Adoção: Novo perfil de candidatos

Carolina Carradore
Tubarão

As estatísticas revelam: a maioria das pessoas na fila da adoção tem preferência por sexo, cor e idade. No Brasil, segundo o Conselho Nacional de Justiça, há cerca de quatro mil crianças aptas a serem adotadas, mas existem mais de 50 mil em abrigos, que não conseguem encontrar um lar. Em Santa Catarina, de acordo com a Comissão Estadual Judiciária de Adoção, há mais de três mil pretendentes à adoção. No outro lado da fila, existem 145 crianças aptas à adoção no estado.

Em Tubarão, há um perfil diferente. Trinta e oito pessoas, entre casais, viúvos e solteiros, estão na fila. Boa parte deles não impõe condições para adotar uma criança, segundo informa a equipe do Fórum da Comarca de Tubarão, destinada a analisar casos de adoções. Atualmente, não há crianças a serem adotadas em Tubarão.

Somente três estão abrigadas em “famílias acolhedoras”. Todos os casos estão em análise judicial.
No ano retrasado, um menino negro, de 6 anos, recebeu um novo lar. Ele veio de outro estado e foi recebido com alegria pelos pais, que não fizeram escolha de esteriótipo.

Curso
Ontem, foi comemorado o Dia Nacional da Adoção, e com uma novidade. O corregedor-geral da justiça, desembargador Solon d’Eça Neves, exige que todos aqueles que quiserem inscrever-se no cadastro de pretendentes estarão automaticamente “matriculados” em cursos preparatórios para a adoção.

Oferecido pela justiça da infância e da juventude, o curso objetiva orientar a respeito de procedimentos de adoção e da realidade das crianças e adolescentes que efetivamente precisam ser adotados. Durante as aulas, os interessados receberão, ainda, noções jurídicas, sociais e psicológicas para que estejam conscientes do gesto de receber um menor em sua casa. A obrigatoriedade do curso consta da nova legislação aprovada recentemente sobre a adoção, e o estado será um dos primeiros do país a oferecê-lo aos interessados.

Amor que une

A auxiliar de enfermagem Mara Schmidt, 43, anos, moradora de Tubarão, não sabe expressar o tamanho do amor que sente pelas gêmeas Ana Carolina, Ana Cristina, 16, e os gêmeos, Mateus Guilherme e Marcos Valdemar, 12. As meninas chegaram primeiro no seio familiar, com meses de vida.

Mara e o marido, Valdecir Schmidt, 43, não conseguiam ter filhos biológicos e optaram pela adoção. “Não queria forçar a natureza, daí resolvemos adotar”, conta ela. E foi através dos pais de Valdecir, Ana Helga e Valdemar Schmidt, que Ana Carolina e Ana Cristina foram apresentadas aos pais do coração. Ambas estavam em um abrigo no Rio Grande do Sul e o casal conseguiu “furar” a fila, uma vez que todos os adotantes não aceitaram crianças gêmeas e negras.

“Foi muito trabalho no início, tivemos ajuda financeira dos meus sogros e fizemos muita economia. Mas meu amor foi à primeira vista”, lembra a mãe, toda orgulhosa.
Um ano depois, a mãe biológica das gêmeas engravidou mais uma vez e teve Ana Raquel, 15, que foi adotava pela irmã de Valdecir e criada com os sogros.

A família aumentou

Quando Mara pensava que a fase das fraldas havia cessado, mais uma gravidez da mãe biológica. Nasceram então os gêmeos Mateus Guilherme e Marcos Valdemar, irmãos das três meninas. Mara resistiu em adotar mais duas crianças, pois as gêmeas ainda estavam com 4 anos. Porém, ao visitar os meninos no abrigo, cedeu à vontade dos sogros e do marido. “Eles são todos irmãos, então, para mim, é como se eu tivesse deixando um filho para trás, meu coração falou mais alto”.

A casa foi ampliada e reformada para a família receber mais dois integrantes. Os pais de Valdecir foram os principais incentivadores para a formação da família Schmidt e hoje são apenas boas lembranças aos netos. Há oito anos, Ana Helga e Valdemar Schmidt, que moravam no Rio Grande do Sul, morreram em um acidente de trânsito, quando voltavam do aniversário dos quatro netos.

Mara e Valdecir dedicam-se integralmente aos filhos e todos os sacrifícios são válidos para uma boa estruturar familiar. “Tudo que fizemos teve a presença de Deus. Somos muito abençoados com essas crianças. Agimos com o coração”, comemora Mara.