“Precisamos aprender a amar o próximo”

A série de entrevistas sobre religiões iniciou em março. Já foram abordadas a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os Mórmons, publicada na edição de 9 e 10 de março; Testemunha de Jeová, em 30 e 31 de março; e Igreja Evangélica A Verdade que Liberta, em 20 e 21 de abril. 

Loura Antunes Veronezi, 65 anos, é tubaronense. Formou família na cidade, tem uma filha e duas netas. Lourinha, como é conhecida, passou por uma busca constante, durante anos, para encontrar o seu caminho espiritual. Para isso, frequentou várias religiões, sentia que Deus tinha colocado uma missão especial em sua vida. Hoje, ela é dirigente geral da Nosso Lar, uma instituição espiritualista. Uma mulher determinada, incansável e que não para nunca. Mesmo com a atribuição de mãe e avó, não deixa de cuidar das casas que, ao longo dos últimos 18 anos, implantou em cidades de Santa Catarina. E, obviamente, de todas as pessoas que as frequentam. Em Tubarão, a instituição localiza-se na rua Antonio Delpizzo Junior, número 2.425, no bairro Oficinas. O telefone para contato é o 3626-7131.
 
 
Mirna Graciela
Tubarão
 
Notisul – Como surgiu esta religião?
Lourinha – Na verdade, não é considerada propriamente uma religião. É uma instituição espiritualista. Tratamos sobre bionergia, uma filosofia que faz parte da vida. É mantermos nosso corpo energizado para ficar mais fácil vivenciarmos o dia-a-dia. Não é uma religião, porque não temos vínculos. Por isso pessoas de qualquer credo podem vir a nossa instituição. É mais a busca do indivíduo em si. É entender que somos espíritos. É compreender o que é este nosso espírito dentro de toda essa energia porque nós mesmos provocamos tudo isto. Deus é um só, nos deu a condição de viver, de estarmos aqui. Somos um espírito dentro da matéria. E toda a religião diz que, quando morrermos, vamos prestar conta de alguma coisa. Então, existe algo fora da matéria. 
 
Notisul – E como isso foi colocado em prática em Tubarão?
Lourinha – Estávamos fazendo um curso de parapsicologia em Criciúma. Uma pessoa que participou, depois de um período, abriu a casa em Tubarão, mas o nome era Paz e Luz. Em pouco tempo, fomos trabalhar com ela como voluntárias. Então, esta pessoa falou que uma mensagem espiritual dizia que a casa era minha e que eu tinha que levar adiante e assumir a coordenação. Isto faz 18 anos. E, do nada, quando me vejo, estou dentro dela. Se disser para ti que não existe, tem sim uma comunicação espiritual porque fomos orientadas a seguir determinado padrão. Mas não colocamos isto muito a público porque as pessoas são muito influenciáveis.
 
Notisul – Como assim?
Lourinha – Quando alguém fala que tem um espírito que acompanha alguém, a pessoa mesma começa a alimentar este espírito e se prejudica muito mais. Se ela não entender nada disto, esquecer este lado, cuidar da saúde dela, de sua vida e de seu espírito, isto acaba. Muitos se influenciam porque, se alguém disser que um espírito te acompanha, a pessoa pode achar que é o avô, a mãe, o pai, um ente querido que já morreu. Daí, pensa: ai, coitado, pode estar precisando de uma missa, de uma oração, de uma vela. Isso atrapalha muito a vida da pessoa. Mas ela vai alimentar e isso vai prejudicar a sua saúde física. 
 
Notisul – A instituição Nosso Lar existe em outras cidades?
Lourinha – Sim, pela ordem, nesses 18 anos, implantamos em Tubarão, Criciúma, Sombrio, Braço do Norte e Florianópolis, que está em fase de instalação, e abrirá em um mês. Não posso deixar de falar de uma pessoa que está comigo desde o início. Ela sempre participou de tudo, acompanhou a formação de todas as casas. É a Angela Maria Pacheco das Neves, a Nina. A considero o meu anjo de luz, o meu braço direito e a sub-dirigente da instituição. Hoje ela coordena a de Braço do Norte, mas está sempre envolvida em todo o processo e a par de tudo que ocorre. Os nossos voluntários também são fundamentais nessa caminhada, pois sem eles não conseguiríamos desenvolver este lindo trabalho.   
 
