“Vamos enfrentar esta crise com coragem”

Perfil

Raimundo Colombo nasceu em Lages e governou a cidade de 1989 a 1992 e de 2001 a 2006. Foi também deputado estadual de 1987 a 1988. Eleito deputado federal em 1998, exerceu o mandato até 2000, quando deixou a assembleia para assumir a prefeitura. Foi diretor administrativo das telecomunicações, diretor presidente da Celesc, presidente da Casan e secretário de estado para o desenvolvimento da região serrana no governo de Jorge Bornhausen. Em 2006, foi eleito para o senado. Licenciou-se em 2010 para disputar o governo catarinense e foi eleito em 1º turno. Em 2014, reeleito também em 1º turno.

 

Zahyra Mattar
Tubarão

Notisul – Qual o seu planejamento para os próximos anos de mandato?
Governador Raimundo Colombo –
Estamos começando um novo mandato mais experientes, mas com maiores desafios. A crise econômica preocupa o país inteiro. Em Santa Catarina, também sentiremos impactos. Mas vamos enfrentar essa crise com coragem. Vamos continuar investindo para girar a cadeia econômica e manter o estado como destaque nacional na geração de empregos. Pelo Pacto Por Santa Catarina, vamos investir R$ 3 bilhões em obras em todas as regiões este ano. Também tomamos medidas para dinamizar a economia, como o lançamento do programa SC+Energia, que oferece incentivos para investimentos em energia limpa. E estamos reforçando ainda mais o nosso controle da máquina pública.

Notisul – O que este segundo mandato difere do primeiro?
Colombo –
No primeiro mandato, investimos muito tempo para conhecer a estrutura do governo e colocar as contas em dia. Hoje, Santa Catarina está com todos os seus pagamentos em dia e vive uma realidade muito diferenciada em relação aos outros estados. Isso se deve muito ao trabalho do primeiro mandato. Agora, também estamos vendo virarem obras os recursos que captamos nos primeiros anos de governo.

Notisul – O senhor falou que esta é a pior crise que já viveu. Qual a realidade econômica do estado?
Colombo –
Não somos uma ilha. Santa Catarina também sente os impactos da crise, que devem ser mais fortes neste segundo semestre. O mês de junho deste ano foi o pior em arrecadação desde o início do meu primeiro mandato. Por outro lado, Santa Catarina é um modelo de estado bem sucedido, o que permite que os efeitos da crise não sejam tão avassaladores como em outros lugares. Nossa atividade econômica é aquecida, somos referência em geração de empregos, cumprimos nossos compromissos financeiros, estamos antecipando o décimo terceiro salário, injetamos milhões em microempresas a juro zero e abrindo o mercado para exportação.

Notisul – Em linhas gerais, o que trava o desenvolvimento econômico catarinense? Em outras oportunidades, o senhor afirmou que o modelo de estado brasileiro está falido e ultrapassado. Qual o ideal? O que fazer?
Colombo –
Para fazer diferente, é preciso identificar a vontade e a consciência para mudar. É visível a insatisfação das pessoas com o atual formato da política brasileira. Quando o povo saiu às ruas para protestar, ficou muito claro o desejo de mudança, de cobrança por mais eficiência dos governos. O problema é que da forma como está fica difícil dar as respostas que a sociedade espera. Um dos maiores obstáculos é a burocracia. Falta união e uma visão mais facilitadora e coerente para que os processos comecem e terminem com a rapidez e a eficiência que a sociedade cobra – e com razão. Não há outro jeito: as pessoas que assumem esse espírito de liderança precisam encontrar a fórmula certa. Com o voto, você muda pessoas e partidos. Mas o sistema só muda com a participação e o engajamento da sociedade.

Notisul – Na sua opinião, por que o norte catarinense desenvolveu-se mais que as outras regiões?
Colombo –
Temos grandes empresas e instituições de ensino tradicionais que contribuíram diretamente para a formação de uma mão de obra qualificada. Temos um círculo virtuoso na região. Gente qualificada para trabalhar atrai novas empresas. E novas empresas motivam a qualificação profissional de quem vive na região.

