Libra será a nova moeda mundial?

Foto: Divulgação/Notisul
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Antes de qualquer confusão, deixe-me explicar: a Libra em questão não é a moeda oficial da Inglaterra, que lá é a Libra Esterlina (£), e sim, a nova moeda virtual do Facebook. Isso mesmo, a maior rede social do mundo, e outras grandes empresas (em torno de 27, por enquanto), estão programando o lançamento de uma nova criptomoeda a partir de meados de 2020, e ela também será designada pelo nome de “Libra”, daí desde já é necessário fazer a distinção e evitar possíveis confusões.

Uma criptomoeda é uma espécie de “dinheiro digital”, onde os mais conhecidos atualmente são o “BitCoin”, “Ethereum”, “Monero”, mas existem milhares de outras moedas virtuais, a maioria delas não é conhecida. A primeira criptomoeda descentralizada criada foi o BitCoin, em 2009, e o propósito dela é permitir transações financeiras sem intermediários, mas verificadas por todos os usuários e com registros gravados de um “banco de dados distribuído” chamado de blockhain, ou seja, não há uma entidade administradora central, e sim, vários pontos que fazem o registro de todas as transações, o que praticamente impede que ocorram fraudes no registro destas. Em outras palavras, a tecnologia Blockchain é como se fosse um livro razão de contabilidade pública (transações e saldos de contas) em que todas as movimentações são transmitidas entre os participantes da rede de forma descentralizada e transparente, porém, com informações anônimas de quem está fazendo a operação.

Uma vez que o usuário é associado a um número que somente ele conhece, e ninguém mais, o BitCoin passou a ser a moeda virtual preferida para fazer transações na “deep web” ou mesmo por criminosos de todos os tipos, pois fica praticamente impossível de ser rastreada.
No caso da nova moeda do Facebook, a “Libra Coin”, os registros das movimentações também devem ser por meio da tecnologia blockchain, através de uma rede de validadores supervisionadas pelos membros fundadores.

O propósito do Facebook em criar a nova criptomeda é bastante nobre, pois estima-se que dos mais de 2,7 bilhões de usuários dos mensageiros WhatsApp e Messenger (ambos do Facebook), nem todos têm acesso ao sistema bancário formal, fato este que limita bastante suas atividades comerciais e também de consumo. Além disso, outra área que pode ser muito beneficiada com a nova moeda é a mídia e notícias online, pois uma vez que elas têm utilizado cada vez mais o Facebook para distribuição de conteúdo, e que a remuneração tem se baseado em “pay per view” (pagar para ver), uma moeda virtual facilitaria os consumidores a “comprar” estes conteúdos online, e quem sabe até mesmo item reais anunciados na rede.

O que não está claro ainda é como nós, consumidores, poderemos ter acesso a esta moeda. Se será transferindo dinheiro para a rede como já é possível por meio de outros aplicativos disponibilizados por “Fintechs” brasileiras e estrangeiras, e também como os “donos do consórcio” irão lucrar com ela.

Contudo, é importante trazer para reflexão alguns pontos de atenção: Este grupo que está querendo promover a inclusão de bilhões de usuários em uma rede financeira paralela, é o mesmo que já se envolveu em muitos casos de quebra de privacidade, tanto de adultos quanto de menores. É acusado, ainda, de manipular a eleição de vários países por meio de publicações patrocinadas direcionadas, de tal modo a mudar a opinião sobre determinados candidatos e/ou temas em discussão.

Há de se considerar que se os planos da criação da “Libra Coin” e também de sua adoção forem exitosos, como se prevê, poderá estar sendo criada uma moeda mais forte do que a existente em muitos países emergentes, e que sua possível manipulação de cotação, por exemplo, poderia impactar negativamente na economia dos mesmos de forma danosa.

Mais dúvidas do que certezas até o lançamento. Enquanto as regras de aquisição e funcionamento não sejam claramente definidas, devemos ficar atentos aos riscos que esta nova moeda poderá criar aos países e organizações do planeta.

Porém, uma coisa é certa, assim como tem ocorrido em muitos setores, a tecnologia também irá revolucionar a forma com que as pessoas guardam e gastam seu dinheiro.
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