“Odeio tapar buracos”

Nilton de Campos, secretário de desenvolvimento urbano da prefeitura de Tubarão, é um dos mais solícitos gestores do executivo. Eleito vereador em 2008 pelo PSDB, ele foi convocado emergencialmente pelo prefeito Manoel Bertoncini (PSDB) em virtude das chuvas que assolarem a cidade no dia 2 de janeiro de 2009. Na época, não havia equipe de governo definida. “Vim para quebrar um galho e foi fondo… cá estou! (risos)”, lembra. A reforma administrativa não o preocupa. Gerir a secretaria, para ele, sempre foi algo passageiro. “Não me preocupa a questão da reforma. Hoje estou secretário. Amanhã não sei. Não penso nisso. Todos os dias venho para cá para dar meu melhor. Posso morrer amanhã, antes da reforma (risos). O cargo é do prefeito e a decisão é dele. Seja qual for, para mim estará maravilhoso. Não vim para cá pelo cargo, mas por idealismo. Quero ajudar a fazer a diferença na minha cidade”, valoriza Nilton. O secretário só adianta uma coisinha: a pasta ficará maior, mas receberá o devido investimento. A prefeitura já busca recursos para adquirir equipamentos. “A defasagem é enorme, não é novidade. É a tal da herança. Tem dia que chego e fico assustado: tenho uma retroescavadeira, uma patrola e dois caminhão. Penso: Jesus, vou para onde? Escolho onde está pior e vou né!? Minha maior sorte é que a equipe é excelente. Não preciso ficar em cima: faz assim, vai lá. Isto ajuda a manter os cabelos na cabeça (risos)”.

Zahyra Mattar
Tubarão

Notisul – Qual o planejamento da secretaria para este ano?
Nilton
– Gigante (risos). Sempre disse que um governo é medido por estrada. O cara pode fazer de um tudo, mas o que fica é a estrada. E até hoje, não existiu em Tubarão um governo que fez tanto asfalto como o do DR. Manoel e Pepê Collaço. Ah, mas onde estão? Pela cidade toda: Tarquínio Balsini, a Andrino Salles Borges, a Paulo Jacob May, metade da Pedro Zapellini. Isto só para citar poucas. A preocupação deste ano é novamente a chuva. É o terceiro ano de governo e a terceira enxurrada. Isto acaba com nosso planejamento, porque precisamos redimensionar tempo e dinheiro para a recuperação. De qualquer forma, estamos muito melhor organizados do que há dois anos. Tanto que as propostas começam a sair do papel.

Notisul – E o pacotão da pavimentação? O que vem por aí?
Nilton
– Eu não gosto muito de citar obra. Às vezes, a gente diz que começa a estrada ‘A’ em uma semana e temos que mudar o cronograma. As pessoas ficam chateadas. Acham que estamos privilegiando fulano, beltrano. Na próxima semana, voltamos para a rua Recife para terminar a sinalização de trânsito. Já iniciamos também a recuperação da rua Florianópolis, no trecho da José Evaristo Fogaça até a Wenceslau Brás, e deste ponto até a rua Manaus (em frente ao Clube de Campo). Dali, vamos até a rua Uruguai, que liga com a avenida Marcolino Martins Cabral.

Notisul – Ufa!
Nilton
– Ufa nada! Coisa boa. Precisava destas recuperações. Não só porque estava péssimo, e isso a gente tem que admitir, estava mesmo, mas também porque é necessário garantir o fluxo do trânsito.

Notisul – Como são definidas as ruas que serão recuperadas ou asfaltadas, por exemplo?
Nilton
– Na maioria das vezes, por critérios técnicos. No caso deste pacote de agora, não precisa nem dizer: na maioria, o negócio está feio. Mas geralmente atacamos primeiro as ruas que fazem ligação entre bairros, as que darão maior fluxo no trânsito, entre outros pontos relevantes. Claro que o ideal era se pudéssemos recuperar todas, mas isso é impossível.