Notisul – Das regiões que ficaram para trás, no que se refere ao desenvolvimento, na sua opinião, ainda é possível recuperar o tempo perdido?
Colombo –
Nossa preocupação é sempre desenvolver ainda mais Santa Catarina como um todo. Quando novas empresas procuram o estado para investir, e isso tem sido cada vez mais frequente, mostramos também o potencial de regiões que ainda não contam com grandes parques fabris. E temos confiança de que teremos bons resultados neste sentido.

Notisul – Santa Catarina foi considerado, por várias publicações, o melhor estado brasileiro para se fazer turismo. Qual o planejamento para fazer o setor evoluir ainda mais?
Colombo –
Temos um estado abençoado e que tem chamado a atenção de cada vez mais pessoas. No passado, quando se falava em Brasil, todo mundo pensava no eixo Rio-São Paulo. Mas Santa Catarina mostrou que tem belezas naturais como as do Rio de Janeiro e força econômica para concorrer com São Paulo. E isso se reflete no turismo também. Além das praias lotadas no verão e do turismo de inverno na serra, o governo do estado está criando condições para promover cada vez mais o turismo de eventos. Temos um novo centro de eventos sendo entregue em breve em Florianópolis, no norte da ilha, e o projeto para o centro de eventos de Balneário Camboriú também vai sair do papel.

Notisul – Qual a maior carência do estado? O que fazer para solucionar questões que se arrastam por décadas?
Colombo –
Temos investido em duas frentes: grandes obras para melhorar a logística e para garantir competitividade às nossas empresas. Além disso, em parceria com os municípios, investimos em obras de mobilidade. Hoje, essa é uma preocupação de todos. Médias e grandes cidades precisam repensar a mobilidade para garantir desenvolvimento e qualidade de vida para a população. Também estamos fazendo o maior investimento da história da Casan em saneamento básico. Serão R$ 1,8 bilhão em ações em diferentes regiões do estado.

Notisul – Educação é a maior secretaria do estado, mas a impressão é que também é a mais problemática. Qual o maior desafio para melhorar o setor? Ter qualidade de ensino?
Colombo –
Educação é prioridade. É oferecendo boa educação que garantimos o futuro das novas gerações. Em Santa Catarina, já temos indicadores que são referência para o país, como a menor taxa de analfabetismo e os índices do Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ensino fundamental e médio. Mas sempre buscamos melhorar ainda mais. Para isso, além da questão pedagógica, investimos em infraestrutura e gestão. Desde 2011, 700 escolas estaduais receberam reforma ou intervenção acima de R$ 50 mil. Neste ano, começou a escolha dos diretores escolares por meio da formulação de um plano de gestão escolar, feito com a participação da comunidade.

Tudo – Após o rombo revelado a partir do levantamento da secretaria da fazenda, feito há alguns anos, mudou alguma coisa no repasse de verbas estaduais e subvenções sociais para ONGs e outras entidades?
Colombo – Existem, em Santa Catarina, muitas instituições que merecem o nosso respeito e a nossa gratidão pelo trabalho realizado. Hoje, temos parcerias importantes com ONGs no projeto Reviver, que trata de dependentes químicos. O problema das drogas é um grande mal que precisa ser enfrentado de forma corajosa e eficiente. Por isso, neste programa, repassamos recursos financeiros e aporte científico para que as ONGs selecionadas possam fazer um trabalho cada vez mais profissional. Os resultados já começaram a aparecer.

Tudo – A diversidade cultural catarinense torna nosso estado único. Mas a própria fundação já revelou grande dificuldade em fomentar o setor. O que ocorre?
Colombo – Santa Catarina tem uma produção cultural expressiva e para que todos tenham as mesmas oportunidades os recursos são repassados por meio do edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura. Trata-se de um investimento de R$ 6,7 milhões  para projetos artísticos e culturais por meio de seleção pública promovido pela secretaria de turismo, cultura e esporte, executado pela Fundação Catarinense de Cultura. É uma ferramenta destinada a aportar recursos para produção, circulação, pesquisa, formação, preservação e difusão de trabalhos artísticos e culturais de pessoas físicas e jurídicas.

