A Unisul não é Cuba e o reitor não é Fidel

Em um artigo na edição de domingo (13/04/08, p. 2) assinado pelo diretor de redação do jornal Diário do Sul, a Unisul foi comparada ao sistema ditatorial castrista.

Do ponto de vista científico (ciência política), eleição indireta é uma das modalidades do sistema democrático de representação. Na democracia direta, o povo decide diretamente. Na democracia indireta, ou representativa, o povo escolhe diretamente seus representantes ou tais representantes são escolhidos por um colégio eleitoral representativo da comunidade.

Portanto, eleições indiretas também tipificam o sistema democrático. Podemos optar entre escolha direta ou escolha indireta, mas tanto o voto direto quanto a escolha de representantes por meio de outros representantes tipificam o sistema democrático. Nos EUA, a escolha do presidente é feita por delegados dos estados.

No Brasil, por meio do voto indireto, escolhemos Tancredo Neves. E por meio do voto direto, Fernando Collor. Em Brasília, o reitor escolhido pelo voto direto é atualmente objeto de manifestações da comunidade pela sua demissão.
Nenhuma das duas modalidades democráticas de escolha (a direta e a indireta) é perfeita. Mas ambas são constitutivas da democracia.

Em relação ao poder judiciário, outro exemplo, no Brasil não se vota em juiz, mas o ingresso na magistratura é democrático, já que as comissões de concurso (instrumento para tal ingresso) foram instituídas pela Constituição que, por sua vez, foi elaborada indiretamente pelo povo por meio de seus representantes (deputados constituintes).

No caso da Unisul, é utilizada a votação indireta. O autor do artigo manifestou preferir a votação direta, mas não apresentou razões técnicas, políticas, administrativas que justificassem a superioridade da sua escolha. Quem deseja o voto direto pode defender tal posição, mas com argumentos cognitivos.

Todavia, além de não apresentar razões cognitivas para sustentar a própria posição, o autor do artigo praticou a leviandade de assemelhar a Unisul (uma universidade) à ditadura cubana (sistema macropolítico). Ora, a Unisul tem seus defeitos, mas assemelhá-la ao sistema castrista é um despropósito. Aliás, outro despropósito foi utilizar a expressão “rainha da cocada” ao se dirigir à Unisul em artigo precedente.

Espera-se de um diretor de redação objetividade analítica e terminologia compatível com a importância do veículo de comunicação que dirige. Ao invés disso, os artigos de sua cruzada contra a Unisul são elencos ácidos de insultos despropositados.

Tal diretor insinuou (sempre por meio da comparação) que as consultas democráticas, responsáveis, abertas (divulgadas inclusive no jornal do autor do artigo) feitas pelo atual reitor possam remeter nossa memória às manobras ditatoriais de Fidel Castro. O reitor é um funcionário sério da Unisul que deveria ser ao menos respeitado. É prática comum nas sociedades democráticas a escolha de um candidato a sucessor.

Cuba, caro diretor, é bem diferente da Unisul. Criei laços de amizade com muitos cidadãos cubanos que vivem no exílio e posso garantir que a situação na Unisul não é nem um pouco semelhante à triste situação de meus amigos cubanos, que adorariam trabalhar na universidade.

No caso da Unisul, vários motivos políticos e administrativos me levam a preferir, convictamente, o voto (democrático) indireto.
Não somos perfeitos. Temos nossos defeitos. Devemos melhorar, mas a Unisul não é Cuba e o reitor não é Fidel.

Nós, professores e funcionários da universidade, somos colaboradores críticos e responsáveis de um grande e belo sonho de desenvolvimento regional chamado Universidade do Sul de Santa Catarina. Sonho de vez em quando golpeado como saco de pancadas por razões nem sempre bem definidas. Porém, graças a Deus e à força crítica e criativa dos pioneiros de ontem e de hoje, o sonho Unisul continua vivo e forte.