“O crack é a grande causa do aumento da criminalidade”

Carolina Carradore
Tubarão

Notisul – O senhor assumiu agora a Central de Polícia. Quais serão as primeiras mudanças a serem realizadas?
Reynaud – Estou tomando pé da situação, mas primeiramente vamos criar uma equipe de investigação e organizar melhor a atuação dos plantonistas. Com a criação da equipe de investigação, o plantonista poderá apoiar a equipe e vice-versa. Integrando essa equipe de investigação, haverá uma escrivã que ficará direto com eles e isso irá agilizar as tomadas das providências. Ou seja, o escrivão não precisará largar o plantão para atender a equipe. Outro profissional estará à disposição e isso irá tornar o trabalho muito mais ágil.

Notisul – Como está formada a equipe da Central de Plantão Policial?
Reynaud
– Temos hoje dois policiais na investigação, mais dez no plantão, mais cinco escrivãs, três escreventes e quatro estagiários. A CPP também conta com os trabalhos dos delegados Damásio Mendes Brito, Genuíno Martins e Giovani Floriani.

Notisul – Como ficará a parceria com a Polícia Militar com essa equipe de investigação?
Reynaud
– Damos nosso respaldo à PM com as prisões que realizam. Recebemos as pessoas trazidos e formalizamos o procedimento necessário. Continuaremos com apoio do tenente-coronel Sílvio Ricardo Alves e a minha ideia é estreitar ainda mais essa parceria com a Polícia Militar para dar uma melhor resposta, um resultado melhor à população.

Notisul – Como ficarão as atividades do Núcleo de Investigação Criminal (NIC), juntamente com a CPP?
Reynaud
– O núcleo atende toda a quinta região e fica responsável em investigar crimes de autoria desconhecida, com exceção de crimes contra o patrimônio. Hoje, ela trabalha com homicídios e crimes com autoria desconhecida. O restante é da Central. Todo homicídio, por exemplo, primeiramente é registrado ocorrência na CPP, é feita a comunicação aos policiais do núcleo que irão, acompanhados dos peritos, fazer levantamento do local do crime.

Notisul – Quais as cidades que compõem a 5ª região?
Reynaud
– Tubarão, Jaguaruna, São Ludgero, Rio Fortuna, Grão-Pará, Gravatal, Braço do Norte, Armazém, Capivari de Baixo, Pedras Grandes, Sangão, Treze de Maio e São Martinho.

Notisul – E a equipe de investigação da Central de Plantão Policial, qual é a função exata?
Reynaud
– Essa equipe investiga principalmente crimes contra o patrimônio e tráfico de drogas. Fiquei surpreso com o número elevado de furto de veículos e furto em veículos. Arrombamentos em residências e em estabelecimentos comerciais também são assustadores. Não podemos deixar de falar que a CPP está à disposição da população 24 horas.

Notisul – Esses furtos em veículos têm ligação com o tráfico?
Reynaud
– Sem dúvida nenhuma. Na maioria das vezes, são dependentes químicos que furtam aparelhos de CDs, celulares e levam direto no ponto de droga, furtam talões de cheques e vendem para estelionatários, mas todo dinheiro arrecadado vai para a compra de droga. Boa parte é de são viciados em crack.

Notisul – Qual a sua opinião sobre o crack em Tubarão?
Reynaud
– O crack tornou-se tão danoso justamente pelo valor do comércio. Aqui em Tubarão, você compra uma pedra por R$ 5,00 e, por ser barata, virou a droga de fácil acesso. O crack é uma das grandes causas do problema de criminalidade e social de Tubarão. E tem outro ponto importante: se a criminalidade sobe, é porque há de alguma forma falha no estado. E tudo tem envolvimento com tráfico de droga. O trabalho de repressão ao tráfico não se limita apenas à prisão de traficantes, precisa de um trabalho conjunto com o usuário.

