“Deixava o salário na prefeitura”

Wilson Westphal nasceu em Braço do Norte quando o município ainda pertencia a Tubarão. Ele tem 80 anos e orgulha-se de ser exemplo de longevidade. Mas não é apenas na idade que é exemplo: Wilson também foi prefeito de Braço do Norte entre 1970 e 1973 e, até hoje, é considerado por muitos o melhor gestor que a maior cidade do Vale teve. Bem pudera, o homem fez o impossível em uma época em que tudo era muito mais complexo, difícil. Westphal chegava a tirar dinheiro do próprio bolso para obras. Um dos fundadores do Clube Cruzeiro, ele é casado com Guerty Mertens Westphal e tem quatro filhos. Também foi diretor de várias empresas, algumas pioneiras em Tubarão, como a Indústria Brasileira de Laminados S.A. (Inbral) e a Westphal e Filhos, entre outras.

Karen Novochadlo
Braço do Norte

Notisul – Por que o senhor decidiu concorrer à prefeitura de Braço do Norte?
Wilson Westphal
– Jamais pensei em ocupar um cargo político, mas eu era político por natureza. Meu pai também era. Por isso me filiei ao PSD. Gostava dos candidatos do partido, que na época eram Celso Ramos, Lauro Locks, Dorvalei Locks. Eu morava em Tubarão. Tínhamos uma propriedade na cidade e convidaram-me para concorrer em Braço do Norte, pelo MDB. Eu fui e ganhamos a eleição. Foi um mandato de três anos. Depois voltaram a cotar meu nome para outros cargos, mas eu nunca mais concorri para nada.

Notisul – Por que não?
Wilson Westphal
– Não gostei. Eu dava muito de mim. Se a prefeitura não tivesse dinheiro, eu entregava o meu. Na época podia. Meus negócios particulares ficaram de lado e levei anos para colocar tudo em dia novamente.

Notisul – Quando o senhor foi prefeito não tinha a fiscalização que há hoje, tanto que na época o senhor tirava dinheiro do próprio bolso. Como era isso?
Wilson Westphal
– Entrei para a vida pública para servir a cidade. Assim como um presidente de um centro comunitário. Eu não tinha pretensões, tanto é que nunca recebi um centavo de salário. Eu deixava na prefeitura porque sempre faltava verba, principalmente na educação e no social. Braço do Norte não tinha o progresso que tem hoje. Quando vejo hoje, orgulho-me em saber que parte deste crescimento tem meu suor. A cidade era morta e demos vida para ela. Tentamos fazer com que o povo permanecesse lá porque todo mundo queria ir embora. Fizemos um trabalho muito bom na agricultura e na suinocultura. Naquela época, o produtor criava o porquinho por causa da banha, incentivamos para que mudassem o foco para a carne. Hoje, o suíno do Vale é reconhecido como um dos melhores do país.

Notisul – Foi uma empreitada difícil, não foi?
Wilson Westphal
– Nem me lembre. Durante a campanha, até o jipe encalhava nos dias de chuva. Ir para Braço do Norte era uma aventura. Hoje tem asfalto. O meu vice-prefeito (Francisco Wiggers) chegou a dizer que íamos pegar uma empreitada muito ruim. E não deu outra, mas conseguimos melhorar um pouco as cosias. Retificamos as estradas, construímos duas salas de aula para o ensino regular e duas para o técnico, em um colégio estadual. Algo extraordinário para a época.

Notisul – Como era o entendimento entre a câmara de vereadores e a prefeitura?
Wilson Westphal
– A câmara funcionava bem porque os vereadores tinham interesse na cidade. Naquela época, era trabalho voluntário. Ninguém recebia salário.

Notisul – Como o senhor vê Braço do Norte hoje?
Wilson Westphal
– A cidade deslancha. Está muito bonita e o progresso é grande. Eu saí de lá quando o lugar tinha 12 mil habitantes. Hoje são 30 mil braçonortenses. Vejo que muita gente que tinha ido embora para Rio do Sul, Ituporanga, Itajaí voltou para a terrinha. Fico feliz com isso.

Notisul – O senhor acha que hoje é mais fácil de governar do que na sua época?
Wilson Westphal
– Sim. Hoje em dia é mais fácil comprar máquinas, construir prédios. Quando era prefeito comprei uma carregadora e uma retroescavadeira. Foi uma festa na cidade. Todo mundo ia atrás das máquinas para vê-las trabalhar. Hoje comprar uma máquina é fácil. Naquele tempo ganhava-se pouco. Todos viviam com pouco. Por isso sempre abri mão do salário de prefeito. Achava que era o mais justo com o povo.

Notisul – O senhor também fez parte do processo de industrialização de Tubarão. Como foi?
Wilson Westphal
– Tivemos a Inbral em Tubarão. Em Braço do Norte, a madeireira maior era nossa. Hoje acabou tudo porque os filhos não tiveram interesse. Tínhamos uma fábrica de esquadrias, assoalho, forro. Vendíamos muito para o Rio Grande do Sul, na região de Porto Alegre, Canoas. Mas a maior consumidor era Tubarão. Mais tarde, o ramo madeireiro começou a não dar mais resultado. Atuamos em Tubarão de 1946 até 1974. Depois passei a viver do reflorestamento. Hoje vivo da aposentadoria.

Notisul – Como é que era a Inbral?
Wilson Westphal
– Essa empresa teve até 200 empregados. Fomos praticamente o começo da industrialização em Tubarão. Éramos quatro sócios: Irmoto Feuerschuette, Jair Freccia, Dr. Tássio e eu. Nós, o Zandavalle e o Alusud, éramos as três empresas grandes que tinham na cidade na época. Infelizmente nenhuma das três continuou. Eram muito grandes, iam além das nossas forças. A Alusud foi vendida para os canadenses e hoje é conhecida como Alcoa.

Notisul – O senhor cuida bastante da saúde?
Wilson Westphal
– Até que não cuido muito, não. Fumei por 65 anos. Parei o ano passado, quando a minha médica constatou que minhas veias do coração estavam quase entupidas. Ela disse que eu ia morrer de uma hora para outra se não parasse. Aí não teve jeito. Hoje não fumo, mas não deixei a caipirinha de lado. Mas só um pouquinho, como aperitivo.