A vinda do ‘serumaninho’

Felipe de Souto
Sócio e fundador da Costa & Souto Advogados (OAB/SC 4716/2019) – 
felipe@costaesoutoadvogados.com.br

Minha esposa e eu optamos por não termos filhos. Nossa relação iniciou em 2010 e, desde então, nunca esteve nos planos gerar uma criatura, chamada de Descendente no Código Civil.

Para os que decidem ter filhos, ou simplesmente são pegos de surpresa, a vinda do “serumaninho” pode ocorrer pela via cirúrgica ou pela via natural (parto normal). Para eu que sou leigo, parece-me ser apenas essas duas possibilidades de trazer o Herdeiro ao mundo real.

Dito isso, de uns anos para cá, surgiram profissionais (ou voltaram à tona?!) que oferecem apoio emocional e conforto às gestantes, chamadas Doulas. No Estado de Santa Catarina e no nosso Município existe lei que trata do assunto, ainda que tais leis sejam simplórias. 

Os resultados do trabalho desempenhado por Doulas vêm trazendo revelações surpreendentes na redução das intervenções e complicações obstétricas, bem como facilitando o vínculo entre mãe e bebê desde a gestação e no pós-parto. É o que mostram as pesquisas pois como disse, eu e minha esposa optamos por não vivenciar isso.

O problema que tenho presenciado, atuando como advogado no ramo hospitalar, são algumas gestantes que levam ao extremo a decisão de ter parto natural (humanizado?!), contrariando, muitas vezes, a orientação médica de, naquele caso específico, partir para a cirurgia, pois a criança que está por nascer e/ou a gestante, correm risco.

A gestante, sua família e a Doula, precisam ter bom senso para decidir o momento adequado de autorizar a cirurgia de cesariana, e não deixar que apenas a crença ou o seu desejo pessoal sejam as únicas fontes “científicas” de sua decisão. Esse momento de decisão, essa linha que separa o saudável do não saudável, a vida da morte, é muito tênue, e bastam alguns poucos minutos, para transformar um momento de alegria, num pesadelo eterno.

Destaco dois pontos: (1) Em caso de risco à gestante e/ou ao bebê, a decisão de cirurgia de cesariana é do médico, que não pode, jamais, omitir-se nessas situações. Nesse momento crítico, de risco, a Doula não decide nada, aliás, a lei a proíbe de realizar procedimentos médicos ou clínicos. (2) O diálogo, informação fundamentada e o bom senso, devem sempre pautar o momento em que o risco à gestante e/ou ao bebê se apresentam, cujo objetivo deve ser, sempre, tornar o parto algo positivamente. 

Finalizo com uma conversa que tive um tempo atrás com a minha esposa quando ela estava lendo o livro “Mulheres que correm com os lobos”. No livro a autora dizia algo assim: “se vivemos como respiramos, prendendo e soltando, não poderemos errar.”

Então, nesses ciclos femininos e com esse turbilhão de hormônios, nesse momento “crítico” de ter que optar por uma cirurgia, resta aceitar o que é seguro, sem frustração. Deve ser levado em consideração que tudo foi feito visando o parto natural e que apesar de toda a preparação, nem sempre as coisas tomam o rumo que a gente sonhou! O importante é que o “serumaninho” venha ao mundo com plena saúde!