“Fui ameaçado e a polícia não me protegeu”

Marcos Tibúrcio
Marcos Tibúrcio

Amanda Menger
Jaguaruna

Notisul – Como avalia o seu governo?
Tibúrcio
– Quando entramos em 2005, queríamos reestruturar o município. Sem negativas, não podíamos firmar convênios nem estaduais nem federais. Não foi por culpa de um prefeito ou de outro, mas do próprio sistema. De Fundo de Garantia, a dívida era de R$ 3,5 milhões e, de início, pagamos R$ 800 mil. De Pasep, parcelamos a dívida de R$ 400 mil; de INSS, quase R$ 1 milhão. Além de outros com Celesc, Anatel, Fundação Oswaldo Cruz, Ibama. A partir disso, conseguimos os convênios. Hoje, dizem: ‘Ah, o prefeito não tem negativas’. Isso não é verdade. As federais estão todas em dia. Temos um sério problema com a Cidasc, que tem liminar e o próximo prefeito terá que renegociar. É uma dívida que eu não reconheço, de um serviço que foi prestado na administração do Zairo.

Notisul – Com esta reestruturação, o que foi possível fazer?
Tibúrcio
– Pavimentamos dez ruas, compramos dois tratores, quatro ônibus, um caminhão. Reformamos todas as escolas e alguns postos de saúde. Colocamos a folha de pagamento em dia e aprovamos o plano de carreira do magistério. Cobrimos integralmente o transporte escolar. Recebo por mês R$ 35 mil entre recursos estaduais e federais de transporte e nós gastamos R$ 70 mil. Isso dá um déficit de R$ 1,6 milhão nos quatro anos, e esse dinheiro sai do município. Recebemos R$ 10 mil por mês e gastamos R$ 35 mil com a merenda escolar. Temos ainda diversos convênios firmados em Brasília. Na última administração, foram investidos R$ 400 mil no Hospital de Caridade; nós investimos mais de R$ 1,6 milhão.

Notisul – Como foram conseguidos os recursos para saldar as dívidas?
Tibúrcio
– Aumentando a receita. Isso ocorreu de forma natural, com o crescimento dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios. Eu questiono a contagem populacional. Tenho certeza que Jaguaruna não tem apenas 16 mil habitantes. Nós podíamos estar com índice de 1.2 no FPM e não 1.0 se não fosse o Censo. Nisso, perdemos R$ 100 mil por mês. O incremento da receita se deu pelo governo federal e pelo pagamento do IPTU. Trabalhei muito a cobrança de dívida ativa. Fui muito criticado pelo aumento do IPTU, mas, na verdade, só atualizamos a planta de valores.

Notisul – Qual era o orçamento há quatro anos? E hoje?
Tibúrcio
– Era de R$ 16 milhões e hoje mais de R$ 23 milhões. Mas, a despesa também aumentou muito. O lixo coletado era depositado o céu aberto até o fim de 2004. Levamos para o aterro sanitário da Serrana. O custo antes era de R$ 100 mil, hoje é de R$ 700 mil por ano. O próximo prefeito prometeu que a coleta será à noite, o que é o ideal com caminhão compactador, mas terá que pagar adicional noturno aos empregados e ainda terão que fazer a recuperação ambiental, que custará R$ 500 mil. Eu, como opositor, irei cobrar isso.

Notisul – Você não se reelegeu por apenas 300 votos. Qual a justificativa?
Tibúrcio
– Talvez por comodismo. Mágoas eu tenho, não do prefeito eleito nem do vice, nem do partido deles, mas das mentiras pregadas. Eu jamais falei mal de caminhoneiro, ou que caminhoneiro não estava preparado para ser prefeito. Que vice-prefeito não podia ser agricultor. Meu avô era agricultor e mais inteligente que eu. Eu disse que iria governar para caminhoneiro, agricultor, pintor, engenheiro, médico, para Jaguaruna. Eu disse, em um debate que ele não compareceu, que não estava preparado porque não tinha comparecido. Se o chapéu serviu… Sou contra a reeleição, mas também sou contra ao mandato de quatro anos. Tenho consciência do que fiz, não me arrependo, fomos uma administração inovadora e talvez isso também tenha me custado a reeleição.

Notisul – Qual seria o tempo de mandato ideal?
Tibúrcio
– Seis anos, sem reeleição e com eleições gerais, porque aí acaba com essa palhaçada, porque já estão falando na eleição de 2010.

Notisul – Você vê alguma possibilidade em assumir, já que há uma ação de investigação judicial eleitoral contra o prefeito eleito?
Tibúrcio
– O que foi feito em Jaguaruna foi um absurdo. Há provas contundentes de uso abusivo do poder econômico, mas isso não compete a mim julgar, e sim à justiça eleitoral. Eu não preciso contar com essa possibilidade. Acho que, se houver justiça, ele terá que responder pelo que fez. Não fui eu que denunciei, foram pessoas que nos procuraram para denunciar. Pessoas que têm provas foram a frente do promotor e disseram o que fizeram.

