos estratégicos da cidade, para coibir futuros opositores. Antes de ser enforcado, disse: “Cumpri com minha palavra, morro pela liberdade!”.

Como podemos observar, os exemplos citados são histórias centenárias e milenares de pessoas que foram traídas por quem menos esperavam. E estes acontecimentos estão frescos em nossa mente, no entanto, somos incapazes de lembrar em quem votamos nas últimas eleições. Sabe por que lembramos desses fatos? Simplesmente porque Sansão e Dalila virou um belo filme, Jesus virá nos salvar e o dia de Tiradentes é inesquecível, pois é feriado nacional. O povo vem sendo traído diariamente por seus governantes, que prometem e não cumprem nem ao menos as necessidades fundamentais de uma nação, que já sofre tanto. Precisamos manter nossas mentes frescas para demonstrar nas urnas que não somos idiotas e estamos atentos aos nossos direitos. Quem não trabalha para o povo deve manter-se longe da gestão pública, pois já estamos cansados de ouvir lorotas de políticos que agem em beneficio próprio, e esquecem da população que os elegeu. Em contrapartida, quem trabalha deve ser recompensado com nosso voto de confiança, pois, assim como a cabeça do bacalhau, políticos sérios existem.