Em meio a pandemia, igreja ‘reinventa’ a comunicação com os fiéis

Liliane Dias
Gravatal

Com o crescimento diário dos números de contaminados, a preocupação em evitar contatos é uma constante para a maioria dos brasileiros. A igreja católica por meio de seus representantes reforça que a preocupação com a vida está acima de tudo. Em uma reunião que ocorreu neste sábado (2), permanecem as definições vigentes como apenas celebrações online.

O pároco de Gravatal, Rafael Uliano, explica que para atender aos fiéis, os padres buscam se atualizar nos meios de comunicação e nas mídias digitais e que várias pessoas com mais idade estão aprendendo a utilizar os smartphones. “Claro que os mais jovens já estão conectados, mas os que tem mais idade, inclusive alguns que não tinham nem smartphone estão fazendo esta migração, porque a comunicação com os fiéis ocorrem pelos meios de comunicação”, pontua.

Algumas ações da igreja em virtude dos ritos estão suspensas, salvo exceções que são bem avaliadas. Mas o suporte emocional e espiritual segundo o sacerdote, é dado a todos que buscarem. “O sacramento da confissão, por exemplo, não dá para fazermos por meio de telefone ou whatsapp, mas uma orientação ou uma palavra de proximidade é possível”, explica.

Em tempos de pandemia, padre Rafael relata que há dificuldades para visitar os doentes nos hospitais. Por causa da preservação dos que estão lá e também do ministro religioso que deveria ir ao leito do hospital, os atendimentos são feitos por videoconferência, principalmente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Então é um reinventar-se a cada dia, com cada novidade que vai aparecendo”, acrescenta.

Com relação a comunhão por ser sacramento e um dos pontos mais importantes da missa, havia dificuldade de adequação, porém o governo já autorizou a comunhão da forma tradicional. “Primeiramente pensamos na questão da vida. O próprio Dom João já citou passagem bíblica que diz ‘eu quero a vida do meu povo’, como bispo diocesano ele também está preservando a vida”, afirma.

O sacerdote acrescenta que não se trata de uma decisão isolada. “É uma decisão que os bispos de todo o Estado definiram em reunião virtual”. Vale ressaltar também, que outros fatores são importantes. “As pessoas com mais de 60 anos e com qualquer vulnerabilidade não poderem ter acesso a missa. Todos deverão usar máscaras e utilizar álcool gel. Além disso, como evitar as aglomerações ao final da celebração?”, questiona.

Assim, as celebrações permanecerão online. Por enquanto somente um número estrito de pessoas devem ir à igreja para auxiliar na liturgia e cantos. O párocol explica que a igreja seguirá desta forma, até que a autoridade da igreja, no caso o bispo delibere diferente. “Acredito que perdure por um tempo necessário, até que se tenha um mínimo de tranquilidade, para que não sejamos futuramente carimbados por não termos seguido estritamente a norma”, observa.

Além disso, ele ressalta que a autoridade civil, no caso do poder executivo no Estado, possibilitou, mas obrigou a voltar as atividades. Agora cabe o discernimento da autoridade religiosa. “Acreditamos que seja muito complicado neste momento fazer qualquer tipo de aglomeração mesmo com a porcentagem de 30%. Vamos imaginar a Catedral de Tubarão, ela tem mais de 900 lugares, 30% disso daria em torno de 300 pessoas. Dada a bênção final e o padre permaneça no microfone, orientando a saída dos bancos para aglomerar nas portas é complicado”, assegura.

 

Ritos católicos

Mesmo com a utilização das redes sociais e as celebrações online, para o pároco os ‘ritos católicos’ não serão afetados. “O rito em si e o fato da distribuição da comunhão não seria tão fácil modificar. Agora, as formas de as pessoas terem acesso neste momento que é único para a igreja iremos cada vez mais utilizar”, afirma.

Ele explica que a eucaristia no entendimento da teologia católica, não é uma representação de Jesus. “Ela é de fato, claro não há uma transmaterialização, não muda a matéria depois da consagração, mas muda o que chamamos de transubstanciação, ou seja, aquilo que era pão passa a ser o corpo de cristo. Na forma correta, o pão deve ser comungado, levado a boca pela pessoa”, orienta.

Há uma preocupação em efetuar investimentos nessa linha para poder atender o povo da melhor forma possível. “Até porque já temos claro que não será coisa de dois ou três meses. O rito em si creio que não mude, até porque isso dependeria hoje do Papa Francisco. Mas a forma de chegar as pessoas e oferecer a palavra de Deus e uma palavra de conforto esta sim, acredito que o púlpito da igreja está sendo transferido para as redes sociais, pelo menos neste momento”, avalia.

 

Batizado

Os batizados foram autorizados com os devidos cuidados. Mas existem casos em que não são possíveis o deslocamento para que o sacramento seja administrado, mesmo de forma mais breve. Há casos de doença em que a pessoa ou criança não foi batizada e que precisa receber o sacramento. Por causa do coronavírus, uma pessoa com suspeita não poderia receber o batismo na igreja. O sacerdote explica que para estes casos há uma alternativa. “O batismo pode ser realizado sem os ritos complementares”, detalha.

Estes ritos chamados complementares como ungir o peito e a fronte com óleo serão efetuados posteriormente, para evitar o contato físico. Padre Rafael acrescenta que em casos extraordinários qualquer pessoa com ‘reta intenção’ pode conceder o batismo. “É uma informação importante e muitos não sabem”, ressalta.

“Em situação extraordinária como em caso de pré-morte (em vida, mas em perigo de morte), qualquer pessoa que tenha o desejo de fato de dar o batismo para aquela pessoa e não só uma cena teatral, pode pegar um copo de agua limpa e dizer: ‘eu te batizo em nome do pai, do filho e do espírito santo’, e aquela pessoa estará batizada”, afirma o pároco.

Quando possível a pessoa pode ir na igreja para realizar apenas o rito complementar, porque conforme orientação da igreja qualquer pessoa em ‘reta intenção, em caso extraordinário’, pode fazer. “Um exemplo ocorre em hospitais. Alguns funcionários estão orientados, principalmente na ala pediátrica, que em casos de risco de morte eles podem efetuar o batismo desta forma”, finaliza.

 

Atendimento ao público

Antes da pandemia as pessoas tinham a liberdade de ir à igreja fazer suas orações no horário de expediente paroquial. Seja para visitar o santíssimo ou mesmo para conversar com um sacerdote. Uma das mudanças que permanecem por causa o covid-19, são as alterações de horários e a abertura ao público.

Em Gravatal, por exemplo, para disponibilizar um local aberto para as pessoas fazerem suas orações, a gruta de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, atrás do Santuário de Gravatal  foi revitalizada. “Ela foi construída há 18 anos e agora está renovada e com iluminação noturna, além da restauração da imagem”, detalha o Padre.

Nem todas as paróquias e igrejas disponibilizam um espaço aberto em que as pessoas possam fazer as suas orações. “Nem todas estão abertas. Nem sempre são possíveis efetuar a limpeza conforme orienta vigilância sanitária. Mas os padres estão na secretaria paroquial para atender as pessoas”, afirma.

Hoje a diocese conta com 26 padres com mais de 60 anos e 31 com menos de 60. Algumas igrejas estão abertas, mas nem todas. Porém todas as secretarias encontram-se abertas em horário de expediente para atender as pessoas. Neste caso, o ideal seria a pessoa, antes de ir, ligar para verificar os horários de funcionamento da paróquia que deseja visitar. “Não nas igrejas, mas na secretaria de cada paróquia. Lembrando que é importante que as pessoas sigam todas as orientações de prevenção”, finaliza.