Com um forte aparato policial, mas sem tumultos, assim foi a parte da manhã do júri popular do homicídio de Vitor Pinto, 2 anos, da Tribo Caingangue. A audiência ocorre no plenário da Câmara de Vereadores de Imbituba, cidade onde foi registrado o assassinato. O réu, Matheus de ávila Silveira, confessou ter cortado o pescoço da criança porque uma ‘entidade espiritual o ordenou’ cometer tal atrocidade. O crime foi executado no fim de dezembro de 2015, na antevéspera de Ano-Novo, nas proximidades da rodoviária. Este é um dos júris mais aguardados da história da região. Matheus é réu confesso, e não deve escapar de uma condenação. Ele declarou ter matado Vitor à Polícia Civil.
A sessão iniciou às 9h30min e a primeira parte das declarações ocorreu até um pouco depois do meio-dia. Às 14h30min, os trabalhos serão retomados, e devem ser concluídos somente à noite. Havia a expectativa de que um grande número de índios da tribo da vítima comparecesse, vindos do Oeste e Meio-Oeste do Estado, mas, segundo informações extraoficiais, não foram disponibilizados ônibus para o transporte. Mesmo com a aparente tranquilidade dentro da Câmara e no entorno, homens do Pelotão de Policiamento Tático (PP) e da Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas (Rocam) da Polícia Militar estão de prontidão no local. O homicídio chocou o Estado pela brutalidade. Vitor foi morto em plena luz do dia. A criança era amamentada quando Matheus se aproximou e desferiu um golpe de estilete na garganta do menino. Antes da morte do filho, a mãe, ao ver que o assassino se aproximava, pensou que o estranho iria apenas fazer carinho no filho.
A família de Vitor tinha vindo da aldeia Condá, Oeste do Estado, para vender artesanato no Litoral catarinense. Inicialmente, Matheus ficou detido na Unidade Prisional Avançada (UPA) de Imbituba, depois foi encaminhado ao Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, na capital do Estado.
Segundo especialistas e o seu advogado, o assassino tem Transtorno de Personalidade Borderline, e alegou à polícia ter praticado o crime por questões religiosas, teria afirmado que foi ‘orientado a sacrificar uma pessoa com grande repercussão’. Isso lhe abriria os caminhos e lhe traria notoriedade, inclusive no campo profissional.
Matheus estava desempregado e tinha 23 anos quando cometeu o crime hediondo, era paciente de um posto de saúde municipal. Não conseguia ficha para psiquiatra e relaxava na medicação.
Seu perfil, no Facebook, sob o codinome Moxa Zombiie, indicava ‘uma mente perturbada’. Em uma imagem, ele homenageia os adoradores das trevas. Parentes dizem que ele é viciado em drogas e alcoólatra. Vivia na rua. Já tinha tentado matar os pais a facadas.
Imagens da vigilância do terminal mostraram detalhes do fato e ajudaram na identificação do autor, que se condenado poderá pegar até 30 anos de reclusão, mas a defesa declina para uma linha de ação sob efeito de surto psicótico, e poderá ter pena minimizada e/ou, até mesmo, cumprida em colônia penal agrícola, mas dificilmente fugirá de uma absolvição.