Tudo – A quantidade de secretarias de desenvolvimento regional sempre gerou intensas críticas. O senhor já sinalizou, em outras oportunidades, a vontade de mudar isso. Por que não fez a esperada reforma administrativa? O corte e a fusão de agências reguladoras, anunciados no fim do junho, é o primeiro passo para isso?
Colombo – Avançamos nisso. Finalizamos também o projeto de mudança das SDRs, que serão transformadas em Agências de Desenvolvimento. Com isso, o estado reduzirá 106 cargos comissionados (19 na secretaria extinta, 35 diretores-gerais e 52 gerentes das SDRs), além da extinção de 136 funções gratificadas de integrador nas regionais, cargos não preenchidos desde o início do ano. Santa Catarina tem um modelo de desenvolvimento que valoriza as regiões. É uma das nossas maiores qualidades. Por isso, as regionais são tão importantes. A ideia é fortalecer as agências regionais. A sociedade está ávida por medidas propositivas em relação à economia e à eficiência da prestação dos serviços públicos. Esse projeto de lei é um gesto para que os catarinenses compreendam nosso esforço de manter o crescimento e o desenvolvimento. São mudanças para aumentar a eficiência e manter o controle financeiro.

Tudo – A falência dos hospitais e a protelação de políticas de direcionamento de verbas, como o previsto na Emenda 29, trazem reflexos negativos para os cidadãos e para os cofres dos estados. O que falta para chegarmos ao mínimo ideal no que diz respeito a ter uma boa estrutura e rede de atendimento em saúde pública?
Colombo – Oferecer saúde de qualidade, como a sociedade merece, é um grande desafio. Mas estamos investindo fortemente para isso. Desde 2011, a rede hospitalar administrada pelo estado recebeu mais de R$ 80 milhões – metade referente a obras e benfeitorias e metade em equipamentos.  Outro montante, com mais de R$ 300 milhões, está direcionado para obras e projetos em andamento. E estamos distribuindo as obras por diferentes regiões para que nossa estrutura chegue o mais próximo possível do cidadão. Neste momento, existem obras em Chapecó, no Hospital Regional do Oeste; em Xanxerê, no Hospital Regional São Paulo. Em Lages, há obras do Hospital e Maternidade Tereza Ramos; em Joinville, no norte, o Hospital Regional Hans Dieter Schmidte, o Hospital Materno Infantil Jeser Amarante Faria recebem melhorias. Também merecem destaque as obras do Hospital Universitário Furb, em Blumenau; do Hospital Nossa Senhora da Graça, em São Francisco do Sul; do Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí; do Hospital São José, em Criciúma; do Hospital Universitário Santa Teresinha, em Joaçaba; e do Hospital Santa Teresinha, em Braço do Norte.

Tudo – A violência é crescente, mas os investimentos em segurança pública não acompanham as necessidades da sociedade. Os presídios estão superlotados e não recuperam ninguém, faltam policiais militares e civis. Qual o planejamento do estado para este complexo setor?
Colombo – Indicadores confirmam que Santa Catarina está entre os estados mais seguros do país. Mas com certeza é preciso fazer cada vez mais. A questão do efetivo é um desafio. Batemos recordes de contratação. Foram mais de cinco mil policiais em quatro anos. Mas a saída também é significativa. Vamos continuar investindo em pessoal, mas também em equipamentos para qualificar o trabalho destes policiais. Outra frente de trabalho que avança é o nosso sistema de videomonitoramento, já implantado em diferentes regiões do estado. No sistema penitenciário, além de novas construções, também temos hoje um sistema de referência para o país em relação aos presos que trabalham dentro das unidades. Em parceria com empresas locais, garantimos o ensino de uma profissão para o detento e uma renda para a sua família.

Notisul – Recentes declarações do vice-governador Eduardo Pinho Moreira sobre sua gestão e a participação dele e do PMDB no governo demonstraram um visível desgaste entre vocês. Como estão as coisas com ele e com a Assembleia Legislativa, cujo embate também é notável?
Colombo –
Nossa preocupação é com a gestão, com fazer um bom governo. E não podia ser diferente. Nosso foco tem que ser esse, é o que a população espera. Completamos apenas seis meses do segundo mandato. Tenho certeza de que essa também é a preocupação do Dr. Eduardo, com quem tenho uma relação de confiança, respeito e amizade. Na assembleia legislativa, nossa busca sempre foi pelo diálogo, independentemente de qualquer questão partidária.