Carcinicultura: O ‘fantasma’ da mancha branca ainda existe

Carolina Carradore
Laguna

A luta para a liberação de pós-larvas de camarão Speed Line (SPF) em Santa Catarina pode significar a luz no fim do túnel e afastar de vez o fantasma da mancha branca. O cenário da carcinicultura atual é desolador. Das 66 fazendas de camarões instaladas na região de Laguna, apenas duas mantêm a atividade.

Mas a falta de estrutura em laboratório de larvas de camarão no estado emperra a liberação. O Ministério da Fazenda exige que as larvas fiquem de quarentena em laboratório para que depois ocupem os tanques. Tudo para evitar qualquer indício de mancha branca. Em Santa Catarina, o único laboratório existente fica em Balneário Camboriú e não cumpre todas as exigências para abrigar o SPF.
Apesar da novidade, os produtores ainda estão receosos em retomar o investimento.

Proprietário de uma empresa de terraplanagem, Otto Rampinelli está há um ano com os tanques vazios. Com a perspectiva de investir em um negócio rentável, construiu a fazenda de camarão em cativeiro em 1999, em Campos Verdes, em Laguna. No ano seguinte, teve o seu primeiro cultivo e gostou do resultado do povoamento de 20 camarões por metro quadrado. Chegou a ter dois cultivos de 35 toneladas por ano e, quando acreditou que começaria a cobrir pelo menos o investimento feito, viu a mancha branca destruir tudo.

“Perdemos tudo e hoje os tanques estão vazios. Se vier o SPF, talvez posso pensar em povoar, mas ainda tenho muito medo”, ressalta Otto, que não sabe exatamente o quanto foi investido. Mas o prejuízo foi grande. Assim como outros produtores, ele arriscou na multicultura e encheu os tanques com tilápia. A meta era usar o peixe como um filtro da água. A alternativa durou pouco, pois o preço da tilápia e da ração não compensaram.

Nordeste abocanha
mercado do sul do estado

Em 2009, o mercado nordestino invadiu Santa Catarina com os fartos camarões. Segundo o técnico da Epagri de Laguna, Joel Gaspar, o preço do dólar, cotado a R$ 1,75, dificultou a exportação do crustáceo, pelos produtores nordestinos, que passou a ser comercializado no estado.
O custo do camarão lagunense não baixa de R$ 8,00 o quilo, enquanto o nordestino é vendido a R$ 6,50 o quilo. “Acho que a situação seria pior sem a mancha branca”, afirma Joel. Ele também deposita as esperanças da liberação do pós-larvas de camarão Speed Line (SPF).

Dificuldades e sobrevivência

Santa Catarina possuía aproximadamente 117 fazendas de carcinicultura (ao todo, 180 produtores criavam camarão em cativeiro em 1,6 mil hectares), das quais 90% eram em Laguna. Juntas, produziam 4,5 mil toneladas do crustáceo por ano e rendiam R$ 40 milhões.

A mancha branca atacou boa parte das fazendas, mas ainda há quem ficou isolado do vírus, como o caso do empresário Petronílio de Souza. Ele mantém em Garopaba um viveiro que produz 35 toneladas ao ano. Ele atribui à água utilizada, proveniente da Lagoa de Ibiraquera, o camarão saudável, livre da mancha branca. Mas o sucesso dos anos anteriores foi reduzido em 2009.

Petronílio esperava povoar os tanques em outubro, porém, a falta de larva correta, que deveria chegar do estaleiro de Balneário Camboriú, atrapalhou os planos do produtor. “Precisamos de um laboratório de maior estrutura para continuarmos com a produção. Agora, tenho que aguardar uma definição para retomar a atividade”, afirma.