Coronavirus: Tubaronense relata situação crítica na Itália

Liliane Dias

Genova, Itália

Desde de domingo (8), a vida dos residentes da Itália vem sentindo os efeitos do coronavirus, não apenas por contaminação, mas também pelas adequações e mudanças na rotina por conta do decreto que colocava a Lombardia como parte da ‘zona rossa’, ou zona vermelha. Com isso o deslocamento da população deveria ser evitado exceto por motivos de saúde, trabalho ou alguma urgência.

O tubaronense Artur Bianchini, de 29 anos, que é tradutor juramentado do Tribunal de Milão e Pavia contou à redação do Portal Notisul como está a vida na Itália. Ele que reside desde 2014 na região, atualmente está em Genova, Liguria, mas até dezembro esteve muito próximo do foco do coronavirus, em Pavia.

“Até então estava tudo normal aqui onde moro, mas a partir deste novo decreto, também no domingo, com efeito a partir de segunda-feira (9), toda a Itália passou a fazer parte de uma ‘zona protegida’ e o deslocamento passou a ser proibido, restringindo à condições urgentes de trabalho, detalha o tubaronense. 

Artur explica a população tem se sensibilizado com a emergência e por uma questão também de senso cívico tem se mantido em casa. “O grande fator é que faltam leitos nos hospitais na UTI e que não podemos arriscar que o sistema de saúde desabe”, reforça.

Até esta tarde bares, restaurantes, farmácias e mercados funcionavam até as 18h, o restante dos estabelecimentos permaneciam fechados. Mas enquanto a reportagem conversava com Artur, o governo determinou que todos os estabelecimentos fossem fechados.

“A determinação agora é de fechar cafés, restaurantes e comércio em toda a Itália garantido somente os serviços essenciais. É aquela coisa, primeiro eles convidam a fechar, se veem que não tá funcionando vem a determinação. O primeiro ministro está dizendo agora, tudo que não for essencial será fechado”, pontua.

Quando questionado sobre a postura das pessoas, com relação ao medo e preocupação, Artur afirmou que todos estão colaborando. “Eu viajei bastante na segunda e terça-feira (9 e 10), pois estava buscando um tribunal aberto para reconhecer a minha firma. Já na autostrada (equivalente a BR no Brasil) dificilmente via carros, somente caminhões de transporte de mercadorias. Pode-se dizer que menos de 5% dos veículos que trafegavam eram de veículos leves”, explica.

Ordem

Para circular nas ruas da Itália até então, foram instituídos documentos que deve ser levado consigo em caso de deslocamento para ser apresentado à polícia se houver averiguação. “É uma certificação que você faz antes de se deslocar com um motivo válido. Em meu bairro realmente há alguns postos de bloqueio policial. Até domingo era um convite a não sair, desde segunda passou realmente a ser proibido. Se sair sem um motivo os policiais podem aplicar uma sanção de 205€”, ressalta Artur

“Em geral todos tem cumprido pois sabem da condição dos leitos nos hospitais e tem receio de transmitirem involuntariamente a alguém mais velho ou da própria família. Os italianos, assim como os brasileiros, adoram falar mal do próprio país. Mas há um consenso de ficar onde se está até esta emergência passar. Que não é hora para turismo, diversão ou encontros”, avalia.

Economia

A Itália conta com uma boa parcela de seu PIB o turismo. E é um país com uma alta taxa de prestação de serviços. Há uma preocupação da população mas os produtos de primeira categoria estão sendo mantidos.

Dentro da crise, a preocupação atinge principalmente os autônomos, empresas pequenas e setores que não podem operar online. “Hoje tive que falar com algumas imobiliárias por exemplo, todas fechadas até abril. É um mês perdido para o setor. Eu por exemplo, só vou poder legalizar minha firma quando o tribunal abrir, dia 23 de março, mas pode prorrogar”, lamenta.

Sobre a economia, Artur afirma não ter escutado nada ainda sobre medidas de órgãos públicos que pudesse tranquilizar a população. “Nunca vi tanta coisa fechada assim, parece o mês de férias que é como se fosse carnaval no Brasil. Uma medida efetiva eu realmente não vi”, afirma.

O tubaronense explica que as pessoas na Ligúria já estão todos como se fosse ‘perder a colheita’. “Além disso, a região é muito turística e, com certeza, não será esse ano que o turismo vai voltar ao normal. Hotéis aqui já fecharam porque todos cancelarem as estadias”, explica.

Outra questão, são os órgãos públicos que estão operando em situações de urgência ou online. “Isso se torna um problema na Itália, pois a população idosa, que geralmente a mais necessitada, não sabe como fazer nenhum procedimento online. Ficam meio perdidos pois aqui normal as pessoas utilizam cheque e andar sempre com dinheiro no bolso. Além disso, muitos comerciantes nem utilizam maquininhas de cartão de crédito”, relata Artur.

Aprendizado

Artur conta que nos seis anos que vive longe aprendeu muita coisa, mas que pensa em retornar ao Brasil. “Sou muito entusiasta da história local e regional. Descobri muita coisa já morando fora, o que me consome bastante tempo quando vou visitar os museus, arquivos públicos da Região. Mas quando acabar meu ciclo aqui, com certeza desejo voltar para Tubarão e contribuir com algum ensinamento ao município. Minha avó é professora, tá em mim isso”, 

Questionado sobre a experiência destes últimos dias ele conta que aprendeu muito sobre o Brasil e sobre sua própria casa lá. “Pude perceber que de perto, ninguém é tão ‘estrangeiro’ quanto parece. Que nossas semelhantes são infinitamente maiores que as diferenças e que as vezes temos que sair da nossa zona de conforto para poder valorizá-la e avaliá-la”, enfatiza.

Com relação a este período de coronavírus, para ele, deve-se acreditar que cada cidadão pode fazer sua parte em deixar de lado por um curto período de tempo sua própria vontade e respeitar os parâmetros que a ciência nos exige. “Que com nosso senso cívico possamos respeitar o outro, comprar somente o necessário, respeitar a quarentena e os deslocamentos que se cada um fizer sua parte será melhor para todos e sairemos disso em pouco tempo”, finaliza.