Até quando?

O Rio Grande do Sul, considerado um dos estados com melhor índice de escolaridade no Brasil, foi palco de uma barbárie. Um jovem militante do movimento gay do estado foi covardemente espancado e teve o rosto desfigurado. Em plena rua movimentada de Porto Alegre, homofóbicos espancaram, com requintes de crueldade, alguém pelo simples fato de transparecer uma condição sexual diferente da julgada por eles aceitável. O rapaz só não morreu por um milagre. Deixado inconsciente no meio da rua, não teve qualquer chance de defesa. Pelo que se vê, o crime ficará impune. Ou seja, como a homofobia ainda não se configura como crime hediondo, passa despercebida e não está entre as prioridades das investigações policiais. Espancar homossexuais não parece ser algo tão absurdo assim, para um país que até bem pouco tempo entendia ser legítimo um marido espancar sua esposa.

No Rio de Janeiro, outra situação degradante. Um casal homossexual foi agredido violentamente por dois taxistas clandestinos em plena luz do dia no aeroporto Tom Jobim. Ao se recusarem a aceitar os serviços não regulamentados, tiveram como resposta agressões físicas e verbais. As cenas são revoltantes, haja vista a desproporcionalidade física entre vítimas e agressores e, acima de tudo, o inusitado da situação. Ninguém espera que, ao recusar um serviço, em pleno aeroporto, será agredido. Mais um sinal da insegurança vivenciada atualmente no país. As greves dos policiais na Bahia e no Rio foram sintomas incontestáveis do caos. Interessante o fato de o governo tratá-las como vandalismo e coação. Quando o Partido dos Trabalhadores estava na oposição, greve era um direito legítimo, o qual o PT incentivava e financiava. Hoje, a presidenta trata grevistas como criminosos. Para quem já fez parte da luta armada, é uma mudança radical.

Em Altamira no estado do Pará, nova situação aviltante. Um professor foi violentamente espancado e enterrado vivo às margens de uma rodovia. O agressor inclusive mantinha um relacionamento com a vítima. A polícia paraense classificou o crime como uma tentativa de latrocínio, já que os agressores levaram pertences da vítima. Por sorte, como a cova em que fora depositado era rasa, o agredido conseguiu sair com vida. Literalmente, de norte a sul do Brasil, os crimes contra homossexuais parecem virar rotina. São atitudes desvinculadas de condição econômica, social ou cultural. O único elemento comum entre elas é o ódio e a intolerância. E o pior é a legitimação fornecida a essas práticas pelos movimentos religiosos conservadores. Ao tratarem a homossexualidade como doença e perversão, alimentam esse estado de animosidade.

Exemplos são fartos, os quais não caberiam nesse texto. Enquanto isso, mofa no congresso nacional a PEC 122, a qual versa sobre a criminalização da homofobia. A lei encontra-se parada em função da pressão dos cristãos fundamentalistas, sedentos pelo direito de continuar incitando o ódio contra o livre direito do ser humano de exercer sua sexualidade como bem entender. Revogam os próprios preceitos do livre arbítrio e do direito exclusivo a Deus de julgar os vivos e os mortos. O governo tem lavado as mãos sujas ao abraçar os anseios dos fanáticos. Recentemente, o Ministério da Saúde tirou da internet vídeos elaborados para conscientizar a juventude gay quanto ao uso da camisinha. Até quando vamos conviver com essas atrocidades institucionalizadas? Serão necessárias quantas mortes para criarmos uma nação realmente tolerante às diferenças?