Por dentro dos anseios da população

Rita Elisabete é a ouvidora da prefeitura de Tubarão

Perfil
Assim como na profissão de psicóloga, Rita Elisabete Pereira da Silva Ribeiro, 49 anos, aceitou o desafio de montar uma espécie de divã na prefeitura de Tubarão para colocar em pleno funcionamento a Ouvidoria. A boa surpresa foi que, além das reclamações, denúncias e pedidos, ela recebe muitas sugestões e elogios. Filiada ao PP, Rita disputou por duas vezes uma cadeira na Câmara de Vereadores, em 2012 e 2016, acabou de deixar a presidência do PP Mulher e foi funcionária de carreira da Celesc durante 25 anos. Ela está empolgada de que poderá fazer um trabalho com melhores resultados já a partir do próximo ano.

 
Priscila Loch
Tubarão

Notisul – A Ouvidoria é um serviço novo?
Rita – Aparentemente, já existia. Inclusive, havia um e-mail de Ouvidoria quando chegamos, mas não funcionava com essa característica que o Joares (Ponticelli, prefeito) sugeriu, de ser realmente um canal direto entre o povo, ele e o Caio (Tokarski, vice-prefeito). Que os secretários realmente conhecessem os anseios da população e dos servidores. Por exemplo, eu estava resolvendo agora há pouco (a entrevista foi feita na tarde desta quarta-feira) o caso de uma servidora que estava com problemas de lugar de trabalho, tentou falar com sicrano, tentou falar com beltrano, mas a coisa ficou para trás. É legal porque temos um meio de fazer. Tem gente que diz que vai ligar para a Ouvidoria que a ouvidora resolve. Não é que resolvo, quem resolve são os secretários, ou outros servidores. Eu intermedeio.

Notisul – Como funciona na prática?
Rita – A Ouvidoria é o canal depois daquilo que não deu certo. A pessoa ligou e disse que já falou com várias pessoas, pergunto todos os dados, como aconteceu, com quem já conversou a respeito, e entro em contato com a pessoa da secretaria, não necessariamente o secretário, que pode resolver. Se chega reclamação sobre uma rua, por exemplo, não preciso falar com o Eraldo (Pereira, secretário de Infraestrutura).

Notisul – Para isso, você tem que conhecer toda a equipe.
Rita – Ainda estou conhecendo. O pessoal mais próximo do gabinete eu conheço bem, mas tem muitos que ainda não. Não tem hora, e eu vou atrás dessas pessoas que vão tentar resolver ou me dizer o que precisam para resolver, e eu vou fazendo o meio de campo. Quando é uma situação nova ou só foi feita uma solicitação na Central do Cidadão e estamos vendo que não está andando, faço a solicitação por e-mail, sem aquela urgência. Eles me respondem, guardo e fico aguardando o posicionamento final. Algumas secretarias não tinham muito o hábito de responder, outras respondiam direto para o cidadão. Era complicado porque eu não ficava sabendo. Tem também gente que já reclamou de não ter recebido a resposta, na maioria das vezes porque se trata de denúncia e não posso falar de denúncia se não tiver sido comprovada. Às vezes, é uma calúnia, intriga.

Notisul – Qual o percentual de casos solucionados?
Rita – Cerca de 80%.

Notisul – E os outros 20%?
Rita – Os outros 20% são situações sem soluções imediatas. Se a empreiteira da prefeitura quebra o meio-fio fazendo um serviço, por exemplo, a gente ainda não tem a licitação para refazer. Às vezes com um saquinho de cimento se consegue fazer reparo, mas pode ser que não consiga e demore em resolver. Outro problema bastante sério é o entupimento de encanamentos. Em outras gestões, foi colocado asfalto em cima das bocas de lobo. E tem acontecido que no momento que satura a fossa das casas aquilo vaza, e piora quando chove. Nós não temos um caminhão que desentope para poder tirar esse asfalto que está lá dentro. Tem lugar que foi preciso refazer todo o encanamento. No começo, em março, abril, conseguimos emprestado, mas agora não estamos conseguindo. É preciso ter todo um orçamento para poder pagar esse caminhão.

Notisul – É muita burocracia né?!
Rita – Meu Deus! Até tem dinheiro para executar, mas é preciso de empenho para isso e, mesmo que tivesse feito há dois meses, ainda não estaria pronto, o processo demora. Tanto carta-convite quanto pregão, é tudo muito burocrático. Tem que ter licitação para tudo, para a água, para o café…

Notisul – Ainda bem que a Ouvidoria não serve só para reclamações não é?
Rita – Além das reclamações, têm denúncias, solicitações, elogios. Denúncias são as maiores procuras. Tem que ter muito cuidado, pois nem tudo é como chega. Tem casos de mal entendido. Como as pessoas estão começando a ver que existe este canal, aí elas vêm para ver o que pode ser feito. Eu explico, vou atrás para descobrir que tipo de situação é. Esta semana, um senhor me ligou para fazer uma denúncia, que se transformou em solicitação. Ele queria que tivesse atendimento domiciliar do posto de saúde para a avó dele, que é de idade, porque afinal de contas tem pessoas muito mais jovens que têm atendimento domiciliar e deveria ser prioritário para ela. Expliquei que o atendimento prioritário é no posto, tem o dia dos idosos. Se ela fosse acamada, seria de outra forma. Daí virou uma solicitação, para que uma agente de saúde vá até a casa ver o estado de saúde dela, porque às vezes ela fica realmente de cama.

