Sobre aceitar-se

Como queiram; gosto de simplicidade, mas não de pessoas simplistas. Admiro pais, embora sejam criaturas estranhas; seremos pais, logo estranhos – qual o quê das coisas bagunçadas? Eu, particularmente, detesto bagunça.
Um cara sensato diria que sou esforçada. Eu diria que não tenho escolha. Estudantes me cansam; gosto de trabalho e de quem trabalha. Não invejo pseudo-ocupados. A mente ocupada funciona melhor. Faço psicologia. Ocupo-me bastante, tenho bastantes diligências.

Ter tempo é questão de não possuí-lo; quanto mais tempo, dar-se-á o ócio. O ócio não é bom, mas às vezes – digo, às vezes – faz falta. Preciso de férias, mas sou esforçada.
Algumas verdades me fazem rugir. Admito meus defeitos – os vários defeitos – tenho até, “orgulho” de tê-los. Orgulho é um defeito gravíssimo de minha pessoa. O difícil não consiste em enxergar, e sim, em ver e aceitar. Aceitar é complicado, entretanto, mais ainda, ter coragem para tomar a atitude necessária. Sou fraca.
Prefiro as letras às pessoas. Letras falam, exprimem, confessam. Pessoas resguardam, calam, e matam – “matamos aquilo que amamos”. Os poetas sentem mais; eu sofro em demasia, mas não sou poeta. Talvez devesse ser, psicologia não dá dinheiro, mas livros dão. Detesto auto-ajuda, e, novamente, faço psicologia. Sou contraditória.

Não entendo de política, mas sou contra os “ismos”: capitalismo, socialismo, comunismo. Sou contraditória: adoro parnasianismo, modernismo.
Português é imprescindível. Matemática é secundária. E, os humanos, descartáveis.
Tanto vale você, quanto o tênis que você usa. To valendo R$ 49,00. Uso All Star; aliás, nem todos que usam este tipo de calçado devem ser considerados emos. Rótulos são para gerar risos, e não contas quilométricas por um par de Nike Shox. Veja só, eu tenho um. E não me orgulho disto, nem envergonho, apenas possuo. Possuir é a alma do negócio, e não a propaganda. Como queiram; gosto de simplicidade, mas não de pessoas simplistas.

Moro por aí, com meu irmão, onde melhor o salário adequar. Não respondo ordens, gosto de ditá-las eu mesmo, a mim. Sou muito particular. Singular, realista e esforçada.
O esforço de gerar ter, poder ser o mesmo de acabar com aquilo que já se tem. É preciso aceitar, antes de tudo. Gosto de Carlos, de Chico e Elis. De mãe, de pai e de irmãos. De amigos – embora estes decepcionem as minhas ideologias. Para mim é muito fácil fazer amigos, difícil é mantê-los: não ligarei, não procurarei, não me esforçarei – me sobra a sutileza. Quando gosto, gosto. Erro em não demonstrar. Sou contraditória.

Na verdade, admiro a verdade. Mas de longe – sabe-se lá até que ponto aquela verdade é a minha verdade. Verdades são transitórias. Hoje, aqui, amanhã, acolá. “Minha terra tem palmeiras”.
Não sou daqui, nem queria ser. Prefiro os lunáticos felizes por suas alucinações, mas faço psicologia. Nem sei o porquê de fazer o que faço. Verbos me atraem. Pessoas me cansam. Pais são seres estranhos, mas são os melhores. Os melhores. Quanto aos animais, cativam-me os gatos. Cachorros são demais populares. Gatos, exóticos. Sou simples, mas não simplificada.