Por que o filme Oppenheimer não tem lotado os cinemas como o da Barbie?

O filme “Oppenheimer“ – que foi lançado no Brasil no dia 20 de julho de 2023, mesmo dia do filme da Barbie – é um longa metragem dirigido por Christopher Nolan, de caráter biográfico e que retrata a história do físico J. Robert Oppenheimer e sua participação na criação de uma bomba atômica, em plena Segunda Guerra Mundial.

Julius Robert Oppenheimer (1904-1967) foi o físico teórico americano que dirigiu o Laboratório Nacional de Los Alamos durante a Segunda Guerra Mundial e normalmente é creditado como o “pai da bomba atômica” por seu papel no Projeto Manhattan, o empreendimento de pesquisa e desenvolvimento que criou as primeiras armas nucleares.

Conta a história que, Oppenheimer entrou para o Projeto Manhattan para otimizar os esforços coletivos e superar o desafio de se construir uma bomba atômica, antes dos nazistas — em 1942. Para isso, os cientistas liderados por ele, formavam o grupo mais talentoso de cérebros já reunidos em um único laboratório — 12 deles viriam a ganhar o Prêmio Nobel.

Obviamente, o filme vem sofrendo algumas críticas, sobretudo sobre o fato de retratar um cientista obcecado e pretensamente inocente, que se deixou enganar porque acreditava que estava fazendo algo bom, já que entendia que demonstrar ser capaz de construir uma bomba letal inibiria as guerras, pois todos teriam medo do potencial bélico dos EUA.
Mas essa conclusão só se pode tirar após ver o filme… E gostemos ou não, ele conta uma parte da história mundial, real…

Então volto a questão inicial: por que o filme Oppenheimer não lotou as salas de cinema como o da Barbie?

É lógico que não estou falando em insucesso, afinal segundo a Universal, nos 10 primeiros dias de lançamento  a produção já acumulava uma bilheteira de US$ 400 milhões, sendo no Brasil, o primeiro filme R-rated (+16 anos), a arrecadar mais de US$ 10 milhões por dez dias seguidos. Mas sem dúvida a expectativa, a adesão, o envolvimento, a repercussão foram e tem sido muito diferentes.

Vamos então a algumas hipóteses… Talvez por sua classificação indicativa (o da Barbie é 12 anos e o Oppenheimer, 16)? Talvez pela divulgação, que foi muito menor? Talvez porque em muitas salas/sessões foi disponibilizada apenas a versão legendada? Ou quem sabe foi pelo tema que é considerado pesado e mortal?

Pode ser… Tudo pode ser… E não pretendo achar e muito menos oferecer uma resposta, apenas incitar a reflexão e trazer outras hipóteses.

Quanto conhecemos ou conhecíamos de Oppenheimer (e inúmeros outros cientistas), sua história, trajetória, feitos? Quanto refletimos no dia-a-dia ou no ambiente escolar e acadêmico sobre os benefícios e implicações sociais da ciência e da tecnologia (afinal a bomba é um produto da C&T…)? Quanto somos acostumados a pensar e a discutir sobre os aspectos políticos e econômicos, que envolvem a proteção de um terrítório, de um povo e de suas riquezas e soberania?

Quanto e como somos questionados sobre as decisões tomadas em nosso nome, na defesa de outros países? Quanto fomos além dos noticiários, para tentar entender porque e o que está acontecendo entre Rússia e Ucrânia e tirar nossas próprias conclusões sobre quem é vítima e quem é algoz?

Creio que a resposta é: quase nada ou quase nunca!
Bom, então talvez aí estejam os indícios do sucesso do filme da Barbie em detrimento de Oppenheimer…

Conhecemos a Barbie – uns com mais intimidade, outros mais superficialmente – mas todos já ouvimos falar sobre ela, suas caracterísiticas, gostos… Por ser uma boneca, e portanto do mundo irreal, imaginamos não ser necessário refletir sobre a mensagem que carrega em si… Projetamos desejos de consumo, de comportamento, de amores, de biotipo, a partir da Barbie…

Ou seja, a Barbie nos coloca numa posição confortável, de meros expectadores; num lugar onde podemos entrar em sair sem nos comprometer, afinal ela é uma boneca, não é do mundo real.

Já o Oppenheimer, além de não ser amplamente conhecido, retrata a nossa natureza humana. Seu comportamento e intenções, justificáveis ou não, foram tomadas a partir de uma consciência que é inerente a todos nós; assim como o ego.
Talvez por isso (e por todos os outros motivos já elencados) o filme da Barbie tenha lotado as salas de cinema. Será?

 

*Luciana Flôr Correa Felipe, é Consultora em atividades relacionadas a Inovação e Empreendedorismo, possui Doutorado em Educação Cientifica e Tecnológica, Mestrado em Educação, Graduação em Serviço Social e Graduação em Pedagogia. Estuda as implicações sociais da Ciência e da Tecnologia, no intuito de debater sob uma perspectiva crítica, a equação civilizatória contemporânea e fomentar uma postura reflexiva na sociedade.

 

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