Brucelose bovina: Não há epidemia na região

Tatiana Dornelles
Tubarão

Um caso em Gravatal, na localidade de Várzea das Canoas, deixou em alerta alguns proprietários de gado da região. Cerca de 15 vacas abortaram os filhotes, que nasciam sem pêlo, mongolóides, mal formados e antes do tempo, devido à brucelose. O fato ocorreu em setembro, mas somente agora veio à tona. Nesta propriedade, a confirmação da doença veio logo após a bateria de exames realizada pelo médico veterinário que foi ao local. Os 15 animais foram para o abate e os donos, agora, esperam pela indenização, de R$ 2,97 por quilo.

“Aguardamos a indenização, que leva alguns meses para chegar. O caso é sério, pois a brucelose é transmitida ao ser humano e meu pai contraiu a doença. Não temos como pagar a consulta particular, pois nenhum médico vai querer receber apenas quando vier o dinheiro da indenização. Não quero que ninguém passe pelo que passamos. A última vez que a Cidasc esteve aqui foi quarta-feira da última semana, quando abateram sete gados. Depois, não vieram mais”, reclama Carine Borges Cardoso, filha do proprietário.

Entretanto, o gerente da Cidasc em Tubarão, Claudemir Souza dos Santos, explica que não há motivos para alardes, uma vez que não há epidemia. “A brucelose existe no mundo inteiro. Mas, em Santa Catarina, os números da doença têm baixado. Está sob controle. Porém, os proprietários precisam fazer os exames constantemente”, orienta Claudemir.

Quando é detectada a doença em alguma propriedade, os animais são sacrificados e os donos indenizados. “O único estado que indeniza os proprietários é Santa Catarina e ainda com o preço de mercado. Desde 2003 existe o Fundo de Defesa Sanitária Animal (Fundesa), cujo dinheiro é administrado pela secretaria estadual de agricultura e é destinado às indenizações”, explica.

Outra orientação aos proprietários é quanto à compra de bovinos. “Antes de comprar de outra pessoa, é importante ter certificação de que os animais não possuem a brucelose”, recomenda o gerente.
O processo deste caso de Gravatal já foi encaminhado para a capital para receber a indenização. “Contudo, há uma fila de pessoas para receber. A indenização leva em torno de três meses”, acrescenta.

Como se transmite a doença?
Quando o médico veterinário da Cidasc passa por uma propriedade e detecta indícios da brucelose nos bovinos, os donos são orientados a procurarem o posto de saúde, uma vez que a doença é transmitida ao ser humano.
Além disso, é interditada a propriedade, os animais são separados dos sadios (para não transmitirem a doença aos outros) e depois os doentes vão para o abate. “Qualquer produtor que tiver problemas pode nos procurar”, ressalta o gerente da Cidasc em Tubarão, Claudemir Souza dos Santos.

O médico veterinário da Cidasc, Luiz Carlos Galarz, explica que a brucelose é causada por bactérias e provoca aborto nas vacas. “Entre os bovinos, a doença é transmitidas através dos alimentos, pois tanto os doentes quanto os sadios comem no mesmo lugar, ou através da reprodução”, relata. Quando há suspeita de brucelose, o veterinário vai ao local, colhe o sangue dos animais e realiza o exame.
No ser humano, por sua vez, a brucelose pode ser transmitida através da ingestão de leite cru (sem passar pelo processo de pasteurização), da nata ou do queijo frescal (que não sofre o processo de altas temperaturas).

“A pessoa tem febre, calafrios, fortes dores de cabeça, pode ter problemas nas articulações, além de epidimite (inflamação ou infecção do epidídimo – canal enrolado que fica aderido à parte de trás de cada testículo) ou orquite (inflamação de um ou ambos os testículos), estas ocasionadas no sexo masculino”, explica Galarz.

Índice no estado é baixíssimo
Em Santa Catarina, o índice de brucelose é de 0,02% e, por ser considerado baixíssimo, não se recomenda a vacinação dos animais. Na verdade, a vacina contra a doença é proibida. Logo, o estado catarinense optou pela erradicação, que é realizada através do abate dos bovinos.

“É mais fácil abater o animal do que vaciná-los, pois assim a doença ainda estará no estado. Com o abate, vai se eliminando a brucelose”, explica o médico veterinário da Cidasc em Tubarão, Luiz Carlos Galarz.
A realização de exame uma vez ao ano é uma das recomendações do veterinário. “O proprietário, por prevenção, pode chamar o veterinário uma vez ao ano para fazer o exame. Além disso, ele não deve comprar animais sem atestado negativo de brucelose”, recomenda.

E acrescenta: “Temos 14 mil proprietários de bovinos na região e cerca de um veterinário para cada dois municípios de abrangência da regional da Cidasc. Logo, não temos como estar em todos os lugares. Os proprietários, se tiverem problemas, podem nos procurar”.