PESQUISA CLÍNICA: DA CONCEPÇÃO AO USO DE UM PRODUTO PARA SAÚDE

Fabiana Schuelter Trevisol
Coordenadora Adjunta PPGCS, professora e pesquisadora da Unisul
Coordenadora do Centro de Pesquisas Clínicas HNSC/Unisul

No mundo atual temos à disposição da área médica uma infinidade de tecnologias em saúde, que englobam medicamentos, vacinas, testes diagnósticos, dispositivos e procedimentos para fins preventivos ou terapêuticos, de forma a melhorar a condição de saúde e qualidade de vida da população.

Contudo, no passado, muitas destas tecnologias foram criadas a custas de procedimentos considerados antiéticos, na máxima de que “os fins justificam os meios”. Um dos maiores escândalos envolvendo o avanço da ciência às custas de vidas humanas ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial.

Diversos experimentos feitos com seres humanos propiciaram descobertas até hoje úteis, mas a que preço? Judeus, negros, ciganos, crianças com síndrome de Down, órfãos, prisioneiros, dentre outros, foram utilizados como cobaias humanas, sem qualquer direito e, na maioria das vezes, sacrificando-os durante ou ao final do estudo.

Felizmente o mundo evoluiu, e em 1947, quando os horrores da guerra foram socializados aos países considerados democráticos, criou-se o Código de Nuremberg, a fim de evitar que as pesquisas médicas repetissem essas atrocidades. Em 1964, a Associação Médica Mundial elaborou a Declaração de Helsinki, uma regulamentação internacional na condução de estudo clínicos, que tem sido atualizada e utilizada até os dias de hoje.

Por isso, os participantes da pesquisa não podem ser considerados “cobaias humanas” pela garantia de direitos que lhes é atribuída. Assim, qualquer estudo que envolva seres humanos, deve ser previamente aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa e os participantes precisam decidir e autorizar ou não sobre sua participação.

As tecnologias em saúde precisam ser testadas antes de incorporadas no arsenal de assistência à saúde. Então, no atual momento, temos enfrentado a pandemia da COVID-19 e muitas pessoas não compreendem por que criar uma vacina, ou mesmo comprovar cientificamente que um medicamento pode ajudar no manejo da doença, demora.

A razão é relacionada as etapas metodológicas necessárias a garantir um produto benéfico e com o mínimo de efeitos adversos possíveis. Para isso, é necessário utilizar-se da pesquisa clínica, que é aquela que envolve seres humanos.

Quando está se inventando uma tecnologia nunca utilizada, o tempo pode ser de 10 anos ou mais. Cada fase da pesquisa tem uma finalidade, um tempo de duração e um número mínimo de participantes, e envolve a garantia da segurança, dose e resposta imunológica, eficácia e efetividade do produto.

Mesmo se tudo der certo, ao final, quando o medicamento ou vacina forem registrados na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão regulatório de produtos para saúde no Brasil, é que ele será disponibilizado para uso por toda a população, a critério médico.

Ainda assim, podem ocorrer reações inesperadas. Lembrem-se: nenhuma intervenção é 100% segura para todos. Já tivemos a tragédia da talidomida, há pessoas que apresentam reações alérgicas ou intolerância, embora para a grande maioria das pessoas isso não aconteça.

Por isso, embora alguns problemas sejam urgentes, como numa pandemia, temos que ter cautela e ética no uso e na defesa de tecnologias em saúde ainda não comprovadas cientificamente. Isso leva tempo, embora possamos utilizar o chamado tratamento compassivo entre medicamentos que já são registrados na ANVISA.

Ainda assim, quando o uso daquela substância não for comprovada pela ciência como eficaz e segura no caso de uma doença específica, é necessário o consentimento do paciente ou familiar.

Importante ressaltar que cada indivíduo é um ser único, e nem sempre o que funciona um caso, se aplica a todos. E ainda assim, a beleza da ciência é que ela é dinâmica. Todos os dias, milhares de artigos científicos e pesquisas são publicadas comprovante ou refutando hipóteses. E o que nós cientistas queremos: somente salvar o mundo!

 

Você sabia?

Que o Centro de Pesquisas Clínicas do Hospital Nossa Senhora da Conceição e Universidade do Sul de Santa Catarina já participou e liderou diversas pesquisas clínicas em nossa cidade?

 

Fique atento!

Embora a mídia séria procure divulgar resultados de pesquisas de uma forma mais didática à população, é necessário conhecimento técnico e científico na análise crítica destas informações.