A Amazônia tem dono? (fim)

Não há como salvar a floresta e o que resta da biodiversidade do mundo sem uma mudança radical na forma como o homem relaciona-se com a natureza. E a forma como o homem ocidentalizado faz isto (intrometendo-nos nos fluxos circulares do planeta e criando artificialmente, para a nossa sociedade, um fluxo linear, como destacou Rogério Grassetto Teixeira da Cunha em seu último artigo) sempre envolve degradação contínua.

Isso porque tal relação está ancorada no crescimento econômico infinito e na ampliação ilimitada do mercado consumidor e do consumo em si. Enquanto não compreendermos que essa forma de gerir o mundo significa a ruína da nossa espécie, a Amazônia continuará sendo devastada, seja nas mãos de administradores brasileiros ou não. Não conseguiremos sair do atoleiro. Pior, nos afundaremos nele até nossa extinção.

Com a questão amazônica, o Brasil e nossos principais líderes temos à nossa frente a chance de criar novos paradigmas e de apresentar ao mundo respostas para grandes dilemas pós-modernos. Podemos nos transformar em uma das principais lideranças neste novo caminho que se apresenta, onde defuntos ainda não enterrados – como o pensamento eurocêntrico, por exemplo – deverão ser finalmente substituídos por novos valores, mais humanos e indicadores de uma evolução espiritual que já vem se tornando clara em muitos lugares. É premente a adoção por parte de nossos líderes de uma política que realmente demonstre – não apenas no discurso, mas, na prática – preocupação com o valor não-monetário da floresta.

Uma política que não olhe seus espetaculares rios apenas como fontes de energia elétrica para abastecer um sistema condenado ao fracasso. Uma política que não enxergue apenas pasto, bois e soja onde há floresta. Uma política que veja a floresta como vida, e não como metros cúbicos de madeira. Para isso, é preciso muita coragem e estar preparado para enfrentar muitas forças contrárias. Mas o momento é único e a vitória é certa, uma vez que não há outro caminho a seguir.

Os meios de comunicação têm uma função primordial nesse novo desafio para o qual todos estamos sendo chamados. Então, você, caro colega jornalista que passeia pelas alamedas do Hyde Park e que quer ajudar, precisa entender que a forma mais inteligente de fazer sua parte para salvar a Amazônia não é defender que a área torne-se território neutro.

Preciso te dizer que dá um pouco mais de trabalho do que isso. Você deve, isso sim, aproveitar as preciosas páginas de seu influente jornal para defender, sabendo que isso vai exigir de você muita perseverança e paciência, uma mudança geral de pensamento dos homens (dos seus leitores em primeiro lugar), fazendo-os refletir sobre o sentido do consumismo.

Para abrir mais espaço para a discussão de novas idéias e modelos de sociedade. Para exigir das companhias com sede em seus países que respeitem o meio ambiente no exterior. Para estimular a reflexão sobre causas primeiras do desequilíbrio ecológico, que estão muito além das pressões para construção de hidrelétricas na Amazônia ou do pensamento de figuras como Blairo Maggi.

Essas causas estão, sim, inseridas nas atitudes cotidianas de todos nós, a começar pelos europeus e norte-americanos, os mais ricos e mais consumistas do mundo. Deve ainda usar seu jornal para incentivar formas genuínas de cooperação para a preservação, sem atitudes arrogantes nem paternalistas. Isto nos obrigaria a olhar também para o nosso próprio umbigo, a nos envergonharmos dele e a tomarmos também atitudes reais e efetivas, não bravatas inócuas.