Prefeito decide se sanciona ou veta

Foto: Divulgação/Notisul
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Jailson Vieira
Tubarão

A intolerância religiosa é vista como um conjunto de ideologias e atitudes muito ofensivas a crenças e práticas de alguma denominação ou a quem não segue uma determinada religião. De certa forma, é um crime de ódio que fere a liberdade e a dignidade humana. Em algumas situações, este repúdio à religião inclui a violência física ou moral, e se torna uma perseguição.

Foi desta maneira que se sentiram seguidores da denominação de Matriz Africana, em Tubarão, nos últimos meses. O motivo, segundo eles, foi a não votação do Projeto de Lei 87/2016, de autoria do vereador Paulo Henrique Lúcio, o Paulão (PT), o qual  institui a data 23 de abril como Dia Municipal dos Cultos aos Orixás e das Religiões de Matriz Africana, e declara como patrimônio imaterial de Tubarão os cultos religiosos desta dominação. A iniciativa tramitou na Câmara da Cidade Azul por quase cinco meses, e a decisão para a aprovação da lei era postergada, e muitos adeptos garantiram que foi devido à intolerância religiosa de alguns edis.

Depois da aprovação da lei, na última quinta-feira, a sua proposição passará para a análise do prefeito Olavio Falchetti (PT), que poderá se manifestar nos próximos dias sobre a sua concordância ou não (sanção ou veto) em relação à matéria deferida pela Casa Legislativa. A expectativa é que ele sancione.

Conforme o dirigente espiritual Marcelo Corrêa, a importância do projeto é poder ter um dia para mostrar a cultura e crença dos negros e dos ancestrais, que lutaram pelo desenvolvimento do país. “Com a aprovação, podemos mudar a imagem da nossa religião, pelo contrário que e dito pelas ruas, ela não é uma religião a qual leva a destruição das pessoas, um pacto com demônios ou algo do gênero. Porém, trabalhamos com a força da natureza, os elementos naturais os quais estão vivos dentro de cada um. O ser humano se desligou de sua essência e da natureza. Nós do culto ao orixá buscamos isso e também para vida dos que seguem a religião ou daqueles que buscam somente um auxílio”, explica.

De acordo com o dirigente espiritual, a resistência ao projeto foi exaustiva e desnecessária. “O Brasil é considerado um país laico, porém alguns vereadores não se comportaram dessa maneira. Visivelmente eles batiam de frente com a normativa. Ela é constitucional e a quiseram tornar inconstitucional”, lamenta.

Evento será realizado no próximo dia 26
O dirigente espiritual Marcelo Corrêa salienta, que no próximo dia 26, haverá uma festa aberta ao público, desta forma, as pessoas poderão conhecer melhor a denominação religiosa. Ele conta que o evento Agand’jú Omídê a roda o Xirê dos Orixás ocorrerá no Reino de Xangô, em Tubarão.

Segundo ele, a roda dos Orixás ou Xirê, é o momento de dança, na qual a reza é ‘tocada’ em tambores para agradecer e pedir que os Orixás tragam a essência de cada uma para a vidas dos participantes do encontro.  “Por exemplo, o meu pai Orixá Xangô Agand’jú Omídê dono da justiça e do equilíbrio na vida de cada ser humano, pedimos que ele nos envie a sua essência, os elementos nos quais ele rege, o fogo e os trovões. Quem nunca escutou os antigos falarem quando havia raios e trovões, meu São Jerônimo e minha Santa Bárbara que nos proteja?  Isso no sincretismo católico, o que para nós seria o Orixá Xangô dono dos Trovoes e Iansã senhora dos raios”, esclarece Marcelo.

O dirigente explica que são 12 orixás e as danças que serão realizadas no encontro são em homenagens a eles. “ Eles nos ensinam que a cada momento que vivemos será um aprendizado. O nosso aprendizado não é de destruição, mas de reconstrução, o que um dia danificamos pela ignorância, poder e ganância”, resume.