Arroz Campeiro: Demissões são irreversíveis

Amanda Menger
Tubarão

A assembleia que definiu o reajuste salarial dos funcionários do Arroz Campeiro também anunciou as demissões. Há cerca de 15 dias, a empresa havia dispensado temporariamente os trabalhadores. O período foi marcado pela incerteza e por diversos rumores, inclusive de que a empresa teria uma dívida de R$ 40 milhões (cerca de R$ 10 milhões com produtores de arroz e outros R$ 30 milhões com instituições financeiras).

“A assembleia definiu um reajuste de 6,5% nos salários, a data-base da categoria é 1º de maio. Com isso, as rescisões deverão ser feitas com o novo salário. Ficamos tristes porque são 130 funcionários que serão demitidos. O aviso prévio conta a partir do dia 1º deste mês e a empresa tem até o dia 15 para depositar os 40% da multa e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)”, revela o presidente do Sindicato dos trabalhadores nas Indústrias de Fumo e Alimentação, Vilmar Antônio de Faveri.

Cerca de dez dos 130 funcionários devem ficar ainda ligados à empresa. “Eles devem permanecer até o fim, à disposição da direção para alguns trabalhos. O administrador garantiu que há recursos e que venderá os estoques e, se preciso, alguns bens para saldar os direitos trabalhistas. Acreditamos que em até 40 dias estará tudo resolvido”, analisa Vilmar.

O valor exato das rescisões não foi divulgado, mas passa de R$ 600 mil. “A empresa ainda não disse se irá decretar a falência, mas há informações de que eles querem evitar que isso ocorra”, diz o presidente do sindicato. Os salários de março foram depositados sexta-feira à noite e já estavam disponíveis aos funcionários sábado.

Entenda o caso
• Em fevereiro, o governo do Paraná anunciou a instalação da Campeiro na região metropolitana de Curitiba. A empresa iria transferir a fábrica de Tubarão para o estado vizinho e investiria US$ 50 milhões.
• A direção da empresa negou a transferência. Há 15 dias, os empregados foram dispensados temporariamente e ontem, na assembleia, as demissões foram confirmadas.
• O ex-proprietário da empresa, Max Nunes, garante que vendeu a Campeiro com uma dívida de R$ 7 milhões. A decisão de vender a empresa foi em decorrência das dívidas da Caité Têxtil.

• O grupo A. Nunes vendeu a Campeiro por R$ 8,2 milhões – R$ 5,2 milhões para Max e R$ 3 milhões para Antônio Cordeiro (um dos sócios da Campeiro). Devido a uma cláusula do contrato de venda, se houvesse alguma questão judicial, o valor devido seria depositado por Alexandre Augusto Pereira Tavares, ex-administrador da empresa, em juízo, o que não ocorreu e o valor deixou de ser pago.
• Há cerca de dois anos, o ex-administrador ofereceu a empresa de volta. Em uma auditoria feita a pedido de Max, o valor da dívida passou de R$ 7 milhões para R$ 20 milhões em um ano.

• Max solicitou o bloqueio da conta onde era feito o depósito do valor devido ao grupo A. Nunes, porém, o pedido foi negado em primeira instância. O empresário recorreu e, há um mês, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina bloqueou a conta. Dos R$ 2,8 milhões, havia apenas R$ 813,00.
• O procurador da república em Tubarão, Celso Antônio Três, investiga algumas atividades da empresa e o Ministério Público Federal deve ajuizar duas ações, incluindo crimes contra o sistema financeiro.

Beckhauser também
demite 11 funcionários

Um grupo de funcionários da Beckhauser Têxteis foi demitido por justa causa. O número de trabalhadores é questionado, os empregados afirmam que chegam a 18, a empresa diz que são 11. Eles teriam sido demitidos por justa causa na última semana.
“Nós perdemos o adicional de insalubridade, o que reduziu o nosso salário em praticamente R$ 100,00. Além disso, nos obrigaram a fazer horas-extras no fim de semana. Quem não fizesse poderia ser demitido, e foi isso que ocorreu com 18 colegas nossos”, afirma um trabalhador.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Tubarão e Região (Sintraves), Carlos Zamparetti, afirma que a empresa apresentou um laudo sobre a insalubridade. “Em algumas áreas da empresa, não foi encontrado agente insalubre, com isso, os trabalhadores deixaram de receber este adicional, e isso está de acordo com a legislação trabalhista. Estamos verificando a situação destes trabalhadores, temos oito rescisões agendadas no sindicato. Temos dois advogados à disposição dos empregados e vamos acompanhar o caso, saber o que houve. Poderemos entrar na justiça para reverter estas justas causas e também para o laudo de insalubridade”, explica o sindicalista.

O gerente administrativo da Beckhauser, Marcelo Gregori, afirma que as demissões são comuns. “A empresa tem uma rotatividade de 1% dos trabalhadores. Assim como 11 pessoas foram demitidas, estamos contratando outras 15, em diversos setores. Não tem nada a ver com crise”, garante Marcelo.