Notisul – Quantas pessoas frequentam a instituição em Tubarão e como funcionam as casas?
Lourinha – Como pacientes, temos cerca de 130 pessoas. São as pessoas que fazem tratamento. E temos 30 voluntários que trabalham. Primeiro, a pessoa passa por uma entrevista onde ficamos sabendo a situação de cada uma. Depois, encaminhamos para o tratamento. Começa pela harmonização, onde o paciente deita nas camas altas com uma música ambiente para relaxar. As meninas leem algo para a pessoa entrar no clima. Esses paranormais, que são os voluntários, vão estimular os chacras, são os pontos de energia que têm que ter uma rotação para levá-la para dentro do corpo. Muitas vezes, esta rotação está baixa. Por isso que aparecem as doenças. Não é uma troca de energia, isso não existe. É uma ajuda para que esse chacra funcione bem. Depois, a pessoa vai para a biomassagem, onde vão trabalhar outros chacras, são pontos no corpo onde são usadas ervas que vão mexer em energias que não foram tocadas na harmonização e na entrevista. Então começa outro estágio. Passando isso, vem a biocores, que são as cores dentro dos chacras. E quando é necessário e a pessoa precisa tem as terapias de relaxamento, de limpeza de subconsciente e especial (antes chamada de vidas passadas).  
 
Notisul – Qual é o papel da instituição Nosso lar na sociedade?
Lourinha – Creio que é muito importante na medida em que as pessoas entenderem o que é e no que se propõe. Há três anos, começamos a montar um grupo de adolescentes. Esta turma iniciou em Criciúma, hoje existe nas quatro casas. Para mim, foi emocionante quando fui chamada para encerrar o grupo em Criciúma, no ano passado. Cada um deu seu relato sobre o que foi a instituição naquele ano. Um garoto de 14 anos falou que para ele foi muito importante, aprendeu a valorizar seus pais, sua família e que não tinha mais problemas para estudar. Para a sociedade hoje, do jeito que a juventude está, eles tendo um lugar onde possam aprender os valores, isso já é maravilhoso. Quando começamos esse grupo, me encantei pelo que eles dizem, o que contam, há uma mudança. Há um tempo, entrou um menino e depois o pai veio perguntar o que era a instituição, pois o filho havia mudado completamente o seu comportamento, antes tinha uma agressão dentro de casa. Hoje ele é voluntário e trabalha com a gente. Outra garota, após uma reunião, ligou para a mãe e disse que a amava. Depois fomos saber que ela tomou aquela atitude porque tinha medo que não desse tempo até chegar em casa e nunca tinha dito isso. Outra coisa que não adianta falar em religião. Se olharmos Moisés, ele veio à Terra e deixou dez mandamentos. O homem não cumpriu um. Veio Jesus e deixou três. O homem não cumpriu nenhum. Amar a Deus sobre todas as coisas. É simples. Agora, eu amo? Tu amas? Não, porque eu posso dizer que amo a Deus, mas, se faltar alguém que tu amas, a primeira coisa que falamos é que Deus foi cruel. Nós não estamos evoluindo nesse ponto. 
 
Notisul – Quando se fala em religião, o casamento está acima de tudo. Nos dias de hoje, é difícil mantê-lo?  
Lourinha – A família é a base de tudo. A gente começa a ver que muitas coisas vão ficando para trás. Então, vem a história da religião. Não há por que temer. Cada um tem que ter sua religião sim. Agora creio muito nessa filosofia de vida que prega o Nosso Lar, da união da família, do entender que um filho não foi simplesmente uma relação sexual, mas foi muito mais que isso, é um compromisso teu assumido com um plano espiritual. É teu dever encaminhá-lo. E isso muitas pessoas não compreendem. Hoje, a família está muito acabada, ninguém tem mais paciência para nada. Muitos casam, não dá certo e acabou, e não pensam nos filhos. O Nosso Lar prega muita a união da família. Mesmo que o casal esteja separado, continua sendo uma família. É muito importante manter esse laço. É isto que estamos tentando mudar. 
 
Notisul – Existe vida após a morte?
Lourinha – Existe. Cremos nisso porque somos essa energia. Então, não teria sentido estarmos na Terra. Deus não teria sentido. Não teria razão eu acreditar que existe algo acima do homem. Existe, porque nós somos essas duas energias. É bíblico que tu és pó e ao pó voltarás. Vai voltar o pó da tua matéria, do teu corpo físico, que é justamente essa energia produzida pela natureza. Porém, o teu ser eterno, que muitos chamam de alma, este volta. Ele pode ficar preso na crosta pelo sofrimento, que é o mais comum, pela vaidade, por uma série de coisas. Mas é resgatado, é levado, vai ser tratado para que um dia possa voltar a reencarnar. Na verdade, a vida que a gente tem é para a nossa evolução. Temos que voltar cada vez melhor e fazer o nosso melhor. Aprendemos tudo no plano espiritual e colocamos em prática na Terra. 
 
