Lis e Mel: detalhes sobre o incrível caso das siamesas separadas no DF

O procedimento de separação das gêmeas começou a ser planejado quando elas ainda tinham dois meses e o médico Benício Oton de Lima confirmou, por meio de exames, que a operação seria viável pois elas compartilhavam apenas uma pequena parte do cérebro que poderia ser retirada sem danos. “O dia em que ele disse que poderíamos separá-las foi de muita felicidade para mim”, lembra a mãe das meninas Camilla Vieira Neves, 25 anos.

A equipe médica considera que a ligação das meninas, no lóbulo frontal direito dos crânios, facilitou o trabalho de separação, na medida em que permitiu que as crianças pudessem se desenvolver normalmente. “Não são pacientes acamadas. São pacientes saudáveis, que tiveram o crescimento e o desenvolvimento motor perfeitamente normal”, destaca a anestesiologista Liliana Teixeira. O mais comum entre os siameses craniopágos (ligados pela cabeça) é que a junção seja no topo dos crânios, o que os obriga a viverem na horizontal, prejudicando as condições de saúde.

Mel e Lis já falam palavras simples, como “mama” e “papa”. Ficam de pé e conseguem dar pulinhos. Antes da cirurgia, a mãe explicou a elas que os médicos as colocariam para dormir, mas que, quando acordassem, os pais estariam do lado de fora esperando-as. O momento em que a mãe viu as meninas separadas – Mel foi a primeira sair do centro cirúrgico, foi de grande emoção. “Olhei minha filha e ela estava perfeita. Igual a uma boneca”, afirma Camilla. Lis foi a primeira a despertar depois da anestesia. No fim da tarde de segunda (29/04/2019), ela já não estava mais entubada.

Nas fotos da cirurgia, há uma equipe com toucas rosas e outra com toucas amarelas. A equipe rosa era responsável por Lis e a amarela por Mel. Os instrumentos cirúrgicos usados em cada uma delas também estavam identificados com fitas adesivas das duas cores. O objetivo era garantir que não houvesse nenhum tipo de confusão durante os procedimentos realizados nas crianças. Enquanto uma equipe operava Mel, a outra operava Lis. O método de separação por cores foi descoberto pela médica Liliana Teixeira, ao revisar a literatura científica sobre separação de siameses.

Durante todo o mês de abril, os médicos envolvidos no procedimento fizeram ensaios práticos diariamente com bonecos impressos em 3D que tinham as mesmas medidas das meninas. Os ensaios eram feitos à noite, pós-horário de trabalho, para que o procedimento de separação pudesse ser previsto nos mínimos detalhes. Como estavam ligadas, a posição dos corpos durante a realização das cirurgias era muito importante.

O final da cirurgia, às 2h30 de domingo, depois de cerca de 20 horas de trabalho, foi seguido por uma catarse coletiva que envolveu a equipe cirúrgica, os pais e os familiares das crianças. Ao deixar o centro cirúrgico, muitos se abraçaram e choraram. “Realmente foi emocionante”, afirmou o anestesiologista Luciano Alves Fares. O chefe da equipe, o neurocirurgião Benício Oton de Lima contou que foi necessário pedir que os profissionais fossem embora, de tão envolvidos que estavam com o que tinha acontecido. “É um time muito unido, que participou de um grande momento junto.”