Notisul – O clima da eleição em Jaguaruna foi tenso. Por quê?
Tibúrcio
– Para mim, foi a eleição da vergonha. Fiquei envergonhado de ser prefeito de Jaguaruna em período eleitoral desse tipo. Fiquei decepcionado com as polícias Militar e Civil. Pode ficar registrado isso: os comandos das polícias não deram a proteção imparcial que deveriam. Eu fui ameaçado na Costa da Lagoa; na véspera da eleição, tive que me recolher às 19 horas; no dia da eleição, tive que me recolher às 14 horas em casa, com ameaças por telefone, ameaça na rua, carros na frente da minha casa, isso que eu moro ao lado dos destacamentos das duas polícias. As polícias só diziam: é ameaça verbal. Eu não fui protegido e a minha família não foi protegida.

Notisul – Você ficou receoso de que pudesse lhe ocorrer alguma coisa?
Tibúrcio
– Sim. Aí eu recolhi a minha família dentro de casa. Podia levar um tiro ou qualquer coisa. E eu não quero ganhar eleição deste jeito, não preciso disso. Se querem fazer assim, que façam. Eu já tinha avisado bastante e não foi só em Jaguaruna. Eu fui cercado por marginais. Para se ter uma idéia, o nosso carro não podia andar com documento atrasado, o deles, da coordenação, andou para cima e para baixo com o documento atrasado. Não tenho medo e não tenho vergonha de dizer isso: Jaguaruna não merecia passar por isso.

Notisul – Então, a rivalidade que deveria ter se restringido aos discursos ganhou outra dimensão?
Tibúrcio
– Não houve discurso. Primeiro, porque ele não foi a debates. Depois, as músicas dele eram de baixaria, de baixo calão, quase todas, mexendo inclusive com a minha integridade. As minhas falavam de futuro, crescimento. Eu sempre disse que política não podia se fazer deste jeito. Não tenho nada contra o prefeito eleito, é meu amigo, agora o grupo que o cercou era muito ruim; não que o meu era bom, tinha pessoas ruins, é evidente, mas eles se sobressaíram.

Notisul – Como estão os preparativos para o verão? A passagem de cargo ocorre durante a temporada…
Tibúrcio
– Eu estou recolhendo o lixo nos balneários normalmente, preparando os acessos às praias, manutenção de ruas. Fizemos muitos trabalhos de ruas, mas as chuvas detonaram praticamente tudo. E eles irão reclamar muito disso, porque não dá tempo de refazer o que foi perdido. Na estrada do Laranjal, que é o desvio da estrada do Camacho, aquela novela mexicana, nós fizemos a manutenção, o que deveria ter sido feito pelo estado. Só lá, foram 800 caminhões de areia, mas com as chuvas, já está tudo detonado novamente.

Notisul – E os postos de guarda-vidas?
Tibúrcio
– Eu sempre disse que essa é uma obrigação do estado, por isso colocamos o bombeiro voluntário em Jaguaruna. Mas nós vamos dar a manutenção, na próxima semana já estarão prontos. Na Esplanada, Campo Bom, Camacho e Arroio Corrente. São poucos, deveriam ser uns 20, no mínimo.

Notisul – O Corpo de Bombeiros foi uma das suas batalhas…
Tibúrcio
– Foi uma das brigas com a secretaria estadual de segurança pública. Porque eu dei um ano, dei dois, dei três e não quiseram botar. Nós equipamos. O caminhão de combate a incêndios ficou uma ‘tetéia’. Eu fui a Caçador três vezes com o meu carro para poder equipar o caminhão. Eu ganhei o chassi da Receita Federal e depois nós equipamos aquele tanque com uma bomba que custou R$ 50 mil, chegou a ser orçado por US$ 70 mil. Doamos mais duas viaturas, carro operacional, e mais uma ambulância. Isso foi uma conquista e espero que dêem continuidade.

Notisul – E a transição, como está?
Tibúrcio
– Não está. Até dois, três dias atrás, falaram muita bobagem. Eu mandei um recado muito claro: não devo nada para eles. O município está muito bem organizado. Vou recebê-los na segunda-feira, abrir a prefeitura, mostrar as condições. Mas se tiver mais um comentário maldoso ou de som, fogos, de rádios também, não terão transição. O município não vai perder, porque está tudo documentado e vamos entregar como o Tribunal de Contas do Estado (TCE) exige.

Notisul – Como você deixará a prefeitura?
Tibúrcio
– Não como eu gostaria. Achei que seria reeleito, poderia concluir o meu projeto. Mas está muito melhor do que eu recebi. Hoje, tem capacidade de endividamento de R$ 2,5 milhões para 2009. E antes não tinha nada. Alguns fornecedores a pagar, mas bem menos do que eu peguei e com condições do TCE aprovar as minhas contas plenamente. Com investimentos em todas as áreas, folhas de pagamento em dia e muitos convênios assinados com o governo federal e recursos aprovados no Badesc, só esperando o seguimento burocrático.