Notisul – Qual é o conceito de céu e inferno?
Lourinha – Não existe. Para falar isso, eu diria que Deus não é amor. Um exemplo: as mulheres que são mães. Morremos e saímos do corpo. Daí Deus chega e diz: olha, tu foi uma boa menina, então está aqui o céu. Agora o teu filho, ele vai para o inferno queimar no fogo. Teu amor de mãe, como fica? Nós não deixaríamos, iríamos lutar por esse filho. Agora imagina o amor de Deus por nós, que fez toda essa maravilha e não pediu nada. O aluguel que pagamos por esse paraíso, a única coisa que ele nos cobrou foi de amar o teu próximo como a ti mesmo. 
 
Notisul – Quem é Deus e quem é Jesus Cristo?
Lourinha – Deus é criador de tudo, essa energia suprema, maior. Jesus é o que veio para ensinar o amor. 
 
Notisul – Como vocês definem temas como aborto, pena de morte e homossexualismo?
Lourinha – O aborto é a agressão maior que o ser humano pode praticar na vida, é a pior violência, é um ser que não tem como se defender. É o pecado mais forte que alguém comete. Se uma concepção é feita porque a pessoa se comprometeu com o lado espiritual para deixar esse irmão vir e cumprir a parte dele em uma encarnação para evoluir, já tinha um compromisso com ele antes da concepção, então é uma dívida. A gente fala tanto em violência. Não podemos criticar a atitude de um adolescente que puxa uma arma, quando uma mãe coloca um veneno para matar alguém que não tem força para colocar a mão nos olhos e se defender. Quanto à pena de morte, creio que não tem como julgar. Um dos mandamentos de Deus é não julgar. Não sei se ele não vai ter tempo de se arrepender. Eu colocaria o homossexualismo como o homem de ferro, de aço. Porque muitas religiões criticam e dizem que é a aberração da sociedade. Há grupos espíritas que ainda dizem ser um grande castigo e não é. Se vamos ao plano espiritual nos preparar para uma volta, esses seres observam tudo o que fizeram de errado e eles voltam em uma encarnação para saldar o mais rápido possível. Então, eles voltam em um corpo de homem com sentimento e sensibilidade feminina, ou vice-versa. Na verdade, são seres que estão saldando dívidas e cabe a nós respeitá-los e entender. Imagina a angústia desse ser, pois o sofrimento dele não está na humilhação que nós praticamos, no nosso preconceito, mas no conflito interno dessa criatura, que ninguém pensa.    
 
Notisul – Sua mensagem final.
Lourinha – O ódio ainda é o veneno que tu tomas para matar o teu inimigo, então estás te matando. Temos que buscar o amor, a paz interior, o equilíbrio, porque a hora que a humanidade puder dizer e sentir de fato o amor ao próximo, estaremos bem adiantados e daí poderemos dizer que estamos evoluindo.
 
Luiz por Luiz
Deus – É tudo.
Família – A base.
Trabalho – É nossa fonte.
Passado – Uma página que tu vira.
Presente – Plantar para colher.
Futuro – Horizonte que deve ser olhado com muita luz.
 
"Nesses 18 anos, a instituição desenvolveu muito. Hoje, dispomos de vários cursos. Aprendemos que, na verdade, o grande mal que temos e é difícil de entender somos nós mesmos, que produzimos essa energia. É muito fácil me colocar na vida como vítima, porque todos fizeram mal para mim. Deus não olha para mim, eu sou castigada. Mas tu não percebes que estás produzindo essa energia. Fazemos isso a tal ponto que abrimos uma aura escura em nossa volta que pode alimentar uma energia perdida. Quando isso ocorre, essa energia passa a ser mais forte do que a gente. Tudo se transforma em angústia, desespero, depressão, mágoa, sofrimento. Se ficarmos nesse nível de pensamento, vamos alimentando. Isso vai destruindo a família, os relacionamentos, o trabalho, tudo. Quando alguém diz: te fizeram um grande feitiço, uma macumba na tua vida. Não! Vamos parar e raciocinar. Isso não existe, tu mesma produziu isso dentro de ti. O mundo é energia e nós vivemos dentro disso. Somos nós que fizemos de nossa vida o bem ou o mal. Jogar para o universo o que pretende pedir de bom, sim, mas tem que saber como está jogando. Aprenda a jogar para o universo a prosperidade porque tu abres um leque de prosperidade". 
 
"Não adianta doutrinarmos um espírito, primeiro tem que se doutrinar a si mesmo".
 
"A instituição trabalha muito em cima da família, de sua união, na volta dos bons costumes, às coisas que deixamos para trás.”