Notisul – Pode-se dizer que os principais requisitos para a tua função é ser provida de paciência e compreensão?
Rita – Exatamente. Primeiro, tenho que ser desprovida completamente de qualquer arma. Tenho que escutar. Preconceito não pode haver, pré-julgamento jamais. Primeiro ouço o que aquela pessoa está querendo fazer, qual o problema. Às vezes, não consigo entender de imediato o problema. É preciso observar o nível intelectual da pessoa para saber que linguagem usar, cada um é de um jeito. Dia desses, fiquei mais de uma hora com uma senhora e no fim descobri que ela precisa de algo que é a família que não dá, e de vez em quando ela liga para conversar. Virou amiga. Como sou psicóloga, já converso, dou uma ajuda.

Notisul – Ser psicóloga te ajuda nessa função?
Rita – Muito! Como você citou anteriormente, precisa de compreensão, empatia. Uma conversa, que muitas vezes já vira uma resposta, ajuda muito. Muitas questões eu já respondo na hora. Tem a FanPage do Joares e a da prefeitura, além do site, onde tem muito material. Eu tenho conhecimento e respondo com essas informações para as pessoas que não leram. Participo da maioria das reuniões, estou bem próxima do gabinete por isso, vou com frequência na sala do prefeito, onde ele me coloca diversas situações, para eu ter subsídios para responder. A comunicação é essencial, preciso estar por dentro de tudo que ocorre dentro da prefeitura.

Notisul – Qual a quantidade de atendimentos nesses meses de governo?
Rita – Nos oito meses e meio de gestão, foram 201 chamados referentes à Secretaria de Infraestrutura, 196 da Fundação de Saúde, 95 da Fundação de Educação, 90 do Desenvolvimento Social, 95 de fiscalização de obras, 65 da Secretaria da Fazenda e 29 da Defesa Civil. Esses chamados são os que têm registrado por e-mail. A Ouvidoria responde ainda nas redes sociais, que muitas vezes se transformam em contato telefônico. Esses números não são registrados. A Ouvidoria responde via telefone, por chat, correspondência e atendimento presencial.

Notisul – De uma forma geral, tem algum assunto específico que lidera? Até pouco tempo atrás a maioria era reclamação sobre a iluminação pública.
Rita – Até julho, mais ou menos, iluminação liderava e infraestrutura vinha em segundo lugar, com problemas nas ruas, buracos, bocas de lobo. Depois, transformou-se na saúde. Muitas pessoas pararam de se incomodar com os seus problemas individuais, específicos, e começaram a se preocupar com coisas maiores. Como, por exemplo, uma rua inteira que está escura, a segurança na área da Arena, a fiscalização sobre as calçadas. Está se criando um senso de coletividade, isso é muito legal. E a saúde no sentido de “eu estava lá sentada no posto e tinha uma pessoa com filho no colo que levou um tempão para ser atendido”, “nosso posto teria que ter mais um médico”, coisas desse tipo… Quase ninguém mais reclama de falta de remédios, um ou outro que precisa de Omeprazol, que teve um problema bem sério, faltou matéria-prima no laboratório e agora já conseguimos regularizar.

Notisul – Quais as principais dificuldades para resolver os problemas da Ouvidoria?
Rita – Falta de pessoal para atender. Muita coisa conseguimos resolver usando criatividade. É assim que buscamos solucionar muitos problemas.

Notisul – A respeito do governo, superou as tuas expectativas estar junto no projeto?
Rita – Entrei com uma ideia de que pudéssemos fazer muito mais, depois deu aquela baixa na hora que vimos que não poderíamos fazer muita coisa. Dá um desânimo, uma sensação de impotência. Tem muita coisa que tu esbarras como tivesse uma parede invisível. Agora não, os trâmites estão começando a dar resultado. Temos uma equipe de gestão muito fera, está encontrando as saídas. Agora, estou muito otimista com o que estamos conseguindo. Nesse final de ano vai ser de novo um período difícil, vai dar uma apertada, mas tenho certeza que vamos começar 2018 com muitos ganhos. Eu vejo que a gente pode fazer muito mais. a Ouvidoria busca fazer esse link, as pessoas ligam fazendo sugestões, muitas sugestões. E às vezes as sugestões são acatadas. E as pessoas também estão agradecendo pelas respostas. Eu respondo o chat da prefeitura, e vejo o quanto elas precisa da resposta. Muitas vezes não temos a solução, mas ao menos damos a resposta.

Notisul – Você sempre foi engajada na luta pela inclusão das mulheres na política, já foi candidata, presidente do PP Mulher. Na sua visão, por que Tubarão não elegeu nenhuma vereadora nas últimas eleições?
Rita – Na minha visão, as mulheres de Tubarão não querem se envolver em assuntos que não têm retorno imediato, em que vão se incomodar, avaliam não ser de responsabilidade delas. Assim como os homens acham que a política é só deles. As mulheres têm que entrar e pedir espaço. Na primeira vez que fui candidata, pedi voto para uma amiga e ela disse que o pai mandou perguntar se eu queria ser candidata para conseguir um carguinho ou ser vereadora mesmo, é essa visão que muitos têm. Eu respondi que eu queria ser vereadora mesmo. Eu já era funcionária pública da Celesc e não precisava de trabalho, queria fazer algo mais. Em 2011, me convidaram para ser candidata e eu nem pensava nessa possibilidade, pensava em fazer meu trabalho, em ajudar onde eu pudesse. Acabei aceitando e vi que realmente a gente pode fazer muita coisa. Não me elegi. Aí fui para o PP Mulher e me envolvi muito com o partido. Mas eu estava na estrutura do partido e não considerei ser candidata em 2016. Logo num momento em que eu estava fazendo um trabalho sobre as mulheres mais fortes. A minha ideia era e ainda é fazer as mulheres terem mais consciência do quanto precisam se envolver, se engajar, fazer parte.