A (im)previdência

Mario Eugenio Saturno – Tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

A reforma da Previdência suscita na sociedade uma batalha de opiniões e desinformações. Todo mundo acha que entende alguma coisa e emite opiniões desencontradas com a realidade. As informações também são confusas, complicadas e há uma matemática financeira complexa.

A primeira opinião a descartar são aqueles que dizem que não há déficit, esses não entendem nada ou mentem, como mentiram muitos e, quando tornaram-se governo, passaram miraculosamente a enxergar e admitir o tal déficit que não existia. O problema é a visão ingênua de alguns que calculam o quanto entra de contribuições e o quanto se paga… É claro que ainda é superavitária… Mas o aumento de aposentados faz essa lógica implodir por sua simplicidade.

Os bancos costumam ter planos de complementação salarial e isso traz alguns problemas graves, mas ocultos. Pouca gente deve ter ouvido falar dos montepios. Quando eu era criança, minha avó pagava o Montepio da Família Militar, um investimento que mensal que garantiria uma previdência complementar, mas foi à falência, junto com muitos outros. Por isso eu não confio em Previdência Privada, acabarão falindo.

Cada um pode e deve fazer sua poupança particular para complementar sua aposentadoria. Se usar a poupança garantida pelo governo federal, que paga 0,5% ao mês além da inflação, quanto teria que juntar para ganhar mil reais por mês? Uai, duzentos mil… E em quanto tempo para juntar isso, depositando cem reais? Aí vai precisar calcular mês a mês, ou usar uma planilha ou lembrar a equação da progressão geométrica que você aprendeu no Colegial, mas não tinha a menor ideia do que fazer com esse conceito… Aprendeu agora! Calculando, vai chegar a 480 meses, ou 40 anos. Aumentando para duzentos reais, chegamos em 359 meses ou, praticamente, 36 anos.

É claro que esse investimento passa a ser vitalício, ou seja, após sua morte, fica para seu filho, depois a seu neto, e assim por diante… De qualquer forma, a poupança garantida pelo governo, nem sempre cobre a inflação e não é o melhor investimento que alguém pode fazer. Com investimentos melhores é possível fazer mais, mas já é suficiente para entender a dificuldade de gerar renda.

Perceba que esses raciocínios não refletem a realidade de uma carreira, por exemplo, de pessoas com nível superior. Um engenheiro que comece ganhando cinco mil e se aposente com quinze ou vinte mil. Os servidores públicos contribuem com 11%, sem contrapartida do governo, três pontos percentuais a mais que o empregado do setor privado, que paga 8% com contrapartida do empregador de pouco mais de 12%. O servidor (antes de 2013) recebe salário integral, se se fizer uma planilha simulando isso, ver-se-á que o acumulado não dura uma década. Ou seja, aposentar pela média é o mais justo.

Temos ainda os que se aposentaram com vários salários mínimos e, hoje, recebem pouco mais que um salário mínimo. Isso se deve ao aumento real, acima da inflação, desse salário. É também responsável pelo déficit, já que a maioria recebe um salário. E quando se soma aposentadoria por invalidez, doença, de políticos, filhas de militares, etc. Insustentável! Mas quem deve pagar a conta?