Notisul – O que se pode fazer para coibir isso?
Reynaud
– A repressão ao crime tem ser organizada, deve ser trabalhada em cima de informações, precisa ter uma estrutura de conhecimento dos participantes, dos autores do crime, quem tem ligação direta, quem tem ligação indireta. Não é simplesmente prender que vai resolver o problema. Você prende hoje um vendedor de droga, só que tem muito mais gente esperando a vaga dele. A repressão não é só prender o laranja, e sim um trabalho ordenado, de coleta de dados, para se chegar em quem fornece a droga. Enquanto não se chegar nas pessoas que alimentam esses vendedores que são presos, a polícia nunca vai conseguir diminuir o tráfico. Antigamente, o tráfico de drogas restringia-se a determinados locais. Hoje, em razão da facilidade de obter a droga para revenda, qualquer lugar você encontra alguém vendendo droga. Você vai num posto de gasolina, tem gente vendendo droga, em qualquer evento, de médio ou grande porte, tem gente vendendo entorpecente.

Notisul – E é esse trabalho que a CPP está desenvolvendo?
Reynaud
– Sim. Estamos trabalhando com apoio das delegacias da região, com apoio do Núcleo de Investigação Criminal (NIC). Também vamos procurar o comando da Polícia Militar de Tubarão para que as informações que eles têm a respeito disso também sejam fornecidas para alimentar nosso trabalho de coleta de dados para reprimir o tráfico de drogas. Essa parceria será muito importante para o sucesso desse trabalho.

Notisul – O que o senhor espera desse trabalho?
Reynaud
– Primeiramente, que tenhamos uma mapeamento dos pontos de vendas de drogas e dos responsáveis em Tubarão. Hoje, não temos só dois ou três pontos de drogas. Cada bairro tem três, quatro “bocas”. Temos os pontos mais conhecidos, mas há outros que ainda não estão em evidência. Nossa ideia é ter uma estrutura de informação sabendo quem são os fornecedores, quem são os vendedores, onde estão os pontos. O crack é muito fácil de se livrar, pode ser escondido, pode ser dispensado e você não encontra. E muitas pessoas são presas como usuários e são traficantes. Observei através das informações que temos e de posse de procedimentos instaurados por tráfico de drogas, que algumas dessas pessoas tidas como usuárias são na verdade traficantes. E esse trabalho vai identificar essas pessoas. Precisamos corrigir esses erros cometidos nessa tipificação. Falta em Tubarão uma estrutura de saber quem é quem.

Notisul – Tubarão registrou nove homicídios em 2009. Nunca na história da cidade ocorreram tantos assassinatos em um único ano. Qual a sua opinião sobre isso?
Reynaud
– Atribuí a isso uma banalização dos crimes contra a vida. Hoje, por qualquer dívida que há ou desentendimento entre grupos, estão contratando a morte do outro. Isso aí é uma forma de afrontar a própria estrutura legal, talvez com aquela sensação de que não vai dar nada, que não vão ser descoberto e acham-se acima da lei.

Notisul – Esses crimes estão interligados?
Reynaud
– Pelo pouco tempo que estou aqui, percebi que todos os homicídios têm ligações diretas ou indiretas com tráfico de drogas, mas não creio que seja um mandante só. Temos vários autores de crimes, mas todos envolvidos com drogas.

Notisul – O que a CPP, com apoio da NIC, está fazendo para desvendar esses crimes?
Reynaud
– Com relação a esses crimes, tudo o que nossa equipe recolhe de informação ou denúncias recebidas é repassado para o Núcleo, para que eles alimentem as investigações.

Notisul – Qual a ligação dos crimes em Tubarão com adolescentes?
Reynaud
– Isso é um assunto que preocupa muito, desde o tempo que trabalhei na Delegacia da Mulher, da Criança e do Adolescente. A maioria dos crimes é cometida por adolescentes, inclusive o comércio de drogas tem a participação expressiva de adolescentes. Em Tubarão, essa realidade é presente. Hoje, contamos com a delegada Viviam Garcia, que veio de Joinville. Ela assume a Delegacia da Mulher de Tubarão, tem uma veia operacional e se dispôs a apoiar esse trabalho para tentarmos diminuir o máximo possível essa criminalidade.