Livros preservam registros de escravos

A escrituária Terezinha cuida dos registros de batismo e casamentos há 30 anos.
A escrituária Terezinha cuida dos registros de batismo e casamentos há 30 anos.

Karen Novochadlo
Tubarão 

As páginas estão amareladas e algumas têm marcas da ação de traças. Trata-se de um livro de registros, que contém dados históricos de batizados de filhos de escravos que viviam na região de Tubarão. O material tem mais de 100 anos é protegido e catalogado pela Cúria Diocesana no município.
Na verdade, são dois livros. Guardam registros que datam, respectivamente, de 1848 a 1871, e 1937 a 1872. O primeiro refere-se aos batizados registrados na paróquia Santo Antônio dos Anjos, de Laguna. O outro é da paróquia Nossa Senhora da Piedade de Tubarão.
 

“Os livros são um tesouro”, revela a escriturária Terezinha Volpato, 59 anos, 30 de trabalho na diocese. Nas páginas, constam, em uma caligrafia que só possível ler com lupa, nomes de escravos, datas de nascimentos dos filhos, padrinhos e os nomes de seus donos.
“Antigamente, as pessoas tinham o costume de batizar a criança o mais rápido possível, já que a mortalidade infantil era alta na época”, explica Terezinha. A crença era que os filhos não poderiam morrer pagãos.
 

Os registros civis do século 17 são escassos. A maioria das pessoas não registrava os filhos, contudo, não deixava de realizar o batismo. Portanto, os poucos documentos que se têm são estas certidões.
Uma curiosidade é que as crianças estão registradas somente com os nomes das mães, seguidos pelos nomes dos proprietários das mulheres. A escravidão foi abolida no Brasil em 1888.

Um dos registros do livro
“Em 14 de outubro de 1871, nesta matriz Santo Antônio dos Anjos da cidade de Laguna, baptizei e pus os santos óleos no inocente Pedro, pardo, nascido a 23 de fevereiro, último filho natural de Donata, parda, e escrava de Danilo Lopes de Alcantara, padrinhos Lucas Rodrigues Araça e Júlia Amélia de Araújo e para constar mandei fazer este assento que assignei Vigário colado Manoel João Luiz da Silveira”.

Cuidados com os livros
A escriturária Terezinha Volpato, 59 anos, tem um verdadeiro amor pelos registros de batismos da Cúria. Ela não permite fotos dos livros mais antigos ou mesmo xérox: a luz pode danificar as páginas.
Os dados de todos os livros foram sistematizados no computador. A ideia é preservá-los e facilitar a consulta. Terezinha conta que é bastante comum às pessoas, principalmente de origem italiana, requisitarem documentos de batismo.