Eleições 2010: Por que tanta abstenção?

Zahyra Mattar
Tubarão

O voto, no Brasil, é obrigatório. Mas, como em todas as nações democráticas do mundo, a teoria não revela necessariamente o que ocorre a prática. E o resultado destas eleições mostra exatamente isso. O alto índice de abstenções, votos anulados ou deixados em branco, custou, para a microrregião de Tubarão, uma vaga na câmara dos deputados e outra na assembleia.

Somente na Cidade Azul, a soma das abstenções, nulos e brancos gera um percentual de 22,87%. O equivalente a 15.803 votos. O suficiente para completar a quantidade de confirmações que o candidato do PDT, Edson Firmino, precisava para marcar cadeira na câmara federal, por exemplo. Ou para o tucano Carlos Stüpp ser o segundo nome da região no legislativo catarinense.

O desgaste da classe política e, consequentemente, a falta de interesse da população pelo assunto são as principais causas apontadas pelos concorrentes para o baixo desempenho. A resposta é unanimidade, na verdade! “Este percentual é um alerta aos partidos. O povo não quis ir às urnas. A solução está na reforma política. Caso contrário, daqui para frente, este percentual aumentará cada vez mais”, considera Firmino.

Ele fez 13.665 votos à câmara. Com os mais de 15 mil, que, de forma ou outra, não votaram em ninguém, ele poderia ser mais um a lutar pela região. “É necessário reduzir o número de partidos. Impor limites. Os partidos devem rediscutir o processo político. E o resultado destas eleições deixou isso claro”, avalia o vereador de Tubarão.

Política não é algo individual

Esta foi a segunda eleição do empresário e engenheiro tubaronense Olavio Falchetti. O petista concorreu ao governo de Tubarão em 2008 e, neste ano, a uma vaga na assembleia. Fez 14.850 votos domingo. Foi o mais votado em Tubarão: 12.433 eleitores apostaram nas suas propostas. Mas, assim como Carlos Stüpp (PSDB), Olavio também perdeu espaço para as abstenções, votos brancos e nulos.

“Primeiro, as pessoas escolhem mal porque votam por compromissos individuais. Depois, elas indignam-se e anulam seu voto, deixam em branco ou não comparecem. Política não é algo individual, é coletivo. E as pessoas não caíram na real em relação a isso ainda. Falta comprometimento do eleitorado”, define.

Para o petista, o resultado da falta de esclarecimento reflete nos números desta eleição. Olavio avalia que o único instrumento real de mudança, o voto, foi preterido às vontades pessoais. “Jamais vou trocar dez votos por R$ 20,00. E olha que as pessoas pedem. A política é um ato de amor, de fazer com que aquilo se transforme em um bem comum, e não uma profissão”, argumenta.

O peemedebista Alexandre Moraes, também candidato à assembleia, igualmente lamenta a falta de compromisso do eleitor em comparecer. Ele fez apenas 3.805 votos. “O resultado é que perdemos representação política, especialmente na assembleia. Pode ser reflexo do desgaste da classe política, mas a sociedade tem que refletir sobre o processo político e o fato das pessoas não quererem participar. Quem está indignado, aí sim deve ir às urnas”, argumenta.

‘Celebs’ alavancam os nanicos

Vários candidatos famosos agora integram o seleto grupo dos detentores do poder em Brasília e nas assembleias legislativas do país. É o caso do deputado estadual Wagner Montes (PDT), o candidato mais votado no Rio de Janeiro, e Tiririca (PR), que superou 1,3 milhão de votos e foi o mais votado à câmara federal e o segundo mais votado na história da democracia brasileira. A maioria integrou partidos políticos pequenos, de pouca expressividade nacional. Um jogo de faz de conta porque as siglas descobriram, em pleitos passados, que gente famosa ganha vaga. E fácil. Todos duvidavam de Clodovil e ele pintou Brasília de rosa. Confira as ‘celebs’ eleitas:

• Tiririca (PR/SP)
Palhaço-cantor eleito deputado federal
Votos: 1.353.367 (6,35%)

• Wagner Montes
(PDT/RJ)
Ex-jurado do Silvio Santos eleito deputado estadual
Votos: 528.628 (6,38%)

• Danrlei Goleiro (PRB/RS)
Ex-goleiro do Grêmio eleito deputado federal
Votos: 173.787 (3,14%)

• Marques (PTB/MG)
Ex-jogador do Atlético Mineiro eleito deputado estadual
Votos: 153.225 (1,67%)

• Romário (PSB/RJ)
Ex-jogador do Vasco eleito deputado federal
Votos: 146.859 (1,84%)

• Stepan Nercessian (PPS/RJ)
Ator eleito deputado federal
Votos: 84.006 (1,05%)

• Jean Wyllis (PSol/RJ)
Ex-BBB eleito deputado federal
Votos: 13.018 (0,16%)

• Miryan Rios (PDT/RJ)
Atriz eleita deputada estadual
Votos: 22.169 (0,27%)

• Bebeto Tetra (PDT/RJ)
Ex-jogador da seleção eleito deputado estadual
Votos: 28.328 (0,34%)