A escola do medo

Víctor Daltoé
Geógrafo pela UFSC
victordaltoe@gmail.com

Logo após a martelada final sobre o resultado das eleições neste domingo (28), a deputada estadual eleita para o Partido Social Liberal (PSL) para Santa Catarina Ana Caroline Campagnolo, lançou uma campanha polêmica. Em seu post, que circulou pelas redes sociais, incitava os estudantes do Estado a filmar ou gravar professores que se manifestassem em sala de aula contra do presidente eleito democraticamente Jair Bolsonaro, relatando sua escola e nome do professor. A deputada é defensora ferrenha do polêmico projeto Escola Sem Partido.

A atitude acende um alerta. Diversos regimes autoritários e totalitários, de direita ou de esquerda, agiam dessa forma de modo a constranger opositores de seus regimes, utilizando da ferramenta da denúncia de “traidores” específicos, para o seu posterior escracho, repúdio ou linchamento público. Do lado dos comunistas, isso ocorreu na Revolução Cultural do regime comunista de Mao Tsé-Tung, o qual governou a China entre 1949 e 1976, e incitava os alunos a denunciarem professores que se colocassem contra o “grande líder”. Do lado da direita, isso ocorreu nos regimes fascistas italiano e alemão, de Benito Mussolini e Adolf Hitler, que buscavam silenciar (para utilizar uma palavra leve) os opositores.

Qualquer projeto ou movimento, como o encetado pela dita deputada, que tolhe a liberdade do professor não apenas acaba com a hierarquia funcional que há em sala de aula, com o professor ocupando seu topo, como fere os artigos da constituição que dizem respeito à liberdade de opinião, nos aproximando de tendências totalitárias. O Projeto Escola Sem Partido afirma que o Estado deve estabelecer regras para o que pode ou não ser dito em sala de aula. Os seus defensores, majoritariamente posicionados em um certo ramo da direita não-liberal, não percebem o quanto esse mecanismo criado pelo Projeto poderia, por exemplo, ser utilizado por um eventual governo de esquerda para uma doutrinação esquerdista. É um tiro que dão nas próprias pernas.

Uma escola “sem partido”, como diz o título enganador do sobredito projeto, é uma escola em que o professor vive com medo, é refém dos alunos e onde não há possibilidade de ensino digno, já que os alunos que comandam o professor. Acaba autoridade. É o mundo virado do avesso, como queriam Mao, Hitler e Mussolini. Uma escola estatal porque tutelada pelos governos de plantão. É a escola do medo.