Quiet ambition: resignificação da ambição ou do modo de viver?

Que as novas gerações estão redefinindo o que significa ter sucesso profissional, todos já sabemos. As pessoas estão redirecionando suas prioridades e ambição para a vida pessoal em vez de buscarem uma ascensão ininterrupta na carreira profissional.

Em meio a essa transição, vem se disseminando a expressão “quiet ambition”, que em tradução literal significa “ambição silenciosa”.

A primeira menção a esse termo foi feita em uma reportagem da revista americana Fortune, publicada em abril de 2023. Um dos relatos que a Fortune recebeu foi de Austin Kleon, um escritor e desenhista, autor do best-seller Roube Como Um Artista: 10 Dicas Sobre Criatividade.

O escritor revelou ser uma dessas pessoas que estão tentando trabalhar mais por seus próprios objetivos, e disse o seguinte: “Eu não sei o que é quiet quitting (demissão silenciosa), mas gosto da ideia de quiet ambition (ambição silenciosa)”. A partir daí a expressão viralizou.

O quiet ambition tem sido discutido no contexto da insatisfação do trabalhador, do esgotamento, do desligamento e da tendência de não priorizar o trabalho em favor de outros aspectos da vida. Sob esse olhar, o significado de ambição vem sendo redefinido e, em nome da saúde física e mental, muitos profissionais estão, inclusive, rejeitando posições de liderança.

Assumir responsabilidades maiores por um pouco mais de dinheiro, sem sentir alguma realização pessoal, já não faria sentido. Encontrar um equilíbrio entre trabalho e outras coisas  da vida, sim.

Neste contexto, quiet ambition também designa a atitude do funcionário insatisfeito com o emprego que, em vez de pedir demissão, diminui sua produtividade, sua participação e engajamento na empresa.

Para os especialistas, a tendência está relacionada aos impactos da pandemia nos modelos de trabalho e nas pessoas. Isso porque muitos profissionais experimentaram uma mudança de perspectiva em relação ao trabalho, que passou a ocupar uma posição mais secundária na lista de prioridades, dando lugar a uma maior valorização do bem-estar.

Segundo a pesquisa Juventude e Pandemia, coordenada anualmente pelo Atlas das Juventudes no Brasil, 71% dos jovens dizem que a flexibilidade de horários é fundamental. Outros 76% afirmaram que a possibilidade de equilibrar melhor o trabalho com as questões pessoais é algo de que não pretendem abrir mão.

Na sua opinião, isso representa uma ressignificação da ambição? Ou da forma de encarar a vida e as prioridades?

 

*Consultora em atividades relacionadas a Inovação e Empreendedorismo e CEO da Integrative – Desenvolvimento Organizacional e Profissional. Possui Doutorado em Educação Cientifica e Tecnológica, Mestrado em Educação, Graduação em Serviço Social e Graduação em Pedagogia. Estuda as implicações sociais da Ciência e da Tecnologia, no intuito de debater sob uma perspectiva crítica, a equação civilizatória contemporânea e fomentar uma postura reflexiva na sociedade.