Instituto do Câncer transforma salas de exames e quimioterapia em ‘aquários’ para crianças

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), apenas no ano passado, mais de 400 mil novos casos de câncer foram registrados em nosso país. No recorte, estimativas apontam mais de 12,5 mil novos casos de câncer entre crianças e adolescentes.

O câncer entre indivíduos de até 19 anos costuma atacar as células sanguíneas, como é o caso da leucemia, o sistema nervoso central e o sistema linfático.

Tal doença é a principal causa de mortalidade (8% do total) entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos no Brasil. O diagnóstico precoce, no entanto, poderia salvar muitas vidas.

Segundo estimativas do INCA, quando diagnosticado precocemente, o câncer infantojuvenil tem um índice de cura de até 80% e, na maioria dos casos, os pacientes conseguem ter uma boa qualidade de vida após o fim do tratamento.

Entretanto, o tratamento bem-sucedido pode levar anos para ser concluído. Por isso é fundamental que ele seja o menos confortável possível para a criança ou adolescente.

Para a gerente da área de saúde do Instituto Desiderata, Laurenice Pires, “a experiência do tratamento com exames de longa duração, processos invasivos e quimioterapia pode causar mal-estar, traumas e doenças psicológicas para esses pacientes, que estão em fase de desenvolvimento físico e psicológico”.

Com esse pano de fundo, o Instituto Desiderata, que atua em sete unidades hospitalares do Rio de Janeiro, desenvolveu um projeto de humanização e ambientação dos locais de tratamento para essas crianças e adolescentes.

Os aquários

“Devido ao grande tempo que as crianças passam no hospital, horas, anos, decidiu-se humanizar os ambientes”, explica Laurenice. Apelidados de ‘aquários’, os espaços procuram acolher da melhor maneira possível as crianças e adolescentes que estão recebendo o tratamento contra o câncer.

Todas as salas de quimioterapia e de exames foram redesenhadas visualmente para lembrar o fundo do mar. As paredes coloridas foram decoradas com peixes e plantas aquáticas, e os equipamentos são personalizados para parecerem submarinos e cores frias, como o azul, predominam no ambiente com o objetivo de trazer calma ao paciente.

A ideia surgiu após um longo processo de pesquisa para se compreender qual era a melhor forma de criar um ambiente que trouxesse segurança e tranquilidade para os pacientes infantojuvenis, explica Laurenice.

Os aquários recebem muitas crianças que estão sendo atendidas pela primeira vez; logo, o espaço lúdico ajuda a tornar os processos médicos um pouco mais confortáveis para os pacientes.

“Às vezes, até os pais comentam que preferem o ambiente do aquário”, conta a psicóloga Juliana Mattos, que atende no Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. “O ambiente caracterizado como um aquário auxilia no processo terapêutico.”

Juliana enfatiza também que ser sincera com o pequeno paciente é a melhor maneira de fazê-lo aceitar o tratamento. Para a psicóloga, a compreensão da criança e do adolescente sobre a necessidade dos exames e processos realizados é essencial. Quanto mais desconhecido o procedimento for para o paciente, mais ele irá resistir.

É importante deixar claro para a criança que “chorar faz parte”, e que não é positivo esconder que certos processos causam dor ou desconforto.

Quando as crianças são muito pequenas, a psicóloga utiliza a técnica da ‘brinquedoterapia‘, estratégia que utiliza brinquedos da própria criança para a desmistificação do tratamento.

“Um cateter, por exemplo, é um processo doloroso. Por isso a enfermeira utiliza o brinquedo para exemplificar aquele exame”. Para ela, a brinquedoterapia é essencial para ser sincero com a criança, o que estabelece uma relação de confiança entre o paciente e seus cuidadores.

Fonte: Observatório Terceiro Setor/Fotos: Instituto Desiderata/Divulgação