Notisul – É notória a preocupação com a drenagem hoje. Como está o trabalho?
Nilton
– Temos um problema sério com isso em Tubarão. Fica evidente quando chove. Mas não é só por causa disso. Tubarão tem poucas partes altas. A maioria é banhadão mesmo. Geograficamente, não somos muito privilegiados. A solução é fazer uma macrodrenagem. Espero que saia do papel a bendita macro da margem esquerda. Isto dará uma melhorada geral, porque senão não vamos parar de remendar alguns pontos, ainda que tenhamos conseguido solucionar de vez problemas antigos com pequenas obras, caso do bairro Pantanal, do Revoredo, no São João. Mas o grosso mesmo só com um trabalho maior.

Notisul – Drenagem é o maior problema hoje?
Nilton
– Diria que sim. Tubarão cresceu, por muito tempo, de forma desordenada. É a tal da herança que digo. Era feita uma rede de drenagem para três casinhas e um ano depois tinha 30 casinhas, mas a rede continuava a mesma. No campo da pavimentação, é a mesma coisa. Tem muito passivo. Estes asfaltos que estão aí são coisa de dez anos, no máximo. Nenhum prefeito, seja o Manoel ou um próximo, e ainda depois disso, vai conseguir deixar tudo em dia. Sempre vai ter uma coisa que ficou para trás.

Notisul – De quem é a responsabilidade de realizar a manutenção da avenida Patrício Lima no bairro Humaitá de Cima?
Nilton
– Boa pergunta. Discute-se. Seja como for, a prefeitura já se adiantou e iremos fazer a recuperação do trevo até a lombada eletrônica. Este pedaço, em tese, pertence ao município. Mas, sinceramente, não há uma delimitação formal, e isto atrapalha. De qualquer forma, fizemos um tapa-buracos lá para remediar por enquanto. Odeio tapa-buracos, mas foi o que deu para fazer por agora.

Notisul – Por quê?
Nilton
– Porque é consertar pano velho com remendo novo. Para mim, é como se jogasse dinheiro fora. Mas é o tal do mal necessário, é obrigado fazer. Não tem outra solução, porque não é possível recuperar as estradas, como estamos fazendo agora, sempre. Quem não tem cão caça com o gatinho mesmo (risos).

Notisul – Uma vez, você disse que onde a prefeitura pavimenta o cidadão obrigatoriamente tem que construir calçadas. Cadê as calçadas?
Nilton
– Ah, pois é! A lei diz isso e autuamos muito. Mas isso é uma questão cultural, na minha opinião. As pessoas ainda são muito paternalistas. É o município, o estado que têm que resolver tudo. Não é bem assim. Você não precisa esperar pela prefeitura para manter a frente de casa limpa, sem lixo para evitar o entupimento das bocas de lobo. Mas a maioria deixa e ainda usa o discurso: ‘mas eu pago IPTU’. Paga, mas pelo visto muitos preferem que gastemos uma parte considerável para cortar mato do que para fazer drenagem, pavimentar ruas. A maioria das pessoas ainda tem aquele pensamento antigo, não valoriza o que é público, apenas o que está dentro do seu próprio cercado.

Notisul – Como vocês organizam-se para a modificação do Pano Diretor?
Nilton
– Mudamos muitas coisas na secretaria em virtude do novo Plano Diretor. Mesmo sem a lei aprovada, já adiantamos o expediente. Até porque existiam setores que, convenhamos, não funcionavam muito bem. Não cumpriam com a proposta do prefeito Bertoncini, que é a de privilegiar o cidadão. Antes, por exemplo, o cara precisava de um Habite-se e era um Antes, por exemplo. Era uma saga. Resgatamos o Conselho de Desenvolvimento urbano, algo importante. Hoje há uma comissão, entre arquitetos e engenheiros, que dão suporte na análise de projetos. Isto tornou tudo transparente. Se o projeto é recusado, a pessoa sabe por que. Antes, a reposta era ‘porque sim’.

Notisul – E a bendita ponte de Congonhas?
Nilton
– Aquilo é uma novela mexicana. O novo projeto foi aprovada no conselho de desenvolvimento regional no ano passado e também estamos aguardando. Na minha opinião, a sociedade deveria fazer uma mobilização e cobrar. Aquilo é um perigo. Faz mais de um ano que digo: quem passa por lá corre risco de morte. Ninguém me ouve.