Profissionais de saúde falam sobre suicídio

Foto:Divulgação/Notisul
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Kalil de Oliveira
Tubarão

Perda de emprego, problemas financeiros, desilusão amorosa, depressão, separação, a dor de ter perdido alguém importante, entre tantos outros. O que leva ao suicídio? No nono mês do ano, a campanha Setembro Amarelo, em Tubarão, pretende esclarecer o tema novamente. O projeto este ano, discutido por especialistas, prevê palestras e diversas intervenções em meio à população.

Um dos colaboradores do folder informativo produzido pela Associação Catarinense e Brasileira de Psiquiatria, o professor Allan Bussolo, de Tubarão, é um dos mobilizadores. Na quinta-feira da próxima semana, na Unisul, às 19h30min, ele será um dos integrantes do grupo que irá proferir a palestra “Amor à vida”, que é gratuita e aberta à população. “Vamos abrir o coração e falar sobre o tema. A desinformação é a principal barreira ao auxílio a pessoas que podem estar em riscos de suicídio”, sugere.

Allan e outros profissionais também vestirão as cores da campanha no desfile cívico de 7 de Setembro. “Um indivíduo desesperado, desamparado, desesperançoso e tomado de intensa angústia, na grande maioria das vezes sofrendo de transtorno mental, a depressão e o uso de drogas, pode ter sua vida salva com uma escuta compreensiva”, argumenta o doutor.

Olho na depressão
A psicóloga Marília Salvalaggio, com 22 anos de experiência na área, também destaca o empenho dos colegas, o psiquiatra Rodrigo da Rosa Silveira e a psicóloga Patrícia Pozza, para inaugurar em Tubarão um serviço especializado na prevenção ao suicídio, o Centro de Valorização da Vida (CVV). Para a especialista, o tema está relacionado a doenças como a depressão. “Para tratar estas doenças que levam ao suicídio é muito importante estabelecer vínculos ou laços sociais e um destes é o esporte”, defende.

No próximo dia 10, durante as atividades do Dia D, organizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), os mobilizadores da campanha promovem uma caminhada com a distribuição de fôlderes. "Ainda estamos com camisetas à disposição para quem quiser participar conosco, a R$ 20”, convida Pozza, que dirige uma reunião hoje, às 20 horas, no Cedup, em Tubarão, para fechar os últimos detalhes com os voluntários interessados. Outras informações podem ser obtidas pelos números de telefone (48) 9161-3161, com Patrícia Pozza, e (48) 9911-9824 com Deize Rocha Juncklaus.

Especialistas alertam para a tese do suicídio como problema de saúde pública. A cada 40 segundos uma pessoa comete o suicídio no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), que prevê para 2020 um dado alarmante: a depressão será a doença mais incapacitante do planeta, com acréscimo de 50% na incidência de suicídio em todo o mundo.

Quem pode ajudar?
O risco de tentar o suicídio é uma emergência médica. É possível encontrar ajuda em serviços de urgência e pronto-atendimento clínico e psiquiátrico, além dos postos de saúde. A equipe Saúde da Família pode fazer a avaliação e os encaminhamentos necessários. O Centro de Valorização da Vida (CVV) também existe como serviço sigiloso de apoio emocional para quem está com a intenção de se matar. Disque 141.

Entrevista | Patrícia Pozza
“O suicida pede socorro”

A psicóloga Patrícia Pozza tem mais de 20 anos de atuação e se tornou uma das maiores defensoras de um trabalho preventivo ao suicídio em Tubarão e região. Segundo ela, as pessoas que, em geral, pretendem o suicídio, grande parte das vezes já começam a dizer aos familiares que as coisas não vão bem.

Notisul – Professora, quais sinais revelam um suicida?
Patrícia –
É óbvio que há exceções, de pessoas que não revelam que pretendem se suicidar, mas grande parte das vezes pedem socorro aos familiares e aqueles que estão ao redor, colegas de trabalho, amigos. Até por Facebook hoje isso acontece. Só que esse pedido de socorro não é explícito. São insinuações de que a vida não está boa, de que, quem sabe, se acabasse com tudo ficaria melhor. As pessoas se sentem intimidadas, não conversam sobre o assunto e nem buscam muitas vezes procurar informações. Essas pessoas precisam de uma escuta diferenciada, de ouvir que são amadas, um abraço, e serem levadas a um profissional do campo da saúde.

Notisul – O auxílio dos familiares pode salvar vidas, então?
Patrícia –
Sim, mas não é tudo. O apoio, o carinho, a escuta dessas pessoas deve acontecer, mas também deve levar a pessoa a um profissional da saúde e se informar sobre as doenças que acabam facilitando aquele que tem a pré-disposição. Em geral, a esquizofrenia, a depressão e principalmente também a dependência química.

Notisul – Há um serviço de apoio?
Patrícia –
Em todo o momento em que as pessoas precisarem conversar com alguém, nós temos o número 141, que é o Centro de Valorização da Vida, o CVV, instituição pública federal que atende 24 horas, a toda a população no Brasil.

Notisul – Como são os índices de suicídio?
Patrícia –
Nós temos aqui perto, em Braço do Norte, os índices mais elevados e maiores que a média nacional. Embora isso, a questão do suicídio ainda é considerada um problema de saúde pública. Então, é fundamental que nós tenhamos instituições que trabalhem para as pessoas compreenderem que podem adoecer emocionalmente e que as dificuldades levam a pensamentos de querer acabar com tudo. Principalmente, para  divulgarmos que podemos viver melhor e fazer uma sociedade melhor. É uma questão de prevenção.

Notisul – Então, prestar atenção nas emoções é importante?
Patrícia –
Exatamente. O aspecto emocional é fundamental em nossa vida. A emoção é o que dá energia em nossas ações. Se nós vamos trabalhar, é porque precisamos ter motivação em nosso trabalho, se vamos namorar, nos relacionar, educar os filhos, precisamos estar bem emocionalmente para isso. Aí é fundamental que a gente promova em nossa sociedade estratégias para viver melhor e, portanto, prevenir as doenças mentais e fazer um